As vacinas existem há mais de 200 anos e vêm nos protegendo contra doenças que ameaçam nossas vidas. A imunização é a principal estratégia de prevenção de doenças e agravos, com a redução da mortalidade de doenças como a poliomielite, varíola, tétano, sarampo, caxumba, febre amarela e coqueluche, prevenindo milhões de mortes e casos de doenças imunopreviníveis a cada ano

A segurança e a eficácia das vacinas têm sido reiteradamente comprovadas há décadas. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) vem desempenhando papel central no controle e eliminação de diversas patologias, como o sarampo e a poliomielite, e, historicamente, serve de exemplo a outras nações.

O Dia Mundial da Imunização (9 de junho) é uma data importante para reforçar a conscientização sobre a importância das vacinas e da imunização em geral na contribuição para a queda da mortalidade infantil, na erradicação de doenças como a varíola, controle da rubéola e do sarampo.

A queda da cobertura vacinal é uma questão de saúde pública que tem afetado populações de diversos lugares do mundo, sendo um fenômeno multifatorial. O declínio global das coberturas vacinais levou a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, a definir a hesitação vacinal como uma das dez maiores ameaças mundiais à saúde pública.

A hesitação vacinal envolve dúvidas sobre a segurança, eficácia ou necessidade das vacinas, bem como preocupações sobre efeitos colaterais. Ela pode ser influenciada por uma variedade de fatores, incluindo desinformação, falta de confiança nas fontes de informação, crenças culturais ou religiosas, entre outros”, explica Ana Karolina Barreto Berselli Marinho, membro do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

No Brasil, a queda da cobertura vacinal teve início em 2012, acentuando-se a partir de 2016, e sendo agravada pela pandemia de Covid-19. Essa é uma realidade preocupante à medida que se observa o reaparecimento de algumas doenças imunopreveníveis, em território nacional, e que já haviam sido extintas, já que nenhuma das vacinas, nos últimos anos, alcançou cobertura vacinal adequada.

Brasil começa a recuperar coberturas de vacinas em crianças

Segundo dados da OMS, divulgados em abril de 2023, no país, quase 26% da população infantil não recebeu nenhuma dose de vacina em 2021. Vacinas essenciais como a BCG, a tríplice bacteriana e as contra a hepatite B e a poliomielite, todas têm taxas de cobertura menores que as médias mundiais.

Segundo dados do Ministério da Saúde, desde 2016, revela que o Brasil tem registrado uma redução nas coberturas vacinais, no caso de crianças, para enfermidades já erradicadas.

Porém, em 2023, foi registrado um aumento nas coberturas vacinais de 13 dos 16 principais imunizantes do calendário infantil do SUS, em relação a 2022. O resultado, obtido com dados de todo o país, consolida a reversão da queda dos índices vacinais enfrentada pelo Brasil desde 2016. 

A retomada do aumento da cobertura vacinal é atribuída á estratégia de microplanejamento, que consiste em um método de trabalho que desenvolve, de forma ordenada e sistemática, a programação, a organização, a coordenação, a execução e a avaliação das estratégias de vacinação no território.

Impacto na saúde pública com a diminuição da cobertura vacinal

Segundo João Gregório Neto, professor do curso de Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina, enfermeiro e analista de saúde do Programa de Imunizações da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, com o advento da primeira vacina, da varíola, desde o século 18, observamos o aumento da estimativa de vida da população mundial, além da melhoria da qualidade de vida, principalmente nos países em desenvolvimento.

No Brasil, a vacinação é uma estratégia pública e de saúde, antes mesmo do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa Nacional de Imunizações é um dos principais serviços de vacinação do mundo, oferecendo proteção contra mais de 20 doenças, resultando a erradicação e na redução drásticas de várias doenças”, explica.

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A seguir, o especialista fala do impacto na saúde pública com a diminuição da cobertura vacinal.

Qual a importância da imunização na saúde pública?

Infelizmente, acompanhamos a diminuição da cobertura vacinal no Brasil e no mundo. A imunização adequada é de 95%, para as vacinas de rotina em crianças, porém mesmo com um leve aumento da cobertura vacinal no ano de 2023, ainda continua distante da meta de cobertura, observamos no Brasil, como exemplo, a vacina da poliomielite, que no ano de 2022 a cobertura foi de 67,1% e em 2023 foi 74,6,0%.

Outro exemplo, é a vacina contra o Sarampo, que a cobertura em 2022 foi de 80,7% e de 85,6 no ano de 2023. Os dados são preocupantes e acende um alerta para o reaparecimento de doenças já erradicadas como a poliomielite ou o aumento de doenças controladas como o Sarampo, coqueluche, tétano, meningites e outras.

