Uma glândula com forma semelhante a uma borboleta, e que está localizada logo abaixo do pomo de Adão, o popular gogó. Com aproximadamente 13 gramas, localizada entre o pescoço e a região torácica, a tireoide tem papel fundamental nos processos fisiológicos de todo o corpo. A glândula atua na regulação do metabolismo das pessoas, seja no desenvolvimento do cérebro e crescimento, ou para manter as funções vitais, como a respiração, circulação e digestão.

É ela quem garante o bom funcionamento de vários órgãos, como coração, fígado, rins e ovários, pois produz os hormônios denominados triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que são como combustíveis das células do nosso organismo. Mudanças em diferentes sistemas do organismo podem ter um único motivo: a alteração na produção dos hormônios da tireoide.  A falta ou o excesso de produção da T3 e T4 podem fazer com que a tireoide produza esses hormônios em excesso ou em quantidade insuficiente, causando o hipotireoidismo ou hipertireoidismo.

No mundo, a estimativa é de que 200 milhões de pessoas tenham problemas da tireoide. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, aproximadamente 10% das mulheres acima de 40 anos e 20% das acima de 60 anos manifestam alguma complicação na glândula. Nos homens, é mais comum desenvolver hipotireoidismo a partir dos 65 anos, mas vale reforçar que pessoas de todas as idades estão sujeitas a desenvolver doenças ligadas à tireoide.

Distúrbios da tireoide podem afetar a qualidade de vida do paciente, trazendo alterações como ganho ou perda de peso, cansaço e, até mesmo, depressão. Mas para avaliar se alguns desses sinais ou sintomas são causados por uma disfunção da tireoide é necessário realizar exames como avaliação do TSH e eventualmente uma ultrassonografia ou outros exames”, afirma Laura Ward, médica endocrinologista. 

Entre os dias 20 a 25 de maio, acontece a Semana Internacional da Tireoide, que traz à população mais informações sobre as doenças da tireoide, seus sinais e sintomas. ViDA & Ação ouviu quatro especialistas a respeito do tema – as endocrinologistas Laura Ward, Claudia Liboni, Vivian Estefan e Dhiãnah Santini. Confira!

Atenção para as fórmulas de emagrecimento

Endocrinologista do Centro Médico do Hospital Pró-Cardíaco, a médica Dhiãnah Santini chama a atenção para os sintomas das disfunções tireoidianas – como o hipertireodismo e o hipotireoidismo – e alerta as pessoas sobre o uso exagerado de exames sem indicação e de fórmulas para emagrecimento manipuladas com hormônios da tireoide, usadas para acelerar o metabolismo. “Isso é desaconselhável e proibido”, destaca a especialista.

Entre os sintomas do hipertireoidismo (quando a tireoide produz hormônio em excesso) estão perda de peso, alteração de apetite, taquicardia, ansiedade, intolerância ao calor, fadiga e, nas mulheres, alteração da menstruação. Já o hipotireoidismo (quando a glândula não produz hormônio suficiente para as necessidades do corpo) leva a um metabolismo mais lento e causa ganho de peso, cansaço, lentidão no funcionamento do intestino, sonolência e anemia.

“O nível do hormônio da tireoide no sangue é tão importante que já é examinado no teste do pezinho, no sétimo dia de vida do bebê”, ressalta Dhiãnah. Além dos recém-nascidos, há outros grupos para os quais é indicada a realização do exame de dosagem do TSH, que detecta alterações nos níveis do hormônio estimulante da tireoide: gestantes; indivíduos acima de 35 anos – com repetição a cada cinco anos; pessoas que já passaram por cirurgia de pescoço ou tireoide ou por tratamento de radiação da tireoide; e indivíduos com história prévia de doença na glândula ou com sintomas que possam sugerir a sua disfunção.

