Para comprar um smartphone de R$ 1.500 um brasileiro que tem uma renda média trabalha 193 horas ou 25 dias e meio de trabalho. No Dia Internacional do Trabalhador, comemorado em 1º de maio, o Instituto Akatu, ONG que atua há 16 anos pelo consumo consciente, promove a reflexão sobre quanto tempo consumimos do nosso trabalho para comprar coisas que muitas vezes são desperdiçadas ou adquiridas por impulso.
O Instituto realizou algumas estimativas do tempo gasto, em média, pelo brasileiro para trabalhar e comprar alguns itens. Por exemplo, para comprar um tênis que custa R$ 200, por exemplo, um brasileiro de renda média precisa trabalhar 25 horas e 48 minutos, ou seja, mais de 3 dias. A compra de um cosmético de R$ 20, como um creme hidratante ou um xampu, e que muitas vezes acaba sendo esquecido, exige que um brasileiro de renda média trabalhe 2 horas e 15 minutos.
Há bastante tempo de trabalho dedicado até mesmo para as compras na feira. Se uma pessoa deixa estragar 1 quilo de bananas compradas por R$ 5, por exemplo, jogou fora 40 minutos de trabalho – sem contar o desperdício de recursos naturais, como a água consumida para cultivar a fruta. São gastos 790 litros de água para produzir 1 quilo de banana, na estimativa da ONG Water Footprint.
“Queremos incentivar que o consumidor reflita sobre suas compras e evite fazê-las por impulso, o que representa um desperdício não só em termos do gasto do seu dinheiro e de recursos naturais, mas também do uso de um precioso tempo de sua vida. Tempo livre é algo muito precioso para todos nós e não devemos dedicá-lo ao trabalho para comprar o que não precisamos”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.
É claro que é necessário usar parte do tempo para trabalhar, ganhar dinheiro, e adquirir bens de consumo que são úteis e necessários. No entanto, nem sempre os bens comprados caem nessas categorias. Basta dizer que, mais de um terço dos consumidores (33%) no Brasil compram bens que não são necessários, motivados basicamente por promoções do comércio, de acordo com um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Nas classes C, D e E, esse percentual sobe para 35%. Outra pesquisa do SPC Brasil, divulgada em 2015, revelou que mais da metade dos consumidores brasileiros (53%) admitem ter realizado pelo menos uma compra por impulso nos últimos três meses.
Será que eu preciso mesmo disso?
Para ajudar o consumidor na hora das compras, o Instituto Akatu recomenda que o consumidor pense nas seguintes perguntas: Por que comprar? Eu preciso mesmo disso ou estou apenas sendo seduzido por promoções e anúncios? “É verdade que, para muitas pessoas, não há opção de trabalhar menos horas por dia. Até por isso, é importante que cada pessoa tenha consciência do que faz com o seu tempo livre. Passar mais tempo ao lado da família e dos amigos, por exemplo, pode ser mais desejado do que receber como presente um objeto, visto que o que precisamos nem sempre é material. De outro lado, é também importante avaliar o quanto somos induzidos pela publicidade a fazer uma troca de um equipamento eletrônico, com a promessa de ficarmos mais eficientes e atualizados, sem que o novo equipamento seja necessário para o que realmente precisamos”, afirma Helio.
Como calculamos
Dois números foram considerados como base para nossos cálculos de horas trabalhadas pelos brasileiros: segundo o escritório de St. Louis, do Federal Reserve (FED), o banco central americano, a média brasileira foi de 1.711 horas de trabalho no ano de 2014. Para a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a média brasileira é de 1.763 horas por ano. Tomamos a média dessas duas estimativas e chegamos a 1.737 horas trabalhadas ao ano.
Considerando que um brasileiro trabalha 1.737 horas por 11 meses (1 mês de férias), isso equivale a trabalhar 158 horas por mês. Considerando o rendimento mensal de R$ 1.226 (renda média do brasileiro em 2016, segundo o IBGE), calculamos o ganho por hora em R$ 7,75 – que foi considerado para fazer os cálculos acima. Vale ressaltar que os resultados têm apenas objetivos didáticos – no sentido de ilustrar o valor de um produto comprado em horas de trabalho, provocando a percepção de que a compra de um produto significou entregar algumas horas da vida em troca.
Fonte: Instituto Akatu