Além das vacinas de rotina temos a vacinação de campanhas, como a influenza, que neste momento a cobertura está em torno de 38,06%. Ainda, destaco o início da vacinação contra a dengue, que atualmente o público elegível são os adolescentes entre 10 a 14 anos em cerca de 1.735 municípios no Brasil, com cerca de 1.514.590 doses aplicadas, números de vacinados menores do que esperado pelo Ministério da Saúde.

Quais as causas da diminuição da cobertura vacinal?

As causas para a diminuição da cobertura vacinal são inúmeras, como informações espalhadas nas redes sociais em que as vacinas são ineficazes e com diversas reações adversas, mas a principal é o movimento antivacina, que se fortaleceu na Europa e América Central na década de 80, com algumas informações falsas em relação as vacinas e atualmente observamos o que chamamos de hesitação vacinal, que é a escolha das vacinas. Acompanhamos isso nas unidades de saúde, em que o responsável pela criança quer escolher qual vacina deve ser aplicada. Temos um desafio para mudar este cenário.

Quais ações de conscientização estão sendo realizadas?

São realizadas diversas ações, como a ampliação dos horários das unidades de saúde; o microplanejamento, em que os técnicos do Ministério juntamente com as secretarias estaduais e municipais reconhecem e intervêm nos problemas do território; capacitação permanente dos profissionais da saúde; melhorias dos sistemas de informação, com a Rede Nacional de Dados em Saúde; publicidade efetiva em relação a importância da vacinação, como o Movimento Nacional pela Vacinação; as ações nas escolas, exemplo é o Município de São Paulo que criou a Declaração de Vacinação Atualizada, uma parceria entre as escolas e as unidades de saúde.

Mas vejo que necessitamos de uma atuação mais efetiva do poder público, principalmente, em relação a gestão dos imunobiológicos e publicidade positiva sobre as vacinas. A União Europeia divulgou em maio um boletim epidemiológico constando o aumento da coqueluche em pelo menos 17 países europeus, assim é fundamental manter a vacinação em dia para essa doença, no SUS temos diversas vacinas que previne a coqueluche, como a pentavalente, contudo a cobertura atual da vacina é de 84,90%.

Há bloqueio de transmissão de doenças pela vacinação?

Sim, por exemplo, quando se tem um caso de varicela, conhecida como catapora, em uma determinada localidade, a vigilância epidemiologia, juntamente com a unidade de saúde intensificam a ação de vacinação no local. Sendo assim, destaco a importância de notificar as doenças imediatamente, para que a ação de vacinação aconteça o quanto antes.

Além disso, temos a Campanha de Vacinação contra a Influenza, que acontece anualmente nos meses que antecedem o inverno, a vacinação contra a Covid-19 e contra a dengue, na qual estamos passando pela epidemia, o que demostra a importância da vacinação de reforço e revela que a vacinação é a principal ação de prevenção coletiva, pois a partir do momento que a população foi vacinada observamos a diminuição da doença e da mortalidade.

Conheça os 5 C’s da OMS que fazem parte da hesitação vacinal

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) listou a hesitação vacinal como uma das 10 ameaças globais à saúde e identificou os 5 C’s que podem influenciar a decisão de vacinar:

1️. Confiança: Construir confiança nas vacinas através de informações transparentes e precisas é essencial. Compartilhe fontes confiáveis e dados verificados! Você sabia que no Brasil, 88% das pessoas acham que as vacinas são importantes para as crianças? Esse dado foi divulgado pela plataforma “vaccine confidence”, disponível em https://www.vaccineconfidence.org/vci/map/.

2️. Complacência: Perceber a gravidade de uma doença e a importância da vacinação é vital. Educar sobre os riscos e benefícios é fundamental para combater a complacência. Quando as pessoas se veem diante de um risco (ex: epidemia de febre amarela, pandemia da covid-19), existe uma maior tendência a se vacinar contra as doenças.

3️. Conveniência: Facilitar o acesso às vacinas reduz barreiras. Locais de vacinação acessíveis e horários flexíveis são fundamentais para garantir que todos tenham acesso facilitado.

4️. Comunicação: Mensagens claras e compreensíveis são essenciais. Seja uma fonte de informação confiável para amigos e familiares!

5️. Contexto: Compreender as preocupações específicas de cada comunidade faz parte das estratégias de vacinação para alcançar elevadas coberturas vacinais. Adapte a comunicação e os serviços para atender às necessidades e cultura locais.

Diante da baixa adesão às vacinas e, consequentemente a volta de doenças que já estavam erradicadas, como a poliomielite, por exemplo, é preciso buscar estratégias para que a vacinação volte aos patamares do passado.

A conscientização e a educação são fundamentais para ajudar as pessoas a tomar decisões informadas e proteger a si mesmas e à comunidade contra doenças evitáveis por vacinação Juntos, podemos combater a hesitação vacinal e trabalhar para um mundo mais saudável e sustentável”, enfatiza Dra. Ana Karolina.

Com informações da Faculdade Santa Marcelina e Asbai

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