A robótica cirúrgica começou a ser realizada em 2000 nos Estados Unidos (EUA). Um estudo da Agência de Saúde de Michigan, publicado recentemente, apontou que o uso de robôs cirúrgicos por lá subiu de 1,8% em 2012 para 15,1% em 2018. A pesquisa, feita em 73 hospitais americanos, também mostra que o maior aumento foi em cirurgias para resolver problemas de saúde comuns do aparelho digestivo, como a cirurgia de hérnia inguinal (aumento de 0,7% para 28,8%) e retirada de vesícula e de tumores do aparelho digestivo.

O Brasil segue a tendência mundial em que as cirurgias robóticas serão uma opção cada vez mais presente de tratamento. Desde que chegou em 2008 no Brasil, em 2008, já foram realizadas mais de 30 mil cirurgias. Entre agosto de 2018 e dezembro de 2019, houve um crescimento de mais de 90% no número de equipamentos de robótica cirúrgica instalados no país; um salto de 40 para 76.

Mais da metade dos robôs estão na Região Sudeste, seguida pelo Centro Oeste, Norte/Nordeste e menos equipamentos na Região Sul. A maioria está na rede de saúde privada, mas hospitais públicos do Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Recife e outras capitais já contam com os equipamentos pra atender a população.  

Dados do Programa de Cirurgia Robótica da maior rede de hospitais privados do país mostram que o aumento de cirurgias gerais pela técnica é de 11,8%, do início do ano até agora. A utilização de robôs tem crescido principalmente nas operações do aparelho digestivo (14,5%). Antes disso, o número destas cirurgias já havia dobrado de 2017 para 2018. As cirurgias urológicas ainda representam cerca de 60 % dos procedimentos, mas cresceram menos de 8% no mesmo período. 

Desde que a novidade chegou ao país, são cerca de 1.200 cirurgiões certificados em mais de 14 especialidades médicas, segundo a Intuitive, única empresa autorizada a comercializar os robôs no país.  Mas a capacitação ainda não é uma realidade para a maior parte dos médicos cirurgiões no país.

“Atualmente, os cirurgiões têm que pagar um valor muito alto para treinamento e certificação”, critica o médico Ricardo Cotta, oncologista do aparelho digestivo, especialista em robótica do Hospital Quinta D’ Or e cirurgião do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro.

Ricardo Cotta critica monopólio de certificação em cirurgia robótica no Brasil (Foto: Divulgação)

Mas este monopólio está com os dias contados. O Conselho Federal de Medicina pretende estender para todo o país uma resolução baseada em resolução do Conselho Regional do Rio de Janeiro (Cremerj), em vigor no estado desde novembro de 2019, que acaba com o monopólio da indústria para o treinamento dos profissionais de saúde em cirurgia robótica.

A partir da última resolução, a certificação dos médicos cirurgiões nesta especialidade será função das sociedades de especialidades afiliadas à Associação Médica Brasileira (AMB). Com isso, as entidades pretendem atender o aumento da procura pelo método e facilitar o acesso de mais especialistas aos equipamentos e novas cirurgias, que atendam às necessidades da população em geral.

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Enquanto isso, cada vez mais os hospitais, em parceria com multinacionais que fornecem os robôs cirúrgicos utilizados no mercado nacional, criam áreas e programas específicos para treinar suas equipes para usar esses equipamentos no país, sem a necessidade de enviar suas equipes de cirurgiões para Estados Unidos ou Colômbia, sedes dos principais fabricantes dos equipamentos.

Primeiro a operar com o robô Da Vinci no Brasil, com mais de 10 mil procedimentos desde 2008 – cerca de 100 cirurgias por mês –  e mais de 150 cirurgiões habilitados, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, anunciou no início de fevereiro de 2020 o seu Centro de Treinamento em Cirurgia Robótica. Com isso, passou a ser o único do Brasil a atuar como centro de certificação oficial da fabricante Intuitive, que encaminhará ao Einstein cirurgiões selecionados em toda a América Latina para obter a certificação para o uso dos seus robôs.

O centro conta com sete simuladores, incluindo o “Simbionix”, que apresenta um módulo inédito de colectomia direita no Brasil, além de quatro plataformas da Vinci Si e Xi, uma delas dedicada exclusivamente para treinamentos e aplicações experimentais. A certificação é concedida após algumas etapas que incluem treinamento online, simulação e observação de casos e treinamento em console, desde o início.

De acordo com a assessoria do hospital, o programa de cirurgia robótica do Einstein tem trabalhado para assegurar a qualidade dos procedimentos e a segurança do paciente e não apenas no crescimento das cirurgias robóticas. Os profissionais são acompanhados e avaliados por proctors (cirurgiões experientes e que supervisionam o treinamento), até que adquiram a proficiência desejada.

O Einstein pretende se tornar a primeira instituição a ter Treinamento de Cirurgia Robótica no currículo da residência médica de especialidades cirúrgicas, ou seja, o médico residente concluirá a sua especialização com a habilitação em Cirurgia Robótica. Diversos cursos de Pós-Graduação em Cirurgia Robótica ocorrerão em 2020, como da Urologia, Coloproctologia e Ginecologia, nos quais o especialista pode se aperfeiçoar na técnica, além da opção de certificar-se ao término do curso no Centro de Treinamento.

