Implementado com sucesso há quase 10 anos no município de Niterói (RJ), o método Wolbachia que consiste na introdução dessa bactéria nos mosquitos Aedes aegypti, tornando-os incapazes de transmitir os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela, será ampliado para todo o Brasil. A expansão nacional dessa tecnologia é uma das medidas anunciadas pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, ao participar, neste sábado (14), do Dia D de Mobilização contra a Dengue no Rio de Janeiro.
Nísia falou das formas de controle do mosquito Aedes aegypti que vêm sendo utilizadas em vários estados do país, como o Método Wolbachia, lançado na Clínica da Família São Sebastião, no Caju, em abril deste ano, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A ministra reforçou que ainda é um método restrito a alguns bairros e municípios, mas que em breve deve ser lançado em escala nacional, assim como outros métodos e ações comunitárias.
“Novas estratégias de controle do mosquito estão sendo implementadas nos estados, e iremos ampliá-las para todo o país”, afirmou. Durante visita ao Caju, a ministra acompanhou atividades de conscientização e eliminação de focos do mosquito, inclusive com vistorias a algumas casas, e reforçou também a importância da participação ativa da sociedade para o sucesso das ações e para a proteção da saúde pública. “Receber bem os agentes do Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para que a prevenção seja eficiente”, enfatizou.
Método Wolbachia reduziu casos de dengue em Niterói
Desde 2015, Niterói adotou o Método Wolbachia, em parceria com a Fiocruz e a WMP Brasil. A Wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, mas ausente no Aedes aegypti. Quando inserido artificialmente em ovos do mosquito, o microrganismo reduz sua capacidade de transmitir os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Com a liberação de mosquitos contendo Wolbachia, a tendência é que eles predominem nos locais, reduzindo a transmissão das doenças. Em Niterói, o método começou com um projeto piloto no bairro de Jurujuba. Em 2017, a iniciativa foi expandida para 33 bairros das regiões das praias da Baía e Oceânica.
Dados de 2021 demonstraram a eficácia da medida, com redução de cerca de 70% nos casos de dengue, 60% nos de chikungunya e 40% nos de zika nas áreas com intervenção. Naquele ano, 75% do território de Niterói já estava coberto.
Em 2023, Niterói tornou-se a primeira cidade brasileira com 100% do território coberto pelo Método Wolbachia, garantindo proteção sustentável contra arboviroses. O Aedes aegypti com Wolbachia, ao ser liberado na natureza, se reproduz com mosquitos locais, gerando descendentes com as mesmas características, tornando o método autossustentável.
No período de 1º de janeiro a 9 de dezembro de 2024, foram registrados 1.769 casos prováveis de dengue entre residentes de Niterói. Os meses de maior incidência foram fevereiro e março, com 602 e 462 casos prováveis, respectivamente. Já em outubro e novembro, foram notificados 12 casos prováveis em cada mês.
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Cuidados permanentes o ano inteiro em Niterói e no Rio
Apesar de Niterói ter apresentado um número reduzido de casos de dengue em meio à epidemia de 2024, ações de combate realizadas pelos agentes de endemias e pela população permaneçam de forma rotineira são fundamentais, na avaliação da secretária municipal de Saúde, Anamaria Schneider.
Durante todo o ano, as equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) desenvolvem um trabalho intensivo e contínuo de prevenção e combate ao mosquito transmissor das arboviroses, com ações diárias e mutirões aos finais de semana”, explicou.
Mais de 11 milhões de imóveis visitados na cidade do Rio
Também na cidade do Rio de Janeiro, o trabalho de controle das arboviroses, tanto nas áreas residenciais quanto nos locais considerados pontos estratégicos (cemitérios, borracharias, ferros-velhos, depósitos de sucata ou de materiais de construção, garagens de ônibus, etc), é realizados durante todo o ano. Nos meses de calor, dentro da programação do Plano Verão, as ações são reforçadas.
Este ano, até o dia 7 de dezembro, foram visitados 11.014.243 imóveis para prevenção e controle do Aedes aegypti e 1.771.860 recipientes que poderiam servir de criadouros de mosquitos foram tratados ou eliminados.
