Em um vídeo publicado em suas redes sociais no início de junho, a cantora britânica Jessie J revelou que foi diagnosticada com câncer de mama em estágio inicial. Aos 37 anos, a artista comunicou aos fãs que fará uma pausa breve na carreira para se dedicar ao tratamento e à cirurgia, prevista para este mês de junho.

Na gravação, Jessie reforça a importância do diagnóstico precoce e compartilha, de forma sincera, o impacto da notícia. “Estou enfatizando o termo ‘estágio inicial’. Câncer é uma droga, de qualquer forma, mas estou me segurando no termo ‘estágio inicial’. Tenho entrado e saído de testes durante esse período”, contou.

Jessie revelou que estava trabalhando muito, mas que decidiu compartilhar o diagnóstico com o público por entender que desabafar já a ajudou em outros momentos. “Fico de coração partido por saber que tantas pessoas estão passando por algo assim ou até pior. Isso é o que me mata. Só queria que vocês soubessem. Não era algo que eu planejava”, disse.

O caso de Jessie reforça um alerta que vem mobilizando especialistas em todo o mundo: o câncer tem atingido cada vez mais pessoas jovens. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Cancer Society (ACS, sigla do inglês American Cancer Society) mostram que, nos últimos 30 anos, os casos de câncer entre adultos com menos de 50 anos aumentaram quase 80% no mundo. 

Os dados revelam uma tendência preocupante: o câncer está afetando cada vez mais mulheres jovens e de meia-idade. O estudo, que projeta mais de 2 milhões de novos casos da doença em 2025 nos Estados Unidos, indica uma mudança significativa no perfil dos pacientes, especialmente em relação ao câncer de mama.

De acordo com o relatório, seis dos dez tipos mais comuns de câncer na população norte-americana estão em ascensão, com destaque para os cânceres de mama e colo de útero. Entre 2012 e 2021, a incidência do câncer de mama aumentou cerca de 1% ao ano na população geral, mas o crescimento foi ainda mais expressivo – 1,4% ao ano – entre mulheres com menos de 50 anos.

Os pesquisadores apontam diversos fatores que podem estar contribuindo para esse aumento, incluindo mudanças nos padrões de fertilidade e estilo de vida. O adiamento da maternidade ou a decisão de não ter filhos, por exemplo, pode reduzir o efeito protetor que a gravidez e a amamentação exercem contra o câncer de mama.

Aumento de 59% no número de casos em 6 anos

No Brasil, a situação não é diferente. Dados do Painel Oncologia Brasil, analisados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), indicam que mais de 108 mil mulheres com menos de 50 anos foram diagnosticadas com câncer de mama no Brasil no período entre 2018 e 2023 – uma média de uma em três mulheres diagnosticadas com a doença.

O levantamento mostra que, entre janeiro de 2018 e dezembro de 2023, o Brasil registrou mais de 319 mil diagnósticos de câncer de mama, sendo 157,4 mil em mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária atualmente recomendada para o rastreamento.

Entre mulheres com idade entre 40 e 49 anos, foram registrados 71.204 casos de câncer de mama, enquanto 19.576 mulheres de 35 a 39 anos também receberam o diagnóstico da doença. Juntas, ambas as ocorrências representam 33% do total de casos diagnosticados no período. Já entre mulheres acima de 70 anos, foram identificados 53.240 casos de câncer de mama.

O Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem alerta ainda para o crescimento do total de casos de câncer de mama no país – em 2018, foram registrados 40.953 diagnósticos, contra 65.283 em 2023, um aumento de 59% em seis anos.

São Paulo lidera os diagnósticos em números absolutos, com 22.014 casos no período observado, seguido por Minas Gerais (11.941 casos), pelo Paraná (8.381 casos), pelo Rio Grande do Sul (8.334 casos) e pela Bahia (7.309 casos).

Na faixa etária entre 50 e 69 anos, atualmente contemplada pelo rastreamento prioritário, São Paulo também apresenta o maior número de casos (36.452), seguido por Minas Gerais (18.489 casos), pelo Rio de Janeiro (13.658 casos), pelo Rio Grande do Sul (13.451 casos) e pelo Paraná (10.766 casos).

Número de óbitos cresceu 38%

Os números também mostram que 38.793 mulheres com menos de 50 anos morreram de câncer de mama, o que corresponde a 22% do total de óbitos no período. Entre as mulheres acima de 70 anos, foram registradas 56.193 mortes (32% do total).

Os dados revelam ainda um total de 173.690 mortes por câncer de mama no país entre 2018 e 2023. O número de óbitos passou de 14.622 em 2014 para 20.165 em 2023 – um aumento de 38% nesse período.