Conheça as doenças da tireoide

O mau funcionamento da glândula pode causar problemas em órgãos importantes como coração, cérebro, fígado e rins. Dentre as doenças da tiroide estão o hipertireoidismo, hipotireoidismo e o câncer de tireoide. A endocrinologista do Hospital Santa Paula, Claudia Liboni, explica cada uma dessas doenças:

Hipertireoidismo: se desenvolve quando há uma produção excessiva dos hormônios da tireoide – T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). A causa mais comum é a chamada Doença de Graves, que faz com que o sistema imunológico produza anticorpos que estimulam a glândula. O excesso de iodo presente em alguns medicamentos também pode acarretar no hipertireoidismo.

Os principais sintomas, no caso da Doença de Graves, são aumento dos batimentos cardíacos, suor excessivo, tremor de extremidades, perda de peso (mesmo, às vezes, com aumento de apetite), intestino solto, alterações menstruais, fraqueza, queda de cabelo, insônia e ansiedade. Estes podem ser sinais do excesso de hormônios da tireoide. Além disso, a doença pode afetar também globo ocular, levando ao aparecimento de olhos saltados, que doem quando movimentados, ficam vermelhos, lacrimejando e com desconforto quando expostos à luz.

O tratamento pode ser feito com medicamentos como o metimazol ou o propiltiouracil (PTU), para abaixar os níveis dos hormônios tiroidianos, iodo radioativo ingerido em líquido ou em cápsulas e captado pelas células tiroidianas, que serão destruídas, ou cirurgia para remover a glândula que produz excessivamente os hormônios.

Hipotireoidismo: se desenvolve quando há uma queda na produção dos hormônios da tireoide T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Muitas vezes, o hipotireoidismo é causado por uma inflamação conhecida como “Tireoidite de Hashimoto”, relacionada à falta ou ao excesso de iodo na dieta. A doença também ocorre após cirurgia de retirada da tireoide, após tratamento com iodo radioativo ou com radioterapia na região do pescoço.

De acordo com o Instituto da Tireoide, uma em cada 10 mulheres com mais de 65 anos apresenta sinais de hipotireoidismo. São eles: depressão, cansaço, diminuição dos batimentos cardíacos, intestino preso, menstruação irregular, falhas de memória, dores musculares, pele seca, queda de cabelo, ganho de peso (por retenção de líquidos) e aumento de colesterol no sangue. O hipotireoidismo é tratado com reposição hormonal, feita por meio de medicação oral diária.

Câncer de tireoideo histórico de radiação na região do pescoço e de casos deste tipo de câncer na família são fatores de risco para que se desenvolva o tumor. A grande maioria dos nódulos de tireoide é benigna, mas quando são muito grandes ou estão associados ao aumento dos gânglios linfáticos e/ou à rouquidão, aumenta-se a suspeita de um tumor maligno na tireoide. O tratamento deste tipo de câncer é cirúrgico, pela retirada total da glândula e, em alguns casos, com complementação terapêutica com o iodo radioativo.

Para diagnosticar as alterações hormonais da tireoide, exames de sangue devem ser feitos a partir dos sintomas clínicos ou de rotina em pacientes de risco. Já nos casos de aumento do volume do pescoço ou aparecimento de nódulos, o exame mais indicado é um ultrassom de tireoide. Surgindo alguma alteração, um especialista deve ser procurado”, afirma a Dra. Claudia.

As causas mais frequentes

De acordo com a endocrinologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Vivian Estefan, as causas mais frequentes para esses problemas são hereditárias e genéticas. Sinais claros e opostos caracterizam as doenças, no caso do hipotireoidismo, a falta de produção dos hormônios tende a diminuir o ritmo do metabolismo. Por isso, sonolência, desânimo e lentidão são algumas características detectadas.

Ainda de acordo com a endocrinologista, sintomas em outros sistemas do corpo também podem acontecer. “O paciente apresenta intolerância ao frio, desaceleração dos batimentos cardíacos e ganho de peso, pois o metabolismo fica mais lento. Além disso, pode ocorrer interferência na digestão, deixando-a mais demorada”, salienta.

