O mês de julho carrega o laço verde e convida à reflexão sobre um tipo de câncer ainda pouco discutido, mas que traz grande impacto na vida dos pacientes: o câncer de cabeça e pescoço. Responsável por muito sofrimento físico, emocional e social, esse grupo de neoplasias acomete cerca de 40 mil pessoas por ano no Brasil, totalizando 120 mil casos entre 2023 a 2025, com 10 mil óbitos no mesmo período, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O principal fator de risco para esses tipos de câncer ainda é o tabagismo, seguido do consumo excessivo de álcool e pela infecção por HPV (papilomavírus humano). Por isso, o Dia Mundial de Conscientização e Combate aos Cânceres de Cabeça e Pescoço, celebrado em 27 de julho,  reforça que mudanças de hábitos são fundamentais para reduzir a incidência desses tumores, cuja origem está, na maioria dos casos, relacionada ao estilo de vida.

A combinação de cigarro e álcool é considerada uma das mais danosas à saúde e aparece como principal fator de risco para os tumores que atingem a boca, faringe, laringe e cavidade nasal. Má higiene bucal, exposição solar sem proteção e dieta pobre em frutas e vegetais também aumentam o risco”, explica o oncologista clínico David Pinheiro Cunha, do Grupo SOnHe. 

Evitar cigarro e álcool e manter uma vida saudável são atitudes simples que podem prevenir doenças graves. E o mais importante: não negligenciar sintomas. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de cura e qualidade de vida”, reforça Augusto Riedel Abrahão, cirurgião oncológico do Hospital São Luiz Morumbi, da Rede D’Or.

A prevenção deve ser realizada através de valiosas atitudes como evitar o compartilhamento da fumaça do cigarro (fumante passivo) ou suspensão definitiva do tabagismo, evitar ou abrandar o consumo de álcool”, afirma José Francisco Teixeira, especialista em Clínica Médica e Oncologia e professor da Unisul/Inspirali.

Além disso, a infecção pelo HPV tem sido associada de forma crescente aos tumores de orofaringe. Por isso, os especialistas também são unânimes ao recomendar a vacinação contra o vírus HPV, disponível na rede pública de saúde.

Investir em campanhas de vacinação contra o HPV é uma forma eficiente e segura de prevenção. Assim como parar de fumar e reduzir o consumo de álcool, a vacinação é uma medida urgente de saúde pública”, destaca o oncologista.

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Câncer de cabeça e pescoço: saiba quais sintomas não ignorar

Dor de garganta frequente, rouquidão e feridas na boca podem ser sinais de alerta

Sintomas comuns como rouquidão, dor de garganta persistente ou dificuldade para engolir costumam ser tratados como algo passageiro. Mas eles podem esconder doenças sérias, como cânceres de cabeça e pescoço. Trata-se de grupo de tumores que atinge áreas como boca, laringe, faringe, nariz, seios da face, tireoide e glândulas salivares.

É um grupo amplo de doenças, com comportamentos diferentes. Alguns desses tumores são altamente curáveis se detectados no início. Mas, como os sintomas se confundem com problemas comuns do dia a dia, o diagnóstico muitas vezes acontece tardiamente”, explica Augusto Riedel Abrahão.

Sinais que merecem atenção

A campanha Julho Verde tem como objetivo alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e da atenção a sinais que costumam ser negligenciados. Os sintomas variam de acordo com a área afetada, mas há sinais comuns que merecem atenção, como:

•         Aftas ou feridas que não cicatrizam na boca

•         Rouquidão persistente

•         Dor de garganta frequente

•         Dificuldade para engolir

•         Nódulos no pescoço

•         Inchaço no rosto

•         Sangramentos pelo nariz ou boca

•         Dor de cabeça constante

•         Perda de peso sem causa aparente

O desafio do diagnóstico precoce e do tratamento

Apesar de serem amplamente evitáveis, esses tumores ainda são diagnosticados tardiamente, o que compromete gravemente o tratamento e a sobrevida dos pacientes. “O principal obstáculo é o diagnóstico em estágio avançado, agravado pela dificuldade de acesso ao sistema de saúde e à atenção odontológica e médica preventiva”, explica o oncologista clínico David Pinheiro Cunha, do Grupo SOnHe.

Para Augusto Riedel Abrahão, o diagnóstico precoce faz toda a diferença. “Hoje temos exames acessíveis, rápidos e minimamente invasivos, como tomografia, ressonância, nasofibrolaringoscopia e ultrassons. Em consultório, conseguimos detectar alterações suspeitas e encaminhar para o tratamento adequado”, afirma.

