O alerta foi feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) depois que a influenciadora digital Andressa Urach e a apresentadora Maya Massafera se submeteram à chamada ceratopigmentação e postaram fotos nas redes sociais compartilhando suas experiências com o procedimento realizado no exterior.
Utilizada pelas personalidades para modificar a cor dos olhos, a cirurgia pode trazer consequências graves a longo prazo. Essa intervenção, embora aparente ser um simples recurso estético, é proibida em olhos saudáveis e pode causar danos irreversíveis.
Fontes oficiais, como o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), esclarecem que a técnica de alto risco só deve ser usada em casos específicos, como pacientes com cegueira ou visão extremamente baixa, afetados por manchas na córnea — e jamais em pessoas com visão normal.
Maya Massafera realizou uma cirurgia de mudança da cor dos olhos, conhecida como ceratopigmentação, na França, onde mudou a cor de seus olhos para um tom verde claro. A influenciadora compartilhou a informação com seus seguidores na semana passada.
Riscos de glaucoma e cegueira
O método consiste na inserção de micropigmentos nas camadas internas da córnea para alterar sua coloração. Logo no início, um laser é aplicado na superfície da córnea por 10 segundos para criar uma nova íris artificial. Após isso, é iniciada a etapa de coloração.
Ainda que ofereça mudança permanente, tal escolha acarreta riscos graves como perfurações, infecções no interior do olho, aumento da pressão intraocular, desenvolvimento de glaucoma, inflamações crônicas, catarata, dificuldade em realizar mapeamentos da retina e cirurgias futuras, como transplante de córnea ou catarata.
A população brasileira tem sido impactada nas redes sociais por pessoas que relatam ter se submetido a esse procedimento, também conhecido como ‘tatuagem da córnea’, com finalidade meramente estética”, informou a entidade. “No entanto, essa ceratopigmentação não é reconhecida como uma prática segura em olhos saudáveis, podendo causar complicações e até perda visual severa”, completou a nota.
No documento, o CBO alerta que a técnica só deve ser empregada dentro de protocolos clínicos bem definidos, para fins reconstrutivos com foco no bem-estar psicossocial de pessoas com deficiência visual permanente.
O uso do procedimento com finalidades puramente estéticas, segundo o conselho, não é recomendado. Dentre os riscos estão infecção e inflamação de difícil tratamento. Além disso, como a mudança da córnea é irreversível, o procedimento causa dificuldades em exames internos do olho e outras cirurgias, como catarata.
Dentre os problemas que podem surgir pelo uso indevido da ceratopigmentação estão o surgimento de lesões na córnea, que podem ser persistentes e levar à perfuração do olho; infecções graves (inclusive no interior do olho); inflamações (uveítes); e aumento da pressão intraocular.
Pacientes que já utilizaram a técnica relatam dificuldade de enxergar, dor nos olhos, ardência, sensação de areia, aversão à luz e lacrimejamento persistentes. Todas essas situações podem levar à redução da visão do paciente, seja na periferia ou no centro da visão, podendo evoluir para a cegueira.”
Entenda
Na ceratopigmentação, é empregada uma técnica na qual micropigmentos de diferentes cores são implantados nas camadas mais internas da córnea com o objetivo de alterar a coloração. O procedimento, de acordo com o CBO, é destinado, sobretudo, ao tratamento de manchas brancas que acometem olhos de pacientes cegos.
“Nessas situações, trata-se de cirurgia reparadora de deformidade ocular aparente. Por outro lado, é sempre necessário avaliar as causas dessas manchas brancas e verificar se há possibilidade de algum procedimento que restaure a visão do olho afetado, como o transplante de córnea, por exemplo.”
Ainda segundo o conselho, não se trata de um procedimento estético comum e ele só deve ser considerado quando outras alternativas, como lentes coloridas ou próteses, não funcionarem.
Assim, a prescrição e a execução de cirurgias desse tipo são prerrogativas exclusivas do médico oftalmologista, que avaliará a condição ocular do paciente, com indicações de abordagem personalizada para cada caso”, completou a entidade.
“Diante dos riscos envolvidos, o CBO e a SBC [Sociedade Brasileira de Córnea] reforçam que qualquer intervenção nos olhos deve ser conduzida sob orientação de um médico oftalmologista. Procedimentos invasivos como a ceratopigmentação não devem ser tratados como alternativas estéticas simples ou seguras”, concluiu o comunicado.
