Alvo recente de uma enorme onda de protestos contra a ameaça de desmantelamento, como o Portal Vida e Ação mostrou aqui, o Programa de Navegação para Pacientes com Câncer de Mama (Navega RJ)  não só está mantido, como deverá ser ampliado, beneficiando ainda mais mulheres.

Considerado inovador no Brasil, o Navega-RJ – que funcionava desde 2017 no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti – agora será estendido para quem recebe o diagnóstico também nas duas unidades do Rio Imagem, no Centro do Rio e na Baixada Fluminense.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), o serviço terá sua capacidade aumentada em 400%, passando de 300 para 1.500 pacientes assistidos. Em cerimônia nesta segunda-feira (20), em pleno Outubro Rosa, o governador Claudio Castro anunciou um investimento anual de R$ 1,2 milhão para o programa.

Também para ampliar a rede de atendimento, o Estado anunciou que investe na construção de dois hospitais especializados em oncologia, em Nova Iguaçu e Nova Friburgo, que vão oferecer novas vagas e ampliar a capacidade da rede pública.

Segundo a SES-RJ, o Instituto Estadual de Oncologia da Baixada Fluminense (Onco Baixada) está com 83% das obras concluídas e terá capacidade para 5 mil atendimentos ambulatoriais, 300 cirurgias e 340 internações por mês, com investimento de R$ 87,3 milhões.

Navega-RJ já atendeu quase 1 mil mulheres

Coordenado pela mastologista Sandra Gioia, o Navega RJ foi o primeiro programa público do país a adotar o modelo de navegação de pacientes.  “O navegador de pacientes é essencial para guiar a mulher pelo sistema de saúde, garantindo que cada etapa ocorra dentro do prazo e com suporte adequado”, explicou a médica.

Segundo comunicado da SES-RJ, desde sua criação, em 2017, quase mil mulheres já foram acompanhadas pelo serviço, que identifica e soluciona entraves de acesso ao tratamento. Já em resposta ao Portal Vida e Ação em maio deste ano, o Governo do Estado informou que “o programa atendeu mais de mil pacientes” somente entre janeiro e abril de 2025.

Além de acelerar o início do tratamento, o Navega RJ reduz a perda de seguimento e melhora o cuidado oferecido às pacientes, que se sentem acolhidas e seguras num momento de vulnerabilidade’, destacou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Secretária de Saúde Claudia Melo fala sobre a ampliação do Navega RJ no Rio Imagem Centro (Fotos: Rafael Campos)

Entenda a polêmica

Em maio deste ano, um abaixo-assinado coletou quase 14 mil assinaturas pedindo a continuidade do serviço no Hospital Estadual da Mulher. De acordo com organizadores da mobilização, o Navega-RJ estava em risco devido ao andamento de um novo processo de contratação da equipe.

A preocupação central das pacientes era garantir que a equipe atual, responsável por idealizar e conduzir o programa com excelência e humanidade, fosse mantida. A mobilização foi parara na  Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

De acordo com a SES-RJ, as equipes do programa “Navega RJ” contam com um coordenador médico, quatro médicos mastologistas, quatro navegadores de pacientes, entre assistentes sociais e enfermeiros capacitados, além de um funcionário administrativo. Não foi informado se a equipe no Hospital da Mulher foi mantida, atendendo ao pedido das pacientes.

Saiba como funciona o programa

Ampliação do Navega RJ – Programa para pacientes com diagnóstico de câncer de mama – Rio Imagem Centro (Fotos: Rafael Campos)

A prática da “navegação de pacientes” consiste em um acompanhamento individualizado por um profissional de saúde, como um enfermeiro, que ajuda o paciente a superar as barreiras do sistema de saúde. Essa abordagem visa reduzir o tempo para o início do tratamento, melhorar a adesão e proporcionar mais suporte emocional ao paciente.

Antes do Navega RJ, a paciente pegava o laudo e ia buscar o tratamento. No programa, a mudança já começa nesse primeiro momento. A mulher recebe o laudo na sala do programa, com apoio imediato para entender o resultado e todo o processo de tratamento.

Em caso de laudo positivo para o câncer, ela já sai do atendimento com a consulta do mastologista agendada. A paciente é acompanhada pelos “navegadores”, com suporte médico, social e emocional em todo o caminho para a cura.

A “navegação” começa na atenção básica, onde um profissional, chamado navegador, orienta o paciente em todo o processo, desde o diagnóstico até as etapas de tratamento.  A navegação garante uma jornada mais organizada para o paciente, que muitas vezes enfrenta barreiras logísticas, emocionais e de informação. O suporte completo leva a uma melhor adesão ao tratamento e melhores resultados clínicos.

Serviço serve de modelo para o país

A contribuição do Rio de Janeiro foi fundamental para a legislação federal sobre navegação de pacientes oncológicos. O programa Navega RJ foi inicialmente destinado a mulheres com câncer de mama, e é voltado para o acompanhamento desde o diagnóstico até o tratamento especializado.

O Projeto de Navegação de pacientes com câncer de mama do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart (HEMulher), foi finalista de um prêmio do Ministério da Saúde e demonstrou bons resultados no acompanhamento dos casos. A Prefeitura do Rio de Janeiro também já havia implementado o projeto de navegação com sucesso, avaliando centenas de casos. 

Histórico e legislação
  • Lei municipal: Em 2021, o trabalho da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e de gestores de políticas públicas, resultou na Lei municipal nº 7.197. Apesar de um veto inicial, essa legislação serviu de base para a criação da lei federal.
  • Lei federal: A Lei federal nº 14.450/2022 instituiu o Programa Nacional de Navegação de Pacientes com Neoplasia Maligna de Mama. Mais tarde, uma política mais ampla, a Política Nacional de Controle do Câncer, estendeu a estratégia de navegação para todos os tipos de câncer.
  • Aperfeiçoamento da prática: Uma portaria do Ministério da Saúde de 2025 operacionalizou a execução do programa de navegação dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Com informações da SES-RJ

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