Projetado pelo Palmeiras no início dos anos 2000, com passagens por Corinthians e Internacional, tendo chegado a ser convocado pela Seleção Brasileira em 2004 e 2005, o jogador de futebol paulistano Magrão teve que se afastar dos campos em 2015 após ser pego num exame antidoping. O motivo? Um medicamento para o câncer de testículo, uma doença rara que afeta até 5% dos brasileiros.

Em depoimento emocionado em abril de 2015, Magrão revelou que soube do seu câncer em um exame com resultado positivo em 2011, durante a passagem pelos Emirados Árabes Unidos, onde representou o Al Wahda e o Dubai Club. Ao procurar a razão para esse resultado, acabou constatando um tumor maligno nos testículos.

O volante defendia o Novo Hamburgo-RS, seu último clube, em 2015, quando foi pego num exame antidoping e acabou anunciando sua aposentadoria do futebol aos 36 anos. Magrão resolveu pendurar as chuteiras após o exame médico realizado durante a elite do Campeonato Gaúcho. O exame detectou irregularidades devido a um medicamento utilizado no tratamento contra um câncer no testículo.
Magrão se emociona ao revelar drama pessoal antes de jogo pelo Gauchão (Foto: Reprodução/RBS TV)

O drama de Magrão não é único no meio do futebol e dos esportes em geral. Esportistas mundialmente conhecidos tiveram câncer de testículo, como o ciclista Lance Armstrong; o astro do basquete brasileiro Nenê Hilário, e vários jogadores de futebol, incluindo o craque Arjen Robben, da seleção holandesa vice-campeã da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul e terceiro lugar na Copa de 2014 no Brasil.

“Não se sabe o motivo para o aparente grande número de casos de câncer de testículo entre atletas profissionais. O que está comprovado, sim, é que o exercício físico regular ajuda a evitar praticamente todos os tipos de câncer. Mas o esporte profissional talvez ajude o atleta a encontrar o problema”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, Clóvis Klock.

Câncer de testículo e a importância do autoexame

O motivo dos casos de câncer de testículo entre esportistas ainda não se sabe, mas a prevenção já é conhecida. E começa com o autoexame. Em uma cena na série espanhola “Machos Alfa”, da Netflix, quatro amigos em férias falam sobre o câncer de testículo que atingiu um colega e logo três deles fazem o autoexame para conferir se há algo diferente. Tirando o fato de estarem em local público na cena, eles estão certos.
O autoexame ajuda a identificar suspeitas sobre este tipo de câncer, que, apesar de raro, atinge os homens em idade reprodutiva, entre 15 e 50 anos, e é o predominante nesta faixa etária, sendo que a fase de maior incidência no mundo é entre 15 e 34 anos, e não se deve ficar com vergonha de fazer.
“É fundamental que os homens façam o autoexame e visitem o urologista ao perceber qualquer alteração de tamanho, forma e também textura no testículo. É um tipo de câncer com baixa mortalidade. Quando há detecção precoce, o câncer de testículo é geralmente curado”, afirma Clóvis Klock.
Ele explica que o patologista é o médico que dá o diagnóstico final sobre se há ou não câncer, caso haja doença, qual o estágio em que ela está e qual a classificação do tumor. Entre os sintomas mais comuns da doença destacam-se o aparecimento de um nódulo duro, que na maioria das vezes não provoca dor; alteração no tamanho do testículo (aumento ou diminuição); sensação de um peso ou dor na região abdominal e sangue na urina.

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Campanha Abril Lilás conscientiza sobre prevenção do câncer de testículo

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de testículo é relativamente raro, correspondendo a cerca de 5% dos casos de tumores malignos que afetam o sexo masculino. No entanto, é importante destacar que a incidência da doença tem aumentado nos últimos anos, especialmente entre homens de 15 a 50 anos. Dados do Ministério da Saúde apontam que o número de mortes pela doença no Brasil, por conta da detecção tardia, é de aproximadamente 446 ao ano.

