O pequeno Diego nasceu prematuro e passou pelos cuidados na UTI Neonatal da Perinatal
O pequeno Diego nasceu prematuro e passou pelos cuidados na UTI Neonatal da Perinatal

Eles são apressadinhos e vêm ao mundo às vezes um, dois, até três meses antes da hora… Ou mais! No mês em que se lembra o Dia Mundial da Prematuridade (17 de novembro), dados indicam a alta prevalência de bebês prematuros no Brasil. São 340 mil bebês que nascem precocemente todo ano, o equivalente a 931 por dia, ou 40 por hora, ou a seis a cada 10 minutos, indicando uma taxa de prematuridade de 12,4%.

Esses dados são do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde e confirmados por uma pesquisada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que acompanhou 30 mil nascimentos em 20 maternidades referência das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país. No mundo, nascem em torno de 15 milhões de prematuros.

São bebês como Diego, que nasceu aos cinco meses, com 23 semanas e apenas 555 gramas. Foram quase quatro meses na UTI Neonatal da Perinatal Laranjeiras, no Rio de Janeiro, onde passou por três cirurgias e três transfusões de sangue. O “pequeno grande homem” – como foi carinhosamente apelidado pela equipe médica na época, por sua enorme batalha – recebeu alta pesando 2.310 kg e com 44 centímetros.

O pai, Cláudio Roberto Nunes, conta que a gravidez corria bem até que, praticamente na metade do termo, sua mulher, Suzane Nunes, deu à luz. “Quando Diego nasceu foi muito difícil para a gente porque ele era prematuro extremo e não sabíamos o que era isso. A gente ficou muito assustado, não conhecíamos nenhuma história sobre prematuridade e não tínhamos tido essa experiência ou nada parecido”, conta ele, que na época prometeu que subiria as escadas da maternidade de joelhos, do térreo ao quinto andar, onde seu filho ficou, em agradecimento a Deus. E assim foi.

Hoje, Diego leva uma vida normal, mas essa história poderia ser diferente há alguns anos. Por décadas, muitos médicos perdiam seus pacientes pela limitação técnica e tecnológica da própria medicina. Não se tinham tantos recursos e os profissionais trabalhavam por meio da percepção e do tratamento tardio. Com isso, muitos sintomas não visíveis passavam despercebidos, desperdiçando um tempo precioso que poderia salvar vidas ou evitar graves sequelas. Se há 25 anos a sobrevivência de bebês com 500 gramas ou nascidos com apenas 24 semanas de gestação ficava entre 20% e 30%, hoje, as chances são de até 90%.

Precisão e agilidade no diagnóstico

O médico Jofre Cabral, diretor clínico da UTI Neonatal da Perinatal Laranjeiras, que cuidou do Diego, explica que o segredo é a precisão e agilidade no diagnóstico e tratamento, especialmente quando o bebê vai para a UTI Neonatal. “Quando recebemos um bebê com prematuridade extrema, imediatamente fazemos os exames necessários para identificar problemas que não podem ser vistos a olho nu. Como muitos casos apresentam apenas sintomas subclínicos, é de vital importância para antecipar problemas que podem se tornar graves”, explica o médico.

Ele, que já cuidou de bebês de até mesmo de 385 gramas, cita como exemplo o eletroencefalograma ampliado, que faz análise da atividade elétrica do cérebro e sua função neurológica em dois canais, e o ultrassom transfontanela, usado para avaliar a  anatomia cerebral e abdominal e, assim, identificar malformações no sistema nervoso, hemorragias intracranianas e alterações hepáticas.

No caso de Diego, foram necessárias a cirurgia para correção visual, conhecida como retinopatia através da laserterapia e outra para corrigir uma hérnia inguinal. Além disso, ele teve que superar a imaturidade do pulmão que é extremamente grave, ficando 54 dias no respirador de ventilação mecânica, depois 25 dias na ventilação não invasiva, chamada CPAP, mais quatro dias no capacete de oxigênio e oito dias com o cateter nasal de oxigênio.

Ainda na questão do tempo, Dr. Jofre ressalta que caso a gestante já tenha sinais de que o bebê possa nascer prematuramente, o indicado é fazer um planejamento para parir em unidades prontas para o rápido atendimento de emergência, evitando transferências que podem ser dificultadas pelo estado de saúde da paciente. “O útero é melhor transporte mais seguro para o bebê”, afirma.

“Além dos equipamentos de ponta, a experiência que acumulamos na Perinatal durante esses anos nos trouxe pleno entendimento da fisiopatologia do bebê prematuro. Nos tornamos referência no tratamento de malformações congênitas, como a hérnia diafragmática e a mielomeningocele, com experiência no atendimento pré e pós-operatório”, explica o médico.

