No Dia Mundial do Brincar, celebrado em 28 de maio, o convite é para que famílias, educadores e cuidadores olhem com mais atenção para o espaço do brincar na rotina das crianças. Porque, sim: brincar é coisa séria. A data destaca a importância do tempo livre e da brincadeira na infância.
Em meio ao aumento do uso de telas, tarefas e compromissos, o tempo livre das crianças tem se tornado cada vez mais escasso. Mas o que acontece quando pulamos etapas? Se você pensou em insegurança, ansiedade ou frustração, está no caminho certo — e com as crianças não é diferente.
A infância é a base de tudo. E o brincar não é apenas uma forma de passar o tempo — é um direito e uma necessidade fundamental para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança”, explica a psicóloga Laís Mutuberria, especialista em saúde mental e parentalidade. “É por meio das brincadeiras que ela experimenta o mundo, processa emoções, desenvolve empatia e aprende a lidar com frustrações.”
Quando o tempo da infância é atropelado
Na tentativa de acelerar o aprendizado ou “preparar” os filhos para o futuro, muitas famílias acabam restringindo o tempo do brincar livre e apostando em rotinas cheias de atividades estruturadas, agendas apertadas e até estímulos que não são compatíveis com a fase do desenvolvimento.
Uma criança que não é autorizada a brincar com liberdade e presença, ou que é pressionada a corresponder a expectativas adultas desde muito cedo, pode crescer com dificuldades emocionais, comportamentais e até motoras”, alerta Laís.
Entre os sinais mais comuns estão irritabilidade, baixa autoestima, dificuldade de socialização e ansiedade. “Muitas mulheres acumulam responsabilidades e sofrem com uma cobrança interna por produtividade constante, o que pode dificultar a entrega ao lúdico”, comenta.
O brincar como ferramenta de regulação emocional
Brincar não é apenas divertido — é terapêutico. É no faz-de-conta, na fantasia e nas interações com outras crianças que os pequenos ensaiam o que vivem internamente e elaboram situações que ainda não conseguem expressar com palavras.
Uma criança que ‘cozinha’ uma emoção numa brincadeira está digerindo aquilo que sente. Um adulto que valoriza isso está ajudando a construir um ser humano mais equilibrado”, afirma Laís. “Por isso, respeitar o tempo da infância é, acima de tudo, um compromisso com o desenvolvimento emocional saudável.”
Mais do que brinquedos ou atividades elaboradas, o que as crianças precisam é de tempo de qualidade, conexão afetiva e liberdade para explorar — inclusive o tédio, que também faz parte do processo criativo e da autonomia.
Nem sempre é fácil brincar> desafio para as mães
Apesar de ser fundamental para o desenvolvimento infantil, o brincar ainda é um desafio para muitos adultos, especialmente para algumas mães. A psicóloga Laís Mutuberria, que também atua com orientação de pais, explica que esse distanciamento do brincar pode estar ligado a crenças inconscientes como “brincar é perda de tempo” ou “não sou criativa o suficiente para isso”.
Não é uma questão de gênero, mas de construção social e mental. Muitas mulheres acumulam responsabilidades e sofrem com uma cobrança interna por produtividade constante, o que pode dificultar a entrega ao lúdico”, afirma.
Além disso, algumas pessoas não tiveram modelos de referência na infância que estimulassem a brincadeira espontânea, e isso impacta o repertório disponível na fase adulta.”
Segundo a especialista, a boa notícia é que esse vínculo pode ser reconstruído. “Brincar é uma habilidade que se aprende. Começar com pequenos momentos de conexão — mesmo que pareçam desajeitados no início — já é um passo importante.” No entanto, é justamente nesse espaço livre e desestruturado que surgem as brincadeiras mais criativas e os aprendizados mais significativos.
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Semana Mundial do Brincar: o brincar no desenvolvimento infantil
Entre os dias 24 de maio e 1 º de junho, mobilização internacional convida a comunidade escolar a refletir sobre a relevância do tempo dedicado a atividades lúdicas, que contribuem para a formação de crianças mais seguras, criativas e empáticas. Realizada anualmente, a Semana Mundial do Brincar é uma mobilização internacional que defende o brincar como direito fundamental e um aspecto essencial para desenvolvimento integral das crianças.
A iniciativa, promovida pela Aliança da Infância, convida famílias, educadores e instituições a refletirem sobre a importância do tempo dedicado a atividades lúdicas e interações que fortalecem vínculos afetivos, estimulam a criatividade e promovem o bem-estar das crianças. Além da diversão, atividades como essas ajudam no desenvolvimento das crianças.
A ciência do desenvolvimento humano comprova que o brincar estimula múltiplas áreas do cérebro e fortalece habilidades cognitivas, emocionais, motoras e sociais. Essa ação é, portanto, uma prática potente e integradora”, afirma Clarissa Lima, assessora pedagógica da Plataforma Amplia. “A brincadeira promove a formação de crianças mais seguras, criativas e empáticas”, acrescenta.
A especialista explica que segundo as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) os elementos fundamentais do currículo da Educação Infantil devem ser justamente a interação e a brincadeira, e isso também se estende como princípio educativo nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O brincar é, portanto, um modo legítimo de aprender, não um oposto da aprendizagem, mas um caminho para ela. Pode acontecer no quintal, na sala de casa, no trajeto até a escola, com objetos do cotidiano ou com o próprio corpo”, indica Clarissa.
Ela reforça que escolas podem integrar atividades lúdicas no currículo pedagógico sem comprometer o processo de ensino e aprendizagem. Jogos de regras para desenvolver noções matemáticas, brincadeiras de faz-de-conta para trabalhar habilidades de linguagem, ou, ainda, brincadeiras cooperativas para fortalecer competências socioemocionais são exemplos de práticas pedagógicas que propõem brincadeiras O aprendizado lúdico transforma a escola em um espaço mais significativo para as crianças. Ele potencializa a curiosidade, a imaginação e a motivação para aprender.
Live sobre a importância do brincar
Durante a semana da campanha, a Plataforma Amplia fará uma live especial no Instagram com foco nessa temática. Marcado para os dias 28 e 30 de maio, às 18h, com a participação de escolas parceiras, o encontro on-line visa discutir a importância do brincar na escola e compartilhar boas práticas pedagógicas que colocam o brincar no centro da experiência educativa.
A proposta é visibilizar experiências inspiradoras que mostram como o brincar está presente nos planejamentos e nas práticas cotidianas, além de proporcionar uma oportunidade de escuta, troca e valorização do trabalho das escolas que reconhecem a potência do brincar como direito e como estratégia de aprendizagem.
Para acompanhar, acesse o Instagram @ampliaplataforma.