Queratopigmentação: alerta sobre os riscos da cirurgia que modifica a cor dos olhos
A queratopigmentação pode parecer algo simples, mas ela altera estruturalmente a córnea, abrindo caminho para perfurações, infecções intraoculares e até cegueira definitiva. Muitas pessoas com visão perfeita terminam com dor constante, ardência, sensibilidade à luz e lacrimejamento persistente”, alerta a oftalmologista Wanessa Carneiro, especialista em cirurgia refrativa.
Ela ressalta que complicações como inflamação crônica, glaucoma e catarata estão entre os efeitos mais comuns a longo prazo, e que o pigmento dificulta futuras intervenções, como as cirurgias de catarata e os exames de retina. “Além disso, em muitos casos, o pigmento encobre o estroma corneano, prejudicando mapeamentos e procedimentos reparadores. O paciente saudável pode acabar precisando de transplante de córnea”, completa.
É importante destacar que os conselhos de saúde proíbem expressamente a realização da queratopigmentação para fins estéticos em olhos sadios. “As pessoas têm buscado essa alternativa em países como a França e muitas delas não pesquisam o procedimento por completo. É fundamental entender todos os riscos que envolvem a possibilidade de mudança definitiva da cor dos olhos”, pontua a profissional.
A principal recomendação é que pessoas que desejam mudar a cor dos olhos optem por lentes de contato coloridas prescritas por um oftalmologista, com acompanhamento médico e cuidados rigorosos de higiene. “Essa é a alternativa mais segura, sem colocar a visão em risco”, conclui a Dra. Wanessa.
Tatuagem na córnea: técnica terá curso para médicos oftalmologistas
A ceratopigmentação é a pigmentação da córnea, uma adaptação de técnicas da micropigmentação e da tatuagem na oftalmologia para melhorar as condições estéticas e de vida de pessoas com problemas de visão, principalmente no caso de pacientes que ficaram cegos, que ficaram com os olhos esbranquiçados”, afirma Alexandre Xavier da Costa, conhecido como Doutor “Xis”, é um médico oftalmologista especialista em transplante de córneas em São Paulo
Ele tem desenvolvido tratamentos de visão para pessoas cegas ou que apresentem problemas na íris através da fusão de cirurgia na córnea com técnicas de micropigmentação A técnica tem mais de cem anos e quando os pigmentos evoluíram, com mais qualidade e sendo regulamentados pela ANVISA no sentido de toxicidade e de biocompatibilidade nos pigmentos que são utilizados, a técnica começou a extrapolar aplicações:
É uma cirurgia reparadora, como acontece com mulheres que precisam fazer uma cirurgia de mama devido a um câncer, por exemplo, e a micropigmentação reconstrói o aspecto do mamilo por meio de uma tatuagem para poder ficar com um aspecto mais parecido com o que era antes, o mesmo pode ser feito com os olhos” explica Doutor “Xis”.
Procedimento ajuda quem tem problemas na íris
Existem pessoas que enxergam normalmente, mas tem algum problema funcional ou estético no olho, muitas vezes causado por um acidente que afeta a íris, a parte colorida do olho. O resultado é uma pessoa que consegue enxergar, mas com um olho todo preto justamente pela ausência da parte colorida:
“A íris funciona como se fosse o diafragma de uma câmera fotográfica que regula a quantidade de luz que entra no olho. Se o olho não tem íris é como se fosse uma câmera estourada o tempo inteiro porque tá entrando muita luz. Essa é uma das possibilidades, por exemplo, do uso da ceratopigmentação em pessoas que enxergam, mas estão com o olho monocromático.”
A ceratopigmentação tem finalidade terapêutica. Pessoas que sofreram com uma úlcera no olho e ficaram com uma mancha branca na córnea, por exemplo, é possível colorir aquela mancha da mesma forma assim como disfarçar uma cicatriz usando uma tatuagem”
Procedimento ajuda outros problemas no olho
O primeiro passo para realizar a ceratopigmentação é uma teleconsulta para descobrir a real situação do paciente antes de realizar a operação. Doutor “Xis” reforça que o procedimento precisa ser realizado apenas por médico oftalmologista que deve avaliar todas as condições:
É preciso examinar qual se a córnea possui espessura suficiente, se a pessoa tem alguma doença no olho, se está com algum tipo de degeneração. Pode acontecer do paciente precisar de algum procedimento combinado, outro procedimento cirúrgico com a pigmentação.” finaliza.
O sucesso do procedimento levou o especialista a criar um curso para oftalmologistas de todo o Brasil na HAUT Academy, formação e capacitação de profissionais, que faz parte grupo Haut para ensinar a técnica ainda em 2023. O conceito é que estas pessoas possam receber uma pigmentação em seus olhos para ficarem com aspecto parecido com um olho normal.
Da agência Brasil, com Assessorias