Potencialmente fatal, a meningite é uma inflamação das meninges — as três membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal — e pode ter diferentes causas, sendo as mais comuns as infecções por vírus e bactérias.

Elas também podem ser causadas por fungos e parasitas e até mesmo ter origem não infecciosa, como em casos de câncer com metástase nas meninges, lúpus, reações a medicamentos e traumatismos cranianos.

As formas virais da doença tendem a ser menos graves, enquanto as bacterianas exigem atenção imediata devido ao seu potencial letal. As meningites bacterianas são mais frequentes no outono e inverno, enquanto as meningites virais predominam nas estações da primavera e do verão.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2025, o Brasil registrou, até o momento, 4.406 casos confirmados de meningite, sendo 1.731 do tipo bacteriana, 1.584 do tipo viral e 1.091 por outras causas ou de tipos não identificados.

O que pouca gente sabe é que essa condição também pode surgir como uma complicação de infecções aparentemente simples, como as otites médias — infecções do ouvido médio. De acordo com Kátia Virginia, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, há uma conexão direta entre infecções do ouvido e meningite.

A meningite pode ser uma complicação grave das otites médias agudas ou crônicas mal tratadas. A relação está na proximidade anatômica, pois a orelha média guarda limites bem próximos com o crânio e as meninges, podendo haver disseminação da infecção por contiguidade, através do osso, ou pela corrente sanguínea”, explica a especialista.

Entre os principais riscos estão as otites médias com perfuração da membrana timpânica, especialmente quando não recebem tratamento adequado. Essas infecções podem evoluir e atingir as estruturas intracranianas, resultando em quadros graves de meningite.

O tratamento precoce e adequado dessas otites é fundamental para evitar esse desfecho, que embora raro, acontece em alguns casos e pode deixar sequelas para a audição e o sistema neurológico”, alerta a médica.

Quando identificar que uma infecção de ouvido virou meningite?

Os sintomas que podem indicar que uma infecção de ouvido está evoluindo para meningite vão além da dor local. “Febre alta persistente, dor de cabeça intensa, sonolência, confusão, rigidez de nuca, vômitos em jato, convulsões e hipersensibilidade à luz são sinais de alerta. Em crianças menores, observar a fontanela abaulada, irritabilidade acentuada e choro inconsolável é essencial”, explica a otorrinolaringologista.

Entre os sinais auditivos que devem acender o alerta estão dor intensa e persistente, saída de pus ou sangue pelo ouvido, inchaço atrás da orelha, paralisia facial e perda auditiva súbita. A prevenção passa pela atenção aos sinais iniciais de infecção e pelo acompanhamento com um especialista.

Toda dor ou infecção de ouvido precisa ser avaliada, tratada e conduzida adequadamente por um otorrinolaringologista. No caso das otites médias agudas, é importante oferecer um bom suporte durante infecções respiratórias virais e buscar avaliação médica precoce. Já nas otites crônicas com perfuração do tímpano, o cuidado deve ser redobrado para evitar a entrada de água, especialmente em piscinas, mar ou rios”, orienta a médica.

As consequências da falta de tratamento vão além da meningite. Sequelas auditivas como zumbido, perda de audição e tontura são comuns, além de possíveis abscessos cerebrais e comprometimentos neurológicos. “Essas complicações podem deixar sequelas neurológicas e cognitivas importantes, comprometendo a qualidade de vida do paciente”, afirma a Dra. Kátia.

Diagnóstico e tratamento da meningite

O diagnóstico da meningite com origem em infecção otológica é clínico e complementar, podendo incluir exames de imagem como tomografia e ressonância magnética, além da punção lombar para análise do líquor e exames de sangue.

O tratamento é hospitalar, com administração de antibióticos por via endovenosa, anti-inflamatórios para reduzir o inchaço nas meninges, analgésicos e, em alguns casos, cirurgia nos ouvidos para controlar a infecção de origem.

Os cuidados devem ser redobrados com grupos mais vulneráveis, como crianças pequenas, gestantes, idosos e pessoas imunocomprometidas — seja por doenças autoimunes, quimioterapia ou uso de imunossupressores como corticoides.

Pais e cuidadores devem ficar atentos a qualquer queixa auditiva, como sensação de ouvido tampado, zumbido e dor de ouvido, principalmente durante gripes e resfriados. A avaliação médica precoce é crucial para evitar complicações”, discorre a especialista.

Ainda segundo ela, a meningite é uma emergência médica, e embora nem todos os casos estejam relacionados a infecções de ouvido, esse é um fator de risco real e, na maioria das vezes, prevenível.

A conscientização sobre os sinais de alerta e a busca por atendimento especializado são as principais formas de proteger a saúde auditiva e neurológica, especialmente em populações mais suscetíveis”, finaliza a médica.

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Mudança na vacinação contra a meningite começa a valer

Rio de Janeiro (RJ) 01/07/2024 -Etapa da análise parasitológica, realizada no Laboratório de Malacologia do IOC, para investigação da infecção em moluscos. Foto: Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação
© Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação

A partir desta terça-feira (1º), o combate a essa doença grave, que pode matar, ganha um novo reforço no Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina meningocócica ACWY passa a ser ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças com 12 meses de vidaA mudança foi anunciada na última semana e amplia a proteção contra os principais sorogrupos da bactéria causadora da meningite.

Até então, o esquema vacinal contra a meningite incluía duas doses da vacina meningocócica C, aplicadas aos três e aos cinco meses de vida, e um reforço com a mesma dose aos 12 meses. Com a atualização anunciada pelo ministério, o reforço aos 12 meses passa a ser feito com a vacina ACWY, que protege contra os sorogrupos A, C, W e Y”, informou a pasta.

Antes, a ACWY era aplicada, na rede púbica, apenas em adolescentes com idade entre 11 e 14 anos, em dose única ou como reforço, conforme o histórico vacinal.  Outras vacinas disponíveis no SUS, como a BCG, a penta e as pneumocócicas 10, 13 e 23-valente, segundo o ministério, também ajudam a proteger contra algumas formas de meningite.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que crianças que já tomaram as duas doses da vacina meningocócica C e a dose de reforço da mesma vacina não precisam receber a ACWY neste momento. Já as que ainda não foram vacinadas aos 12 meses podem receber a dose de reforço com a ACWY.

Com informações de Assessoria e da Agência Brasil
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