Em 2023, foram realizadas 11,2 milhões de vistorias em imóveis para controle e prevenção de possíveis focos do mosquito, com eliminação ou tratamento de mais de 2,1 milhões de recipientes.
Maior número de casos da série histórica em 2024
O subsecretário de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde, Renato Cony (foto), disse que em 2024 houve mais de 110 mil casos, o maior número de casos da série histórica da dengue iniciada em 2012 no município do Rio de Janeiro, mas com menor letalidade. Todo o mapa epidemiológico da cidade está em vermelho, o pior cenário, com mais de 1 mil casos de infecção a cada 100 mil habitantes. Só neste ano, 21 pessoas morreram por causa da doença este ano.
Isso se deve ao nosso trabalho incansável realizado todos os dias. Desde a vigilância epidemiológica no monitoramento dos casos, passando pela criação dos polos de hidratação e a organização de toda rede de atenção à saúde e de urgência e emergência para que todos os casos pudessem ser atendidos com qualidade”, disse.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também realiza constantemente ações educativas e de mobilização social para orientar a população sobre as medidas para a prevenção de arboviroses urbanas, visando despertar a responsabilidade sanitária individual e coletiva.
Quando necessário, a população pode fazer pedidos de vistoria ou denunciar possíveis focos do mosquito pela Central 1746 de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura, pelo telefone ou site.
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Vacinação contra a Covid, gripe e dengue no Caju
Já na capital, as ações aconteceram em todas as áreas da cidade, com atividades educativas e de orientação à população. Na Clínica da Família São Sebastião, os profissionais de saúde vacinaram a população contra covid-19, influenza e também crianças e adolescentes de 10 a 14 anos contra a dengue.
Além disso, foram montadas tendas com atividades educativas e de promoção à saúde na Praça Central, em frente à unidade. Os jovens do RAP da Saúde também estiveram presentes orientando a população de forma mais lúdica, com jogos e brincadeiras sobre o tema.
Hoje é um dia muito importante para mobilizar os nossos usuários e ninguém melhor do que a Atenção Primária à saúde para conversar com a população. É importante lembrar à população que usando 10 minutos por semana a gente consegue eliminar os focos do mosquito e assim vamos conseguir ter uma cidade livre da dengue”, disse Renato Cony.
‘A gente acha que nunca vai chegar na nossa casa’
Na Baixada Fluminense, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) uniu forças com a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu para um evento de mobilização na Praça Rui Barbosa, no coração da cidade. A população foi orientada sobre o papel do agente de endemia, e sobre a importância das ações de rotina para a eliminação dos focos do mosquito.
A professora aposentada Maria de Lourdes da Fonseca, 68 anos, relembrou o ano em que contraiu dengue e enfatizou o papel do combate ao mosquito. “A gente acha que nunca vai chegar na nossa casa. Eu mesma achava até pegar dengue em 2008. A minha sorte foi que recebi soro na UPA. Desde aí, eu não deixo mais nenhum vaso com água parada e não dou mole para o mosquito”, contou.
Além de convocar ações nos 92 municípios, a SES-RJ também realizou eventos na capital e em São Gonçalo. As equipes da SES-RJ orientaram os pacientes e familiares dos hospitais estaduais Getúlio Vargas, na Zona Norte da capital fluminense, e Alberto Torres, em São Gonçalo.
Na manhã de sábado, as Brigadas contra o Aedes também realizaram a ronda semanal de combate aos focos de dengue. Na segunda-feira (16/12) haverá uma nova rodada de capacitação dessas brigadas para os diretores administrativos da UPAs e hospitais da rede estadual.
A orientação aos municípios é que realizem permanentemente ações de controle mecânico de criadouros do Aedes aegypti, organizem ações de mobilização da população e mantenham o monitoramento da infestação do mosquito com instalação de armadilhas ovitrampas.
Essas medidas, em conjunto com a campanha permanente “10 minutos salvam vidas”, que orienta a população sobre os criadouros do mosquito, miram controlar a dengue e garantir segurança à população.
No dia de hoje, a gente mostra a força coletiva contra a dengue. É primordial lembrar a população que agora é a hora da gente controlar o mosquito Aedes aegypti”, destacou o subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde da SES-RJ, Mário Sergio Ribeiro.