Já faz um tempo que o conceito de família vem sofrendo modificações. Antigamente pensada exclusivamente como pai, mãe e filhos, hoje em dia “família” passou a se referir a um grupo mais amplo de pessoas que vivem sob o mesmo teto, incluindo casais homoafetivos com ou sem filhos, os famosos “pais e mães de pet” e até mesmo mulheres solteiras que optaram voluntariamente por terem e criarem seus filhos sozinhas.

Apesar dessa última ideia ainda causar estranhamento para grande parte das pessoas, a gravidez por produção independente, na realidade, tem se tornado um fenômeno cada vez mais comum, com o número de adeptas aumentando todos os anos. De uns anos para cá mais e mais mulheres brasileiras têm procurado clínicas de reprodução assistida de todo o país com uma decisão tomada: ser mãe solo, ou independente, utilizando o sêmen de um doador de um banco especializado.

O assunto ainda é bastante novo no Brasil, a começar pela pouca legislação, cheia de lacunas, e por uma bibliografia praticamente inexistente. Uma dessas mulheres, a consultora especializada em marketing Bettina Boklis, foi além da opção pessoal corajosa e resolveu relatar a experiência em um livro, com o título Maternidade independente – Um jeito diferente de formar uma família”, que acaba de ser lançado pela Editora Jaguatirica.

A proposta é ajudar outras mulheres que queiram seguir o mesmo caminho, inclusive com depoimentos íntimos da autora e de outras mães independentes, além de vários especialistas, abordando os aspectos psicológicos, médicos, científicos, econômicos, legais e sociais que envolvem essa aventura. Mas o livro também é voltado para homens, profissionais da área de saúde e interessados em geral nas tendências do comportamento humano que estejam curiosos em conhecer mais a fundo um fenômeno que ocorre no mundo todo.

Com uma mistura de coragem e fé, gerei uma filha, o amor da minha vida, a Catharina, por meio de reprodução assistida e com ajuda de material genético de um doador anônimo. Essa é a história de como me tornei uma mãe independente por opção, sem um parceiro, sem um pai para ajudar a criar a minha filha. O mais interessante, relembrando o passado, é constatar que a intuição foi minha grande guia”, escreve Bettina.

Catharina tem hoje sete anos e a autora relata, além da experiência muito difícil de tomar a decisão de formar uma família diferente, tudo aquilo que vem depois, ou seja, como educar, como lidar com a escola, a comunidade composta principalmente de famílias no formato tradicional e, mais que tudo, como responder à ansiada pergunta: “mamãe, quem é o meu papai?”.

Por pretender ser também um guia, o livro traz ainda muita informação sobre o passo a passo para se tornar uma mãe independente, dá dicas sobre congelamento de óvulos, finanças, tutoria e demais medidas práticas a serem tomadas, conta a história da evolução da medicina na área reprodutiva desde o primeiro “bebê de proveta”, mostra como funciona por dentro um banco de sêmen e orienta na escolha do doador.

Enfim, a obra contribui, com um foco bem original, para um debate bastante aceso hoje em dia que envolve o empoderamento feminino. “O objetivo é jogar luz a um tema ainda pouco explorado e, ao mesmo tempo, levar esperança às mulheres que ainda sonham em ser mães”, diz Bettina.

Especialista em reprodução assistida explica as técnicas

Congelamento de óvulos: técnica cada vez mais recorrente entre mulheres (Reprodução da internet)

Para Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, a gravidez por produção independente consiste, basicamente, em mulheres que não possuem um parceiro, mas decidem ter um filho por meio da reprodução assistida. Para a grande maioria das pessoas pode ser impensável a ideia de criar um filho sozinha, mas, de acordo com o especialista, existem vários fatores que podem levar a mulher a buscar pela produção independente.

É claro que tudo depende de questões intimas de cada paciente, mas, no geral, as mulheres tomam essa decisão principalmente por dois fatores: avanço da idade, visto que, quanto mais velha a mulher, menores são as chances de uma gravidez e maiores são os riscos; ou por terem experimentado inúmeros relacionamentos que falharam, o que faz com que decidam iniciar a jornada da maternidade por conta própria ao invés de esperarem encontrar o parceiro ideal para dividir a educação da criança”, comenta o médico.

