O Dia do Médico (18 de outubro) traz uma boa e uma má notícia para boa parte da população que depende desses profissionais para, literalmente, sobreviver. O Brasil mais que dobrou o número de médicos nos últimos 10 anos. Passou de 239 mil, em 2004, para cerca de 576 mil, em 2024. Atualmente, o país conta com quase três profissionais para cada mil habitantes.
Os dados fazem parte do estudo Demografia Médica no Brasil divulgado, nesta terça-feira (15), em Brasília, peloConselho Federal de Medicina (CFM).  Entre 2010 e 2024, o Brasil duplicou, na maioria dos estados, o número de médicos por habitante. O estudo mostra que 13 estados já superam países como Estados Unidos e Japão em densidade médica.
Mas essa conquista esbarra em uma realidade cruel: a distribuição desigual desses profissionais pelo território nacional.  Enquanto capitais 23% das capitais concentram 52% dos médicos do Brasil – uma média de 7 médicos por mil habitantes, o dobro da média dos 38 países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o interior amarga uma escassez preocupante, com apenas 1,9 médico para cada mil pessoas.
De acordo com o presidente do CFM, José Hiran Gallo, isso ocorre porque as capitais têm condições melhores de trabalho, condições salarias e condições de vida melhor para que os médicos possam ficar. “Por isso que muitos médicos procuram as capitais. E, com isto, fica a dever aqueles municípios mais distantes, onde não tem uma política pública para favorecer o médico estar presente naquele município”, justifica.
A disparidade escancara a profunda desigualdade que assola o sistema de saúde brasileiro e pesa, essencialmente, sobre a população de depende do Sistema Único de Saúde (SUS) e não tem recursos para recorrer a clínicas particulares. Hoje, quase 75% da população depende do SUS e 25%, em média, da saúde suplementar (planos de saúde).
Para o presidente da Associação Brasileira de Médicos com Expertise de Pós-Graduação (Abramepo), Eduardo Teixeira, o problema é sintoma de uma doença crônica: a disparidade urbana e social.
Cidades pequenas e interioranas se tornam armadilhas para médicos. Falta infraestrutura para exercer a Medicina, serviços e qualidade de vida comparáveis aos grandes centros, perpetuando um ciclo vicioso de escassez”, critica.

Mais da metade dos médicos está na Região Sudeste

Região mais populosa do Brasil, com cerca de 80 milhões de habitantes e densidade demográfica de 92,05 habitantes/km², o Sudeste concentra 51% dos médicos do país e o Norte apenas 8%. São Paulo é o estado com o maior número de médicos, mais de 165 mil. Minas Gerais e Rio de Janeiro possuem cerca de 70 mil, cada.

Nas últimas colocações aparecem Acre, Roraima e Amapá com total de médicos entre 1500 e 1100.  Ainda, de acordo com o estudo, em 13 estados o número de médicos dobrou ou mais entre 2010 e 2014, caso do Piauí, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. 

Para o conselheiro federal do CFM, Estevam Rivello, não faltam médicos no país. Ele cobra melhoria na gestão para reter os profissionais em regiões carentes.

Não dá para comparar má gestão do serviço público com falta de médico no Brasil, que hoje não existe. Hoje, com segurança, um município que não tem um posto de saúde com médico, tem que ver quais são os motivos que isso está acontecendo. Porque há profissional suficiente. Aí compete aos gestores entregarem à população esse acesso ao serviço”.

Segundo ele, a desigualdade na distribuição de profissionais acaba criando algo absurdo e que deve ser combatido, a chamada ‘medicina de segunda classe’ para uma ‘população de segunda classe’. Quem tem dinheiro, paga por médicos particulares. Quem não tem, espera até anos por consultas e cirurgias
Teixeira aponta que a formação inadequada oferecida em muitas escolas de medicina não prepara os médicos para a realidade das regiões menos favorecidas. “Em muitos lugares a infraestrutura é tão precária que desestimula os médicos a atuarem. Isso, somado à baixa atratividade das cidades menores, acaba empurrando os médicos para os grandes centros”, diz.
A solução, segundo o presidente da Abramepo, passa por investimentos robustos em pós-graduação de qualidade e incentivos reais para atrair e fixar médicos em áreas remotas. Os investimentos em pós-graduação são importantes para ampliar a formação de especialistas no Brasil.
Sem políticas públicas eficazes que promovam a equidade no acesso à saúde e valorizem os profissionais que atuam em regiões menos favorecidas, continuaremos a assistir a um nivelamento por baixo da medicina brasileira. Quem pode pagar, terá acesso aos melhores profissionais que o Brasil produz. Isso divide a população em categorias e amplifica a já absurda desigualdade social”, alerta o presidente da Abramepo.
O Brasil precisa garantir que o exército de médicos em formação seja distribuído de forma justa, combatendo a desigualdade e garantindo saúde de qualidade para todos, independentemente de sua localização geográfica. Afinal, de que adianta um batalhão de médicos se ele se concentra em apenas um ponto do campo de batalha?
Com informações do CFM e Abramepo
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