A Diabetes mellitus (DM) impacta a vida de milhões de brasileiros e, sendo uma doença crônica não transmissível, faz com que o cuidado com a saúde bucal seja de extrema importância para todos os pacientes. Dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF) apontam Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de países com maior número de pessoas diagnosticadas com diabetes.
São 16,8 milhões de adultos afetados pela doença – a maioria mulheres – e até 2040, estima-se que 640 milhões de adultos tenham diabetes no mundo. A Sociedade Brasileira de Diabetes estima que mais de 46% da população não sabem que têm a doença. Além dos danos ao sistema metabólico, o diabetes também está diretamente relacionado à saúde bucal.
Causadora de múltiplos danos à saúde do organismo, o diabetes acontece quando o corpo não produz a quantidade suficiente de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, ou nos casos em que existe uma perda de sensibilidade das células em relação à insulina, ocasionando aumento dos níveis de glicose no sangue – que trazem prejuízo aos processos de cicatrização e de imunidade do paciente.
Fabiana Cavallini Magalhães, mestre e especialista em periodontia e em prótese dentária da Clínica Omint Odonto e Estética, alerta para os riscos que a doença pode representar para a saúde oral e ressalta a importância das consultas regulares ao dentista.
Pessoas com diabetes precisam redobrar a atenção com a higiene bucal, pois as doenças locais não apenas pioram a saúde dos dentes, mas também impactam diretamente o controle da glicemia e aumentam o risco de distúrbios associados à condição”, explica a Dra. Fabiana.
Entre os distúrbios mais comuns estão a gengivite e a periodontite, inflamações que afetam as gengivas e os ossos da arcada dentária. “Essas condições são agravadas quando o diabetes não está bem controlado, o que pode elevar os níveis de glicemia”, acrescenta a especialista.
A xerostomia, ou sensação de boca seca, é outro problema recorrente, causado pelo uso de medicamentos que reduzem o fluxo salivar, facilitando o acúmulo de bactérias e o aparecimento de cáries e infecções.
“Assim como o diabetes afeta a saúde bucal, problemas orais podem liberar substâncias inflamatórias que elevam a glicemia, dificultando o controle da doença e aumentando o risco de desordens cardiovasculares e renais.” A Dra. Fabiana destaca, ainda, que a qualidade de vida dos pacientes pode ser prejudicada, dificultando a mastigação, a fala e a confiança no convívio social.
As complicações da diabetes
Existem vários tipos de Diabetes mellitus, sendo os tipos 1 e 2 os mais comuns. DM tipo 1 apresenta diagnóstico na infância, devido a não produção de insulina pelo pâncreas (caso em que o paciente deve realizar aplicações de insulina), enquanto o DM tipo 2 manifesta um quadro clínico de resistência insulínica, sendo observado em pacientes adultos, com tratamento de medicamentos hipoglicemiantes orais.
A dentista .Juliana Franco, presidente da Câmara Técnica de Odontologia Para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), explica que, independentemente do tipo de DM que o paciente apresenta, a falta de controle glicêmico causa inúmeros danos ao organismo, como doença renal crônica, perda de visão e amputações de membros.
O tratamento para diabetes deve ser feito por meio da normalização dos níveis de glicose; isso inclui mudanças no estilo de vida e uso de insulina ou de medicamentos orais que são importantes para o controle glicêmico. A especialista esclarece que pacientes que apresentam focos de infecção ou de inflamação vão modular as doenças e impactar de forma negativa no controle glicêmico.
Segundo ela, pacientes que apresentam uma condição bucal insatisfatória, com múltiplos focos de infecção, mesmo com aderência ao tratamento médico, fazendo dieta, exercício físico e uso de medicamentos podem apresentar dificuldade de controle glicêmico e controle dos sinais e sintomas da doença.
Odontologia e diabetes
A avaliação e o tratamento odontológico, esclarece a cirurgiã-dentista, são importantes no paciente diabético porque melhoram a condição periodontal, removem os focos de infecção bucal e devolvem a saúde bucal, possibilitando que o organismo tenha condição de estabilização do quadro glicêmico.