Dr. Jofre destaca ainda que, com toda essa tecnologia, nada substitui o afeto dos pais. A humanização é e sempre será o grande trunfo na recuperação de prematuros extremos nas unidades intensivas. “Respeitamos os horários do bebê, abaixamos as luzes na hora de descanso e trabalhamos para aproximar o paciente da mãe através de técnicas simples como o canguru, que melhora o desenvolvimento da criança a olhos vistos. Isso muda o prognóstico da criança. Sem dúvidas, a combinação entre conhecimento, tecnologia e o colo da mãe tem sido o nosso grande alicerce”, afirma Dr. Jofre.

Método Canguru é aliado no tratamento

Dados do Ministério da Saúde indicam que foram registrados 158 mil nascimentos de bebês prematuros no país até o final de setembro deste ano. Nesse mesmo período, ocorreram 96 nascimentos desse tipo no Hospital e Maternidade Santa Lúcia, no Rio de Janeiro. Em todos eles, os pais receberam incentivo para a prática do método Canguru enquanto acompanhavam o período de internação dos filhos no Centro de Tratamento Intensivo Neonatal (Cetrin) da instituição.

O método Canguru, criado em 1979, na Colômbia, e adotado há 15 anos no hospital, destaca-se como um importante aliado no tratamento dos bebês nascidos prematuramente, ou seja, antes de 37 semanas. Por meio dele, os prematuros são colocados em contato direto com a pele dos pais para estimular a ligação afetiva, o que contribui para a redução da dor e a estabilização dos seus batimentos cardíacos, sua oxigenação e sua temperatura corporal.

“O contato direto com a pele da mãe e do pai reforça o vínculo entre pais e filhos desde os primeiros dias de vida. Os bebês reconhecem o som do coração e a voz dos pais. Assim, ficam mais serenos e os pais ganham confiança com os cuidados que precisam ter quando estiverem em casa, sem o suporte de uma equipe profissional”, explica Nicole Gianini, neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Lúcia.

A metodologia, uma política de atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso do Ministério da Saúde, faz parte da rotina da instituição e sua equipe multidisciplinar é continuamente capacitada para a sua utilização. “Nos casos em que o método é adotado, o tempo de internação dos recém-nascidos prematuros tende a ser menor, dependendo das intercorrências que cada um apresenta”, completa a médica.

Fatores que influenciam na prematuridade

O nascimento prematuro pode ocorrer em razão de diversos fatores, como infecções, pressão alta, descolamento de placenta, diabetes e alterações da tireoide, entre outros. Alguns fatores estão relacionados diretamente à mãe e sua condição de saúde, enquanto outros são próprios do período gestacional. “Obesidade, idade avançada, tabagismo e pressão arterial elevada são alguns dos fatores responsáveis por elevar o risco de um parto prematuro. No entanto, mais da metade dessas ocorrências acaba acontecendo de forma espontânea”, comentam Luciana Marques e Natalia Modica, enfermeiras da Criogênesis.

Há ainda outros fatores que influenciam nos partos prematuros e que podem acometer tanto mulheres que já foram mães quanto as de primeira gestação, como explicam as profissionais: “malformação fetal, encurtamento do colo do útero ou insuficiência deste, além de um pré-natal inadequado, também podem contribuir para esta situação. Bebês que nascem antes do tempo tem mais possibilidade de desenvolver atraso psicomotor e problemas no pulmão”, alertam.

Para prevenir o problema, as gestantes tem de estar permanentemente atentas a qualquer sinal diferente do organismo. “Infecções e inflamações, estresse, sangramentos vaginais e distensão abdominal, no caso de gestações múltiplas como as gemelares, são fatores de risco para o trabalho de parto prematuro. A manifestação é o endurecimento da barriga persistente e repetitivo na paciente em repouso”, ressaltam.

Dicas para uma gestação saudável (até o fim)

Além das consultas e exames do pré-natal, as futuras mamães podem seguir algumas recomendações para uma gestação saudável até o final. Veja as dicas elaboradas por especialistas da Criogênesis:

·         Revele ao médico o seu histórico de saúde. Doenças crônicas e reações alérgicas, assim como o histórico de saúde do pai do bebê, devem ser revelados.

·         Mantenha-se em uma faixa de massa corporal adequada. Converse com o obstetra e, se preciso, faça o acompanhamento da dieta alimentar com uma nutricionista.

·         Evite bebidas alcoólicas: o álcool, durante a gestação, mesmo em doses muito pequenas, pode ter efeitos bastante nocivos para a criança, incluindo retardo mental, dificuldades de aprendizagem, defeitos na face e problemas de desenvolvimento.

·         Não fume. As mulheres devem parar de fumar não apenas durante a gravidez, mas também durante a amamentação.

·         Mantenha o calendário de vacinação atualizado. Converse com seu obstetra sobre o assunto: algumas vacinas estão contraindicadas na gravidez e outras necessitam reforço.

·         Esteja alerta para sangramentos e observe líquidos e secreções vaginais.

·         Nunca faça automedicação. Anti-inflamatórios podem trazer sérias complicações para o bebê.

Fontes: Criogênesis, Perinatal e Hospital e Maternidade Santa Lúcia

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