A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro de um novo produto para identificação e diagnóstico da febre maculosa. Fabricado pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP/Fiocruz), kit é o segundo autorizado no Brasil com essa finalidade e utiliza a técnica PCR, que permite a