Embora tenha ocorrido redução nos óbitos entre 2020 e 2021, especialmente em algumas faixas etárias, os números voltaram a crescer em 2022 e 2023, possivelmente devido ao impacto da pandemia de covid-19, que prejudicou o acesso ao diagnóstico e tratamento adequados”, destacou o CBR.

Ainda de acordo com a entidade, “a interrupção do rastreamento durante esse período gerou um efeito acumulado, contribuindo para o aumento da mortalidade”. O rastreamento precoce, de acordo com o CBR e com base em relatos de especialistas, pode reduzir em até 30% a mortalidade por câncer de mama.

Isso significa que metade das vidas perdidas para a doença poderia ser salva com um diagnóstico no momento certo”, reforçou o colégio.

Para a entidade, os números reforçam a importância de ampliar o rastreamento do câncer de mama por meio da realização de mamografia em mulheres abaixo dos 50 anos e acima dos 70 anos, faixas etárias que não estão incluídas na recomendação padrão de exames preventivos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Mulheres de 40 a 50 anos já são 30% dos casos de câncer de mama no Brasil

Sociedade Brasileira de Mastologia alerta para morosidade para diagnóstico e tratamento da doença, que deve chegar a 74 mil novos casos em 2024

Em outubro de 2024, durante a campanha Outubro Rosa, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), com base em dados nacionais, revelou que um terço das mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm entre 40 e 50 anos de idade. Diante do “rejuvenescimento” da doença no Brasil, a entidade considera imperativo que o Ministério da Saúde reveja a idade mínima para o início do rastreamento do câncer de mama aos 40, e não mais aos 50 anos.

Como fator de atenção, a SBM também destaca a morosidade para diagnosticar os casos. Da mamografia alterada até a realização da biópsia, o tempo de diagnóstico é de 56 dias na região Norte. No Estado de São Paulo, são 26 dias. Da biópsia ao tratamento, o período é ainda maior, com 196 dias no Norte e 164 no Estado de São Paulo.

Com base em estatísticas do SUS (Sistema Único de Saúde) e do Observatório de Oncologia, plataforma dinâmica de monitoramento de dados abertos e compartilhamento de informações relevantes da área de oncologia do Brasil, a SBM indica que mulheres dos 40 aos 50 anos de idade respondem hoje por 30% dos casos de câncer de mama no País. “Estamos diante de uma realidade preocupante, que aponta o ‘rejuvenescimento’ da doença”, afirma a mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da SBM.

De acordo com o Panorama do Câncer de Mama, painel interativo aberto a médicos, gestores e sociedade civil que reúne informações sobre o SUS, entre 2015 e 2022 mulheres de 40 a 49 anos tiveram diagnóstico tardio em 39,6% dos casos. A faixa etária considerada de risco (entre 50 e 69 anos) responde por 35,3%.

Estes dados também vêm corroborar para uma mudança de paradigma. Atualmente, o Ministério da Saúde preconiza 50 anos a idade mínima para início do rastreamento do câncer de mama, mas é preciso considerar a possibilidade de realizá-lo a partir dos 40 anos”, destaca Rosemar.

Tão importante quanto iniciar mais cedo o rastreamento da doença, o mastologista Carlos Ruiz, assessor especial da presidência da SBM, considera fundamental fazer valer a Lei nº 13.896/2019, conhecida como Lei dos 30 Dias, que prevê que o paciente não espere mais que um mês para ter a confirmação do diagnóstico, aumentando as chances de cura da doença.

O especialista também destaca a Lei dos 60 Dias (Lei nº 12.732/2012), em vigor em todo o território nacional, que estabelece o período máximo de 60 dias para o início do tratamento após a confirmação do diagnóstico.

Embora existam legislações específicas que favorecem o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, temos nos deparado com panoramas preocupantes em todo o País”, afirma o especialista.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, da mamografia alterada até a biópsia, o tempo de diagnóstico supera os 30 dias previstos pela Lei nº 13.896/2019. A região Norte lidera com uma espera de 56 dias, seguida por Nordeste (41), Centro-Oeste (39), Sul (35) e Sudeste (31). No Estado de São Paulo são 26 dias para diagnosticar a doença.

Os dados sobre tempo entre a biópsia e o início de tratamento são ainda mais alarmantes. No Norte, a espera é de 196 dias, com destaque também para o Centro-Oeste (182), Sul (177), Sudeste (176) e Nordeste (162). Especificamente no Estado de São Paulo, a morosidade chega a 164 dias.

O câncer de mama pode levar dez anos para ter um centímetro. Mas pode dobrar de tamanho em seis meses”, ressalta Carlos Ruiz. “Isso tudo para dizer que uma vez diagnosticado, é preciso ter muita rapidez no tratamento, pois as chances de agravamento da doença aumentam dia após dia. Quanto mais grave, mais caro é o tratamento e menores são as chances de cura”, diz o assessor especial da SBM.

Da Agência Brasil e Assessorias

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