No universo do skincare, o termo “pele sensível” é uma constante. Porém, para milhões de pessoas, essa sensibilidade faz parte de uma condição que exige cuidados ainda mais especiais: a dermatite atópica. Longe de ser uma simples alergia ou um ressecamento passageiro, trata-se de uma doença inflamatória crônica, de base genética e não contagiosa. Ela se manifesta em um ciclo desafiador de pele extremamente seca, lesões avermelhadas e uma coceira persistente que afeta o sono, o bem-estar e a autoconfiança.

No dia 23 de setembro é celebrado o Dia Nacional da Dermatite Atópica, data que reforça a importância da conscientização sobre essa condição crônica que afeta a pele de milhões de brasileiros. Aproveitando também o destaque internacional proporcionado pelo Dia Mundial (14/09), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) intensifica ações de informação sobre os sinais, sintomas, diagnóstico e prevenção.

De acordo com a SBD,dermatite atópica pode aparecer acompanhada de outras formas de atopia como asma, rinite ou conjuntivite, embora essas não precisem ocorrer ao mesmo tempo. Ainda segundo a entidade, alguns fatores podem agravar essa condição, como sudorese excessiva, baixa umidade no ambiente, roupas de lã, tecidos sintéticos e ásperos em contato direto com a pele, banhos demorados com água quente, uso de sabonetes em excesso (associado ou não ao uso de buchas) e situações de estresse.

Caracterizada por inflamação cutânea, coceira intensa, vermelhidão e ressecamento, a dermatite atópica pode comprometer não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida e o bem-estar emocional dos pacientes. Embora não tenha cura definitiva, a doença pode ser controlada por meio de acompanhamento médico adequado e cuidados contínuos, que incluem hidratação da pele, uso de medicamentos específicos e mudanças no estilo de vida”, diz Samara Kouzak, médica dermatologista, especialista em dermatologia clínica e estética avançada, e membro da SBD.

Os impactos emocionais da doença inflamatória crônica

Entidade também reforça a importância do diagnóstico e tratamento com dermatologistas

Segundo Renata Magalhães, membro da SBD, a doença é caracterizada por áreas de ressecamento e descamação da pele, que podem apresentar vermelhidão, coceira intensa e até vesículas com saída de líquido durante as crises. Embora possa se manifestar em qualquer fase da vida, é mais comum na infância.

A dermatite atópica vai muito além de uma simples irritação de pele. É uma doença inflamatória crônica, com impacto significativo na qualidade de vida, especialmente em crianças, que muitas vezes enfrentam limitações sociais e emocionais por conta dos sintomas”, explica a médica dermatologista Renata Magalhães.

Ela destaca que a coceira intensa (prurido) é o sintoma mais marcante da DA, e que pode causar distúrbios de sono, ansiedade e até queda de rendimento escolar nas crianças. “O sofrimento muitas vezes é silencioso, porque os sinais visíveis da doença nem sempre revelam a dimensão do incômodo físico e emocional que ela provoca no paciente”, reforça Renata.

‘Não é um problema de contágio ou falta de higiene’, diz dermatologista

Tratamento envolve uso de dermocosméticos emolientes, sem fragrância, hipoalergênicos e não comedogênicos

O diagnóstico é clínico e deve levar em consideração o histórico familiar, especialmente de doenças como rinite e asma, além de fatores ambientais e emocionais. O sintoma mais emblemático e o grande incômodo da dermatite atópica é a coceira intensa e persistente. Essa sensação, que muitas vezes piora durante a noite, desencadeia um ciclo vicioso: coçar alivia momentaneamente, mas agrava a inflamação e danifica ainda mais a barreira da pele.

Visualmente, a condição se manifesta através de uma pele cronicamente seca e pelo surgimento de lesões avermelhadas e ásperas, conhecidas como eczemas. Essas áreas inflamadas são mais comuns nas dobras dos braços e joelhos, pescoço e pulsos e, em fases agudas, podem apresentar descamação, pequenas bolhas ou até mesmo crostas.

É importante entender a dermatite atópica como uma doença inflamatória de origem genética, e não um problema de contágio ou falta de higiene. Na prática, ela é, em sua essência, uma falha na barreira de proteção natural da pele. Quando essa deficiência acontece, a pele se torna mais suscetível à perda de água e à entrada de agentes irritantes, desencadeando um processo inflamatório”, explica a dermatologista Paula Belotti.

dermatite atópica não tem cura, mas pode ser controlada com acompanhamento médico dermatológico contínuo e cuidados diários. O tratamento envolve desde a hidratação intensiva da pele até o uso de medicamentos como corticosteroides tópicos e, em casos mais graves, imunobiológicos.

Banhos curtos com água morna, uso de sabonetes suaves e hidratação imediata da pele são medidas básicas, mas que fazem muita diferença. Já nos casos moderados a graves, existem protocolos bem estabelecidos que podem oferecer controle efetivo da doença”, orienta Renata. “Procurar um dermatologista ao primeiro sinal de sintomas é essencial para evitar agravamentos e melhorar a qualidade de vida do paciente e de sua família”, conclui.

Segundo Paula Belloti, o pilar fundamental é a rotina de cuidados, focada em restaurar e proteger a barreira cutânea. Isso se traduz em hidratação intensa e constante, com o uso de dermocosméticos emolientes, sem fragrância, hipoalergênicos e não comedogênicos, aplicados generosamente pelo corpo, especialmente após o banho e nas áreas mais afetadas.

O acompanhamento da dermatite atópica se apoia em duas frentes: o cuidado diário e o gerenciamento das crises agudas. O primeiro é responsabilidade do paciente e envolve a hidratação constante e a escolha de produtos adequados para fortalecer a barreira da pele. O segundo pilar é onde o dermatologista atua, prescrevendo tratamentos específicos, como anti-inflamatórios tópicos, para controlar a inflamação de forma segura e eficaz”, complementa a médica.

Ampliação do tratamento da dermatite atópica no SUS

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) reconhece como um avanço importante a recente atualização dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o tratamento da Dermatite Atópica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Após um longo período sem revisões, a incorporação, ocorrida em maio deste ano, de três medicamentos – dois tópicos, tacrolimo e furoato de mometasona e o metotrexato para uso sistêmico – representa uma evolução no cuidado aos pacientes que convivem com a doença.

Ainda assim, a SBD reforça que essas atualizações, embora relevantes, não contemplam de forma plena os casos graves de Dermatite Atópica, especialmente entre a população adulta. A entidade lembrou que há estão disponíveis no Brasil, com aprovação da Anvisa e incorporação ao rol da ANS, terapias alvo-específicas como o dupilumabe — medicamentos que têm se mostrado eficazes na modificação do curso da doença e na melhora expressiva da qualidade de vida dos pacientes.

A Portaria SECTICS/MS nº 48, de 3 de outubro de 2024, aprovou a incorporação do uso do dupilumabe para crianças e do upadacitinibe para adolescentes com formas graves de Dermatite Atópica. Contudo, esses tratamentos ainda não foram efetivamente disponibilizados na rede pública.

Nesse contexto, a SBD manifestou sua “preocupação com a ausência de opções terapêuticas modernas e eficazes para os adultos que enfrentam formas severas da doença, o que compromete os princípios de equidade e integralidade preconizados pelo SUS.
A entidade também se colocou à disposição para “colaborar tecnicamente com o Ministério da Saúde na formulação e aprimoramento de políticas públicas que assegurem acesso universal, seguro e digno a todos os pacientes com dermatite atópica no Brasil”.

Com Assessorias

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