Os cânceres de cabeça e pescoço representam cerca de 40 mil novos casos por ano no Brasil e apresentam taxa de recuperação que varia entre 40% e 60%, a depender da localização, estágio, subtipo e local da doença. As opções de tratamento também evoluíram. Técnicas modernas permitem remover tumores com mais precisão, mesmo em áreas delicadas.

Hoje conseguimos tratar tumores de tireoide com alta eficácia, como no caso dos microcarcinomas papilíferos. Além disso, imunoterapia e terapias-alvo têm ampliado as chances de sucesso nos casos mais avançados”, completa David Pinheiro Cunha.

Cuidado também com a saúde mental no tratamento

No ASCO 2025, maior congresso mundial de oncologia clínica, realizado nos Estados Unidos, especialistas reforçaram a importância de estratégias personalizadas de tratamento e da incorporação da imunoterapia em casos localmente avançados de tumores de cabeça e pescoço, sobretudo quando combinadas à cirurgia e radioterapia. Estudos também destacaram o impacto positivo do suporte nutricional e fonoaudiológico na reabilitação desses pacientes.

Segundo José Francisco Teixeira,  a doença engloba exacerbado sofrimento físico, emocional e social, visto que usualmente apresenta-se com crescimento lento e consequente má resposta ao tratamento quando diante de doença avançada.

Neste momento, é crucial a participação da família e de uma equipe multidisciplinar bem treinada, para minimizar os efeitos deletérios do tratamento e dar todo o suporte, inclusive emocional, de fundamental importância”, afirma.

Para David Pinheiro Cunha, a perda da fala, da capacidade de se alimentar ou mesmo da autoestima exige uma abordagem que vá além da doença. “O cuidado com a saúde mental e emocional precisa fazer parte do plano terapêutico”, complementa.

Prevenção e diagnóstico precoce são fundamentais, alerta especialista

Julho é o mês de prevenção da doença, que registra mais de 40 mil casos por ano no Brasil

 

José Francisco Teixeira, especialista em Clínica Médica e Oncologia e professor da Unisul/Inspirali, responde algumas dúvidas sobre o tema. Confira:

  • O que é câncer de cabeça e pescoço e qual a região exata ele se manifesta?

Os chamados tumores de cabeça e pescoço englobam uma série de tumores que ocorrem a partir da malignização de células anteriormente saudáveis; a principal é a célula epitelial, que reveste todas as estruturas da cabeça e do pescoço como cavidade oral (língua e assoalho da língua, lábios, gengiva, palatos duro e mole, etc), nasofaringe (amígdalas, pilares amigdalianos, cavidade nasal, etc), laringe e cordas vocais, orelhas, condutos auditivos, tireoide, entre outras.

  • Como a doença se manifesta?

Em regra, o diagnóstico é tardio; estruturas inervadas sendo comprimidas e gerando dor severa; afastamentos de atividade laborativa por longo período com redução de rendimentos e frequentemente longos períodos de internação hospitalar, seja por efeitos colaterais do tratamento ou complicações da doença.

As manifestações clínicas dependerão de qual órgão está sendo comprometido pelo tumor: úlceras em cavidade oral, lábios e orelhas que não cicatrizam, rouquidão e dor para engolir persistentes, aumento de volume abaixo da mandíbula ou pescoço, dor de ouvido sem alteração inflamatória ou infecciosa aparente, dentes que amolecem e caem sem causa conhecida, sangramentos persistentes.

  • Quem está mais suscetível a desenvolver a doença?

Os homens, numa proporção de três para um, são mais suscetíveis de serem acometidos por tal enfermidade em relação às mulheres, principalmente por exposição mais acentuada aos principais fatores de risco: fumo e álcool. Importante ressaltar o papel do vírus HPV 16, sexualmente transmitido, igualmente agente causal de tais tumores.

  • Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico será obtido através de biópsia da área suspeita. Na sequência, serão realizados exames de imagem e laboratoriais para determinar a extensão da doença e a melhor opção terapêutica.

  • Existe tratamento? Quais os métodos?

Usualmente há as seguintes modalidades de tratamento: cirurgia, quimioterapia, imunoterapia e radioterapia. A escolha do melhor recurso terapêutico, isolado ou em conjunto, e consequentemente dos efeitos colaterais e do resultado objetivando a cura, dependerá fundamentalmente da extensão da doença, de comorbidades existentes como hipertensão, doenças cardíacas, pulmonares, renais, entre outros, e do desejo da pessoa acometida em tratar-se.

Com Assessorias

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