Por isso, é importante levar conscientização e desmistificação sobre os cuidados à saúde masculina, se diagnosticado em fase inicial, esse tipo de câncer supera a marca dos 90% de chances de sucesso no tratamento. A fim de conscientizar a população masculina sobre a importância da prevenção e detecção precoce da doença, é realizada a campanha Abril Lilás, que tem como objetivo alertar sobre os sintomas da doença e incentivar a realização dos exames preventivos.

Segundo Klock, há outros cuidados preventivos e até bem mais cedo. “É importante que a descida dos testículos seja verificada na infância por um pediatra e corrigida, de preferência antes da criança completar dois anos, como forma de reduzir o risco para o futuro jovem e adulto”, explica o Dr. Klock.
Outros fatores relacionados ao maior risco são o histórico familiar deste tumor, a infertilidade, e a exposição ocupacional a agrotóxicos. Além disso, é recomendado que trabalhadores expostos a agrotóxicos realizem exames de rotina para o diagnóstico precoce do câncer de testículo.

Quais exames ajudam no diagnóstico?

Luiz Henrique, diretor regional da Dasa Oncologia e oncologista do Hospital São Lucas Copacabana, ambos no Rio de Janeiro, aponta que é importante a conscientização do diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura e a sobrevida dos pacientes com câncer de testículo, apesar de ser um carcinoma raro.

“É muito importante que os homens realizem regularmente o autoexame testicular e busquem atendimento médico caso detectem alguma anormalidade. Além disso, exames de rastreamento, como a ultrassonografia testicular, podem ser recomendados para identificar a presença de possíveis tumores”, explica o especialista.

Além de consulta com um especialista, é importante ter acesso exames que possam confirmar o diagnóstico. “Exames laboratoriais, ultrassonografia da bolsa escrotal ou mesmo uma tomografia computadorizada do abdômen e da pelve são procedimentos que podem ser decisivos para a identificação e tratamento do câncer de testículo”, completa Vitor Moura, CEO da plataforma VidaClass Saúde.

Ele destaca a importância de datas simbólicas como o Abril Lilás para conscientizar a população em relação a questões de saúde têm grande importância para popularizar os temas.

“Falar em ‘Abril Lilás’ proporciona uma entrada muito maior nos grupos sociais do que falar em câncer de testículo, por exemplo. A partir disso, as pessoas descobrem que determinados procedimentos são simples, que muitas formas de prevenção são plenamente acessíveis e que inserir certos cuidados em sua rotina pode ter uma importância enorme. Por isso, comunicar um tema tão importante para a sociedade sempre será uma boa ideia”.

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Segundo Victor Araújo, coordenador de Oncologia do Complexo Hospitalar de Niterói, que faz parte da rede Dasa, os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de testículo incluem história familiar da doença, criptorquidia (quando um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal), síndrome de Down e infecção pelo HIV.

A conscientização sobre a doença se mostra fundamental, pois, de acordo com o Ministério da Saúde, quase um terço dos homens não tem o hábito de frequentar serviços de saúde e buscar auxílio na prevenção de doenças, o que pode levar a um diagnóstico tardio e comprometer as chances de cura.

“Por isso, é fundamental que a população masculina esteja atenta aos sinais e sintomas da doença, como a presença de nódulo ou inchaço no testículo, dor ou desconforto na região e sensação de peso no escroto”, acrescenta o dr. Victor Araújo.

Segundo o médico, o tratamento do câncer de testículo geralmente envolve a cirurgia para a retirada do testículo afetado, seguida de radioterapia ou quimioterapia. A escolha do tratamento vai depender do estágio do tumor e das características do paciente. É importante ressaltar que a retirada do testículo não afeta a fertilidade masculina nem a função sexual.

“É fundamental quebrar o tabu em relação à saúde masculina e incentivar os homens a cuidarem da saúde e do bem-estar. Com o tratamento correto, é possível obter uma terapêutica mais eficaz e qualidade de vida para os pacientes com câncer de testículo”, finaliza o especialista Luiz Henrique.

Com Assessorias

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