As divergências que já vêm de longa data voltaram à tona há alguns dias. Afinal, quando é ideal iniciar o rastreamento para o câncer de mama com a realização periódica de mamografias? Recentemente, uma consulta pública aberta pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) reabriu o debate sobre o rastreamento do câncer de mama.

Para autoridades públicas, como o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o ideal é que a mamografia seja feita a cada dois anos por todas as mulheres entre 50 e 69 anos no Sistema Único de Saúde (SUS).  Entretanto, algumas entidades médicas preconizam que o exame seja anual a partir dos 40 anos. vêm se posicionando contra as novas medidas, pautadas em diversos estudos que confiram a importância de manter as Diretrizes para rastreamento do câncer de mama anual no Brasil, com início aos 40 anos de idade.

A polêmica ganhou novos contornos recentemente, quando a fez consulta pública sobre as atualizações do Manual de Boas Práticas em Atenção Oncológica, usado no Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde. Órgão regulador dos planos de saúde, cabe à ANS fiscalizar o serviço prestado e criar normas e outras iniciativas que melhorem o atendimento à população.

Na semana em que se lembra o Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro) e o Dia Nacional da Mamografia, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) lembra há décadas a realização da mamografia é motivo de preocupação. Isso porque, historicamente, o rastreamento mamográfico no país, que tem a mamografia como exame mais eficaz para o diagnóstico precoce do câncer de mama, se mantém abaixo dos 70% de cobertura populacional, preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Não foram poucos os levantamentos feitos ao longo dos anos que comprovaram esse déficit. O acesso é um problema crônico e a discussão da periodicidade é tudo que não precisamos, pois primeiro temos que potencializar a acessibilidade das mulheres ao exame”, alerta a mastologista Maria Julia Gregorio Calas, presidente da SBM-Rio

A especialista lembra um levantamento realizado por Sandra Gigoia, membro da SBM Rio, através do DataSus, constatando que a cobertura nacional era baixa. Nas Regiões Sul e Sudeste a piora dos resultados no período de 2013 a 2018 foram notórias.

Segundo ela, teoricamente são duas regiões que deveriam servir de exemplo para o resto do país, pois contam com grandes centros de atendimento e detêm um corpo médico muito maior, além de contemplarem maior distribuição de mamógrafos.

É inacreditável grandes centros amargarem um índice baixo de realização desse exame tão importante para as mulheres em pleno século XXI”, afirma Maria Callas, indignada.

A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) também se posicionou institucionalmente CONTRA a atualização que recomenda como critério de boas práticas o rastreamento bienal de mulheres com idade entre 50 e 69 anos, debatida em Consulta Pública da ANS. Diversas entidades discordaram, também, da recomendação proposta.

A razão principal da discordância são os dados que comprovam a necessidade de uma janela de tempo maior de rastreamento. 40% dos diagnósticos de câncer de mama em mulheres brasileiras são realizados abaixo dos 50 anos e 22% das mortes acontecem neste grupo. Quando o tratamento inicia no primeiro estágio do câncer de mama, por outro lado, o índice de cura pode chegar a 95%.

“A FEMAMA segue se mobilizando para garantir acesso ao exame e conscientizar os cidadãos sobre sua importância. A Federação, alinhada com entidades médicas brasileiras como o CBR, a SBM, e a FEBRASGO, defende o rastreamento mamográfico anual para todas as mulheres entre 40 e 69 anos”, afirma a entidade.

 

Mais de 70% da população desconhecem o papel do mastologista

A mastologista sugere alguns caminhos para os gestores públicos aumentarem a cobertura mamográfica de forma organizada. Primeiro a conscientização da população sobre a mastologia enquanto especialidade que cuida da saúde das mamas (mais de 70% da população não sabe disso), segundo ajustar o fluxo do atendimento, diminuindo o tempo para a realização da mamografia, do diagnóstico (biópsia) e do início de tratamento.

Não precisamos mais de leis, mas, sim, que as existentes sejam cumpridas. Todo cidadão tem direito à saúde. Está na Constituição. Tem lei que garante a mulher o direito de realizar a mamografia. Lei que prevê o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico, entre outras. Mas, infelizmente, não é bem isso que acontece”, alerta novamente a médica.

A presidente da SBM Rio lembra que a introdução do rastreamento mamográfico organizado tem diminuído drasticamente a mortalidade por câncer de mama em muitos países. Para ela, pelas dimensões territoriais do Brasil, há uma complexidade, porém, com ações coordenadas é possível melhorar o acesso das mulheres à prevenção e o tratamento.

A nossa dificuldade não é em relação ao número de mamógrafos, pois há equipamentos em número suficiente, embora a grande maioria seja de tecnologia ultrapassada (CR). O que precisamos é aumentar a cobertura, através de organização, com melhor fluxo para a navegação das pacientes e capacitação contínua dos profissionais. Isso otimizaria os recursos já existentes e proporcionaria resultados significativos com melhor eficiência, menor impacto financeiro e, acima de tudo, minimizando a mortalidade”, conclui.

‘Câncer de mama: não podemos adiar o rastreamento da doença’

Médico explica os riscos das alterações propostas recentemente pelo SUS

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum em mulheres no mundo, com incidência de quase 60 a cada 100 mil mulheres. É a maior causa de morte por câncer em mulheres, com taxa de mortalidade de 13,6 a cada 100 mil.

Diante dessa realidade, diagnosticar e tratar precocemente esta doença é imprescindível para o prognóstico e para a redução da mortalidade da doença, explica o médico ginecologista e obstetra Alexandre Rossi, responsável pelo ambulatório de Ginecologia Geral do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros.

“O nosso melhor caminho para isso é o rastreamento mamográfico. Ampliar o intervalo entre os exames ou adiar o início para a sua realização é reduzir as chances de tratamento ou de sobrevivência das mulheres”, alerta o e médico colaborador de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP,

Entenda o câncer de mama

O câncer é uma doença resultante da multiplicação de células anormais. No caso do câncer de mama, esta multiplicação celular acontece na mama, formando um tumor que poderá invadir outros órgãos. Isso depende do tipo do câncer de mama.

Segundo o Dr. Alexandre, em alguns casos, a doença se desenvolve rapidamente, outros não.

“As causas também variam e os riscos de desenvolver a doença aumentam com a idade”.

Fatores de risco

·     Obesidade e sobrepeso após a menopausa

·     Sedentarismo

·     Consumo excessivo de bebida alcoólica

·     Exposição frequente a radiações ionizantes (raios X, mamografia e tomografia)

·     Primeira menstruação antes dos 12 anos

·     Não ter tido filhos

·     Primeira gravidez após os 30 anos

·     Menopausa após os 55 anos

·     Uso de pílula anticoncepcional por tempo prolongado

·     Reposição hormonal pós-menopausa, principalmente se por mais de cinco anos

·     História familiar de câncer de ovário ou mama, principalmente antes dos 50 anos

 

“A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher terá, necessariamente, a doença. Mas é preciso realizar acompanhamento e seguir corretamente as orientações do médico ginecologista”, alerta o Dr. Alexandre.

A detecção precoce do câncer de mama é possível e permite melhores resultados no tratamento, reduzindo as taxas de mortalidade, que ainda são muito elevadas no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

“Qualquer caroço na mama em mulheres com mais de 50 anos deve ser investigado. Em mulheres mais jovens, caroços devem ser investigados se persistirem por mais de um ciclo menstrual”, orienta o médico ginecologista e obstetra Dr. Alexandre Rossi.

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