Com a certificação, o Einstein inicia a sua jornada para se tornar o primeiro Academic Center da América Latina, comprovando a evolução do seu Programa de Cirurgia Robótica, que completou, em 2019, 11 anos de funcionamento. Ao longo da trajetória, o hospital foi reconhecido como um epicentro de Urologia e se tornou um centro de excelência em cirurgia robótica pela Surgical Review Corporation. 

Hospitais criam programas de cirurgia robótica

Outros hospitais também correm atrás para desenvolver treinamentos internos, com certificações. Ao adquirir o robô Da Vinci Xi, em meados de 2018, o Hospital Santa Catarina implantou um programa de treinamento. Hoje cerca de 30 profissionais do hospital já passaram pelo programa, que envolve atividades em simulador e certificação internacional concedido na sede da empresa Intuitive, na Califórnia (EUA). Nos primeiros procedimentos, ainda há a assistência de cirurgiões com grande experiência no método (chamados de proctors).

O programa deu resultados no Santa Catarina. Dos hospitais que possuem apenas um robô no país, foi o que mais rápido completou 300 cirurgias (cerca de 1 ano e meio), e em outubro de 2019, foi o que mais fez procedimentos (47). “A prova de que o programa do Santa Catarina foi um sucesso é que 81% das cirurgias feitas aqui, com o robô, são de profissionais capacitados pelo hospital”, conta Fernando.

Em outros hospitais da Associação da Congregação de Santa Catarina – Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro (RJ) e Santa Isabel, em Blumenau (SC) – a atualização dos profissionais para operar o modelo XI também é feita internamente, em parceria com o fabricante do equipamento, Intuitive. Os custos do treinamento fazem parte do processo de aquisição do robô.

Casa de Saúde São José, no Rio, cria programa de treinamento

Cirurgia robótica na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

A Casa de Saúde São José (CSSJ), hospital tradicional do Rio, anunciou em dezembro de 2019 a criação de um programa de cirurgia robótica. O projeto teve início com a chegada do Da Vinci XI, que já está operando. Com isso, também passou a ter um espaço dedicado ao treinamento e capacitação de cirurgiões, por meio de um simulador.

De acordo com o diretor técnico do hospital, Augusto Neno, o grande diferencial do equipamento adquirido pela CSSJ é que o aparelho terá dois consoles, que é de onde o profissional “guia” o robô. Segundo ele, o hospital é único privado do Rio de Janeiro a contar com esse modelo.

Dessa forma, tanto o cirurgião auxiliar quanto o médico instrutor poderão atuar ativamente no procedimento, o que traz grandes benefícios para o paciente e para a equipe. O robô será utilizado em cirurgias oncológicas, urológicas, bariátricas, gastrointestinais, torácicas e ginecológicas”, explicou Dr. Neno.

Segundo o médico, a tecnologia deve ser aplicada em casos de maior complexidade e que os cirurgiões precisam de uma certificação para trabalhar com o robô. “A CSSJ também está montando uma estrutura para formação desses médicos e contará com uma sala exclusiva para treinamento com um simulador. Teremos a melhor tecnologia nas melhores mãos”, completa.

O robô oferece uma visão 3D ao cirurgião, além de ampliar em até 20 vezes as imagens das estruturas vistas pela câmera do equipamento, o que possibilita que sejam realizados procedimentos menos invasivos, com movimentos mais precisos. “Assim, o paciente sente menos dor no pós-operatório e pode se recuperar na metade do tempo de uma cirurgia convencional”, destaca.

Cirurgia robótica com uso do Da Vinci (Foto: Divulgação)

Parceria com universidade dos EUA – Desde 2016 a Rede D’Or São Luiz mantém um programa especial de treinamento de robótica para seus cirurgiões, com certificação internacional de qualidade, contribuindo na qualificação e capacitação de cerca de 70 especialistas, o que resulta em procedimentos mais seguros.

Os treinamentos em cirurgia robótica avançada ocorrem em parceria com a University of Southern California (USC), de Los Angeles, promovendo o avanço da medicina robótica no Brasil, por meio do desenvolvendo de produções científicas conjuntas.

Treinamento no Hospital do Amor

Treinamento no Centro de Treinamento em Cirurgias Minimamente Invasivas (IRCAD Barretos)

O Hospital do Amor, em Barretos (SP), é pioneiro neste tipo de tratamento e conta com o Da Vinci desde 2014, realizando dezenas de cirurgias robóticas por mês. Em outubro de 2019, dezenas de cirurgiões, alunos do Centro de Treinamento em Cirurgias Minimamente Invasivas (IRCAD Barretos), puderam realizar diversos exercícios na plataforma utilizada para certificação em cirurgia robótica.

Numa parceria com a H. Strattner, que está presente no Instituto desde sua inauguração, a ação apresentou a tecnologia à médicos que ainda não a utilizam, além de mostrar a importância do aprimoramento na curva de aprendizagem. Na plataforma, o médico tem uma simulação real de todos movimentos que pode realizar no robô durante as cirurgias, como sutura, energia das pinças, entre outros.

De acordo com a executiva de vendas da H. Strattner, Rafaela Franchim Dias, para a certificação é necessário o médico cumprir diversas etapas, como curso on-line, no mínimo 20 horas de treinamento nesta plataforma, observações de casos de cirurgias ao vivo com o robô da Vinci Surgical System e então passar na avaliação realizada pela Intuitive.

Com Assessorias

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