No caso da produção em excesso dos hormônios, o hipertireoidismo, há uma aceleração do metabolismo. Nesta situação, os indícios são de nervosismo, insônia, impaciência, transpiração excessiva e digestão rápida, podendo ocorrer diarreia.

Vivian Estefan alerta que essa rapidez do metabolismo acarreta, em alguns casos, consequências mais graves, como a taquicardia e arritmias. “O perigo do hipertireoidismo está no fato provocar uma parada cardíaca súbita. No hipotireoidismo a mesma situação pode levar ao coma, porém este é um processo mais lento e gradual”, complementa a médica.

O tratamento difere de acordo com o diagnóstico. Para os pacientes com falta de hormônios, é necessária a reposição hormonal. Já para quem sofre com o excesso da produção, a endocrinologista explica que podem ser três opções. “O hipertireoidismo é controlado por meio de medicamento de forma oral, uso de iodo radioativo e, em casos especiais, cirurgia”, finaliza.

Mitos e verdades sobre disfunções da tireoide

Laura Ward afirma que para identificar a doença, os exames de sangue são os grandes aliados. “Com o resultado e ajuda médica, é possível explorar as opções de tratamento mais adequadas para cada estágio”, aponta a especialista, que enumerou seis mitos e verdades sobre a questão.

Oscilações de peso, suor excessivo e unhas frágeis podem indicar problemas da tireoide

Verdade – O ganho ou perda repentino de peso pode indicar problema da tireoide, já que isso é um dos sinais físicos da doença. O excesso de suor e sensação de calor podem ser sintomas de uma tireoide hiperativa. Além disso, unhas, secas e frágeis, que quebram facilmente, olhos secos e com sensação de areia nos olhos e também cabelos secos e que caem frequentemente são outros sinais e sintomas a serem observados.

O hipotireoidismo pode causar depressão

Verdade – Tanto a depressão quanto a ansiedade podem indicar um possível caso de distúrbio na tireoide. Ambas as condições devem ser levadas a sério, e a ajuda médica é importante para definir o melhor tratamento para cada situação.

Todo nódulo de tireoide é câncer

Mito – Um caroço é o principal sinal do câncer de tireoide, mas isso não representa necessariamente malignidade. Segundo a Dra. Laura Ward, é preciso procurar um médico para ter o diagnóstico. “Na sua maioria, os nódulos são benignos, mas uma consulta médica é necessária para tal avaliação”, aponta a endocrinologista.

O cansaço é o principal sintoma das doenças da tireoide

Mito – Apesar de ser um dos principais sintomas, o cansaço não se liga diretamente à tireoide, já que é necessário associar vários fatores para conseguir um diagnóstico definitivo. Uma das dificuldades na identificação das alterações na tireoide é a variação dos sinais e sintomas que podem estar presentes. Como a glândula funciona como um painel de controle do corpo, seu funcionamento inadequado pode causar diversos tipos de sinais e sintomas.

Pessoas com irritabilidade, falta de concentração e perda de memória podem estar sofrendo com a doença

Verdade – Alguém que se irrita facilmente com as pessoas ou pequenas coisas sem motivo, tem dificuldade para lembrar das coisas, focar em uma tarefa ou pensar em várias coisas ao mesmo tempo pode estar com distúrbios da tireoide, seja o hipotireoidismo ou hipertireoidismo.

Algumas pessoas têm mais chances de ter problemas de tireoide

Verdade – Os distúrbios da tireoide podem afetar homens e mulheres em qualquer idade, apesar de serem mais comuns em mulheres – elas são até 10 vezes mais propensas que os homens a desenvolvê-los. O hipotireoidismo atinge, em média, mulheres entre 40 e 50 anos. Já o hipertireoidismo é mais frequente no público feminino de 20 a 40 anos. Além disso, pessoas mais idosas, que passam pelas modificações naturais do processo de envelhecimento e também podem apresentar sinais e sintomas similares aos vistos nos pacientes com distúrbios da tireoide, como perda da audição, problemas digestivos, dores musculares e fraqueza.

Da Redação, com Assessorias

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