A equidade no acesso a pesquisas, tratamentos avançados e drogas no combate ao câncer estarão no centro dos debates do Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), maior congresso de oncologia do mundo. O evento, que acontece entre os dias 2 e 6 de junho, em Chicago, nos Estados Unidos, discutirá formas de garantir que as abordagens de cuidado sejam acessíveis aos pacientes de forma global.

Na edição deste ano, mais de 2.900 trabalhos científicos serão apresentados sobre diversos tipos de câncer. Os cinco temas principais desse ano são os avanços médicos ligados à imunoterapia em diversos tipos de tumor, formas de diagnóstico de medicina de precisão e de terapia-alvo, disparidade e equidade no tratamento do câncer, que ainda representam um desafio em todo o mundo.

As terapias envolvendo as células CAR-T continuam promissoras pelos resultados positivos e novos estudos devem ser divulgados durante a Asco. Além de novidades terapêuticas em áreas como Car-T, serão apresentadas novas formas de terapias gênicas, drogas alvo moleculares e linhas de cuidados individualizadas para controle de diferentes tipos de tumores. Outros avanços são as novas estratégias baseadas em rádio ligantes e anticorpos biespecíficos – ferramentas que, no futuro, iremos usar cada vez mais no tratamento oncológico.

Estudos brasileiros também serão apresentados durante o evento

O Brasil marca presença mais uma vez na Asco, com uma representação de peso. Além de estudos em diferentes frentes desenvolvidas por médicos oncologistas brasileiros, o país terá seus representantes na programação de apresentações orais em diferentes salas, compartilhando conhecimento com toda a comunidade oncológica mundial em busca das melhores alternativas de cuidados aos pacientes oncolológicos.

Grandes grupos que atuam na rede privada brasileira vão apresentar seus trabalhos. Entre os destaques, uma série de estudos brasileiros produzidos pela Oncoclínicas irá compor a programação da edição 2023. Ao todo, uma comitiva formada por mais de 80 profissionais do maior grupo de tratamento oncológico da América Latina participará do evento, onde serão apresentados 17 trabalhos desenvolvidos pelo corpo clínico.

“O câncer se tornará a doença mais incidente e de maior causa de morte no mundo até 2040, segundo a OMS ( Organização Mundial de Saúde). Por isso, investir em pesquisa é primordial. A equidade no acesso aos tratamentos de ponta em toda a jornada do paciente oncológico depende fortemente de um empenho global das instituições médicas e de políticas públicas”, comenta o oncologista Bruno Ferrari, fundador e CEO do Grupo Oncoclínicas.

O grupo divulgará ainda dados inéditos de outros cinco estudos realizados por meio da aliança estratégica com a espanhola MedSir, empresa de desenvolvimento e coordenação de pesquisas clínicas com foco em oncologia da qual a Oncoclínicas é sócia. O objetivo é promover a pesquisa oncológica independente em todo o mundo.

Uma equipe de 12 médicos oncologistas da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, que vem ampliando ano a ano sua atuação em pesquisas científicas, também participa do evento e apresentará resultados de dois trabalhos sobre câncer de mama.

Para Antônio Buzaid, diretor médico geral do Centro de Oncologia e Hematologia da BP, esses estudos demostram como o grupo segue no desenvolvimento constante de soluções para gerar saúde, podendo fazer diferença na prática clínica e na qualidade de vida dos pacientes.

“A atualização médica é uma constante e todo ano vemos na ASCO uma ampla gama de descobertas e inovações na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer. Fazemos isto para oferecer sempre uma medicina de última geração aos nossos pacientes”, afirma.

Veja o que os brasileiros vão apresentar

Estudo sobre câncer de mama na pré-menopausa

Com oito autores da BP, o pôster “Eficácia da supressão ovariana com gosserrelina trimestral versus mensal em pacientes com câncer de mama na pré-menopausa” será apresentado no dia 4 na Asco.

A pesquisa foi realizada entre 2020 e 2023 e avaliou a eficácia da supressão ovariana em pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo, na pré-menopausa, que receberam tratamento com gosserrelina mensal ou trimestral como terapia endócrina.

“Um dos pilares do tratamento do câncer de mama na pré-menopausa, principalmente em pacientes com alto risco de recorrência do tumor, é a hormonioterapia associada a supressão ovariana. A gosserrelina é um análogo do GnRH que atua na inibição do estradiol produzido pelos ovários nas mulheres na pré-menopausa”, explica a oncologista Daniella Audi, da BP, uma das autoras do estudo.

Segundo ela, é muito comum ainda o uso de gosserrelina mensal na maior parte dos centros, pois os grandes estudos da literatura usaram uma formulação mensal. “Entretanto, na nossa prática clínica observamos que a formulação trimestral de gosserrelina se mostrava bastante eficaz”, explica.

Devido à escassez de dados nesse cenário, a equipe da BP desenvolveu um estudo retrospectivo com análise de prontuários eletrônicos das pacientes com câncer de mama na pré-menopausa que receberam esse tratamento na instituição nos últimos 10 anos.

Foram avaliadas 88 pacientes, das quais 27 receberam gosserrelina mensal e 61 gosserrelina trimestral, sendo utilizado um método ultrassensível, chamado espectrometria de massa, mais preciso, para a aferição dos níveis de estradiol.