Hoje a gente sabe da importância do tratamento odontológico na remoção de focos de infecção e na compensação da doença diabetes. Quando se tem um paciente que apresenta múltiplos focos de infecção, isso vai impactar na descompensação do diabetes”, esclarece a Dra. Juliana.
Dra. Juliana acrescenta, ainda, que todo foco de inflamação da infecção periodontal ou periapical modula as doenças e aumenta o risco das infecções respiratórias e de doenças cardiovasculares. Também aumenta o risco de descompensação do controle glicêmico, pode promover parto prematuro e levar a uma disbiose intestinal, o que mostra a necessidade de se entender a importância da saúde bucal no contexto de saúde geral.
Outro ponto que a profissional chama atenção é que o DM descompensado aumenta o risco de doenças bucais, como a doença periodontal, que pode se apresentar ampliada neste grupo de paciente – causando um círculo vicioso, em que a doença bucal descompensa o quadro glicêmico, e este leva ao aumento da atividade da doença periodontal, assim como no aumento no número de cárie, hipossalivação e de infecções oportunistas bucais.
Tratamentos específicos
A especialista recomenda atenção especial para quem vive com diabetes, especialmente diante de sinais como gengiva inchada ou avermelhada, sangramento ao escovar ou mastigar, dor de dente, mau hálito persistente e até mudanças no paladar.
Pacientes diabéticos podem realizar tratamentos odontológicos convencionais, mas é importante que o dentista esteja ciente das condições clínicas do paciente. Procedimentos como implantes dentários e cirurgias orais podem ter um risco maior em pessoas com diabetes descompensado. “A cicatrização desses pacientes é mais lenta e existe um grande risco de infecção”, alerta a Dra. Fabiana. “Diabéticos controlados podem ser tratados de maneira convencional”, complementa.
Cuidados bucais para diabéticos
Para evitar complicações, a Dra. Fabiana recomenda que pessoas com diabetes mantenham uma rotina de higiene bucal rigorosa, incluindo a escovação dos dentes pelo menos três vezes ao dia, com escovas macias, uso de fio dental e de antissépticos bucais. O flúor também é fundamental, pois oferece maior proteção contra as bactérias e o desgaste do esmalte dental. Além disso, é preciso evitar o consumo excessivo de açúcares e consultar o dentista regularmente.
A Clínica Omint Odonto e Estética reforça a necessidade de incluir exames odontológicos completos no plano de cuidado para pessoas com diabetes, conforme orientam as principais diretrizes de saúde. “Investir na saúde bucal é, também, melhorar o controle do diabetes e prevenir os riscos de longo prazo”, conclui a Dra. Fabiana.
Cuidados com pacientes com diabetes
Juliana Franco alerta sobre a importância do cirurgião-dentista na aferição dos sinais vitais antes do início da consulta, com a medição da pressão arterial e realização da glicemia capilar, também chamado de dextro. É importante se atentar aos sinais que possam se enquadrar no diabetes, como os sintomas de dormência nos lábios, na língua e na face.
O profissional pode aferir a glicemia do paciente, tendo uma possível hipótese de casos de diabetes e encaminhá-lo ao colega médico para o diagnóstico definitivo e início do tratamento”, explica a Dra. Juliana Franco.
Vale ressaltar que, mesmo que a diabetes esteja descompensada, é importante realizar o tratamento odontológico, pois ele também faz parte do tratamento da doença, principalmente para auxiliar em sua compensação.
Sendo assim, é de extrema importância que os pacientes com diabetes façam consultas regulares com o cirurgião-dentista, independente da condição de compensação da doença ou não, para que seja mantida a saúde bucal e melhora da condição sistêmica do paciente.
A Odontologia tem papel importante no diagnóstico precoce de diabetes e no tratamento odontológico, modificando a doença em si e ajudando o paciente na diminuição das sequelas que ela provoca”, conclui a Dra. Juliana Franco.
Com Assessorias