Mas, afinal, como funciona esse procedimento? O primeiro passo, é claro, é buscar por um especialista em reprodução humana para auxiliar a mulher nesse processo, que se inicia com a busca por um doador de sêmen. “A doação do sêmen é intermediada por meio de bancos do material que garantem o anonimato do doador e da receptora. No entanto, a mulher pode participar ativamente desse processo através da seleção de características específicas do doador do sêmen, como altura, cor dos olhos e cabelos, etnia, entre outros”, afirma o Dr. Rodrigo.

Em seguida, pode-se utilizar de duas técnicas para garantir a fecundação do óvulo: a inseminação artificial e a fertilização in vitro. “A inseminação artificial, também conhecida como inseminação intrauterina, consiste, basicamente, na inserção do espermatozoide doado na cavidade do útero durante o período de ovulação da mulher para que a fecundação ocorra naturalmente, sendo que, em alguns casos, é necessário que a ovulação seja previamente estimulada por meio de tratamento medicamentoso”, diz o médico.

Já a fertilização in vitro inicia-se com a indução medicamentosa da ovulação para que os óvulos sejam coletados e fecundados em laboratório. Em seguida, o embrião é reposicionado no interior do útero. Por esse motivo, a fertilização in vitro é a opção ideal para mulheres que sofrem de alguma condição que impeça a fecundação, como a obstrução das trompas uterinas, ou que não ovulam mais, seja devido à idade ou alguma doença pré-existente, já que os óvulos também podem ser obtidos por meio de doação”, destaca.

É importante ressaltar ainda que, apesar de menos comum, a produção independente também pode ser realizada por homens, sendo que, nesse caso, o homem que fornece o sêmen e a doação anônima do óvulo é necessária, assim como a busca por uma barriga solidária, ou seja, uma mulher que esteja disposta a gestar o bebê.

No geral, após 14 dias do procedimento já é possível realizar o exame para confirmar o sucesso da gravidez. A partir desse momento, a gestação prossegue normalmente, com as consultas e exames pré-natais convencionais. “Com alta taxas de sucesso, a gravidez por produção independente é especialmente indicada para homens e mulheres solteiras que desejam ter filhos, independentemente de serem inférteis, e casais homoafetivos do sexo masculino e feminino”, aponta o especialista.

Mas é importante ressaltar que a decisão de optar pela produção independente deve ser muito bem pensada e discutida com um especialista em reprodução humana e um psicólogo. “Isso porque, além da maternidade ser uma tarefa árdua que, nesse caso, deverá ser enfrentada sozinha, a gravidez por produção independente ainda é alvo de grande preconceito por parte da família, amigos e  sociedade no geral, o que pode causar um grande impacto na saúde mental da mulher”, finaliza o Dr. Rodrigo da Rosa Filho.

Sobre a autora

Bettina Boklis, 50 anos, é carioca radicada em São Paulo, formada em Comunicação Social, com 28 anos de experiência nas áreas de marketing e vendas. Sempre atuou em grandes multinacionais e hoje tem sua própria consultoria de marketing. Aos 42, tomou a decisão que dividiu sua vida em antes e depois: partiu para um projeto de maternidade independente por opção, com o auxílio de técnicas de reprodução assistida e de um banco de sêmen.

Após algumas tentativas, gerou Catharina. A experiência foi tão transformadora e pioneira que a fez dar voz a esse tema ainda pouco explorado no Brasil e a levar esperanças às mulheres que ainda sonham em ser mães. Primeiro, lançou o site maternidadeindependente.com.br, levando conteúdo e estabelecendo conexão com mulheres que quase não tinham informação a respeito. Mais tarde, o projeto cresceu através das redes sociais. Agora, é a vez do livro.

Serviço:

Título: Maternidade independente: Um jeito diferente de formar uma família – Um guia com informações, insights e depoimentos para mulheres solteiras que estão cogitando ou escolheram ser “mães independentes”

Autora: Bettina Boklis

160 páginas

Livro físico, preço: R$ 55,90

E-book, preço: R$ 19,90

Disponíveis no site editorajaguatirica.com.br, Amazon, Google Play Livros, Apple iBooks Store, Kobo, Storytel, Livraria Travessa e Livraria Cultura

Preço promocional / livro físico: R$ 45,00 com frete grátis e estoque limitado, no site maternidadeindependente.com.br

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