O resultado da pesquisa indicou que cerca de 40% das pacientes que fizeram a aplicação mensal tiveram pelo menos uma aferição de estradiol acima do limite desejado e no grupo trimestral somente 14%, configurando uma diferença com significância estatística.

“Nosso estudo sugere que a aplicação de gosserrelina trimestral pode apresentar melhor eficácia na supressão ovariana, além de proporcionar maior conveniência para as pacientes”, diz a Dra. Daniella.

Câncer de mama metastático HER2 positivo e T-DM1

A BP também apresenta na Ascom 2023 o estudo “Resultados da eficácia a longo prazo do T-DM1 após a descontinuação devido à toxicidade limitante em pacientes com câncer de mama metastático HER2 positivo”.

De autoria de oito médicos da instituição, a pesquisa avaliou pacientes com câncer de mama do tipo HER2 positivo no cenário metastático que fizeram tratamento na BP com o medicamento T-DM1, um anticorpo conjugado à droga, utilizado geralmente em segunda linha.

De acordo com Daniella Audi, na prática clínica observou-se que uma parcela significativa de pacientes que atingiram boa resposta com T-DM1, mas que em algum momento tiveram que interromper o tratamento por alguma toxicidade limitante (como plaquetopenia, náuseas, vômitos, fadiga, neuropatia periférica ou pneumonite), mantiveram essa resposta a longo prazo, apesar da suspensão do medicamento.

O estudo retrospectivo com 73 pacientes indiciou que 13% deles, que apresentaram resposta completa ou parcial com T-DM1 mas precisaram interromper o tratamento por toxicidade limitante, ficaram pelo menos 12 meses sem evidência de progressão de doença ou morte.

Em relação ao total de pacientes analisados no estudo, cerca de 7% que receberam tratamento com T-DM1 e tiveram sua suspensão por toxicidade mantiveram resposta clínica por mais de 3 anos.

“Esse estudo sugere que o T-DM1 pode apresentar um benefício a longo prazo no tratamento do câncer de mama metastático HER2 positivo e abre portas para novas pesquisas para avaliar esse efeito duradouro com outros anticorpos conjugados à droga”, lembra a médica.

Presença nos palcos da Asco 2023

Neste ano, além da publicação de artigos e pôsteres sobre estudos da Oncoclínicas, o corpo clínico marca presença entre os palestrantes e debatedores em aulas dentro da programação principal do evento.

Destaque para as oncologistas Maria Cecília Mathias, que conduzirá uma sessão totalmente voltada a jovens oncologistas, e Luciana Landeiro, que apresentará os principais estudos da programação do evento voltados ao tema Survivorship, referente aos cuidados com mulheres jovens diagnosticadas com câncer.

Na especialidade de tumores torácicos, duas das principais lideranças médicas da Oncoclínicas coordenam as salas de discussão na Asco. Clarissa Mathias, que integra o comitê científico do congresso, será chair de um debate sobre câncer de pulmão de células não pequenas metastáticas.

Já Carlos Gil, diretor médico do grupo e presidente do Instituto Oncoclínicas, fará uma aula de revisão sobre os principais modelos de tratamento para o câncer de pulmão EGFRm e sobre novas modalidades para pacientes que desenvolvem resistência às terapias, a partir da análise de combinações da quimioterapia e novas moléculas de tratamento.

Parceria com os pacientes: foco da Asco 2023

O tema do congresso este ano é: “Parceria com os pacientes: o pilar do tratamento e pesquisa do câncer. O movimento surgiu das associações de pacientes das ONGs nos Estados Unidos e Europa e que vem se espalhando ao redor do mundo. Hoje em dia, os especialistas reconhecem a importância dessa troca, fundamental inclusive para estudos clínicos. Para Carlos Gil, essa é uma tendência no que diz respeito aos protocolos dentro do atendimento multidisciplinar.

“É uma evolução na forma como lidamos com quem sofre com a doença. Cada vez mais os pacientes querem estar envolvidos ou querem ser centrais na decisão terapêutica. E os oncologistas também precisam cada vez mais dessas informações fornecidas pelos seus pacientes, bem como outros stakeholders, como a indústria farmacêutica, e sobretudo as agências regulatórias”, avalia o especialista da Oncoclínicas.

Segundo ele, atualmente, há inclusive critérios dos estudos clínicos, os chamados patient reported outcomes, que são as informações que os pacientes trazem e que influenciam na leitura, por parte da comunidade científica, do resultado de um tratamento e por parte das autoridades regulatórias, às vezes no registro ou não, de um determinado medicamento.

“A ASCO 2023 coloca essa nova visão como tema principal do congresso, justamente por ser fundamental e impactar no tratamento. A pesquisa clínica e a educação são instrumentos de inclusão. E o Grupo Oncoclínicas vem avançando para, de fato, contribuir nessa equação. Temos desenvolvido ferramentas para que possamos mensurar isso de alguma maneira. E, quando essa interação não é ideal, podemos intervir melhorando os procedimentos”, enfatiza Carlos Gil.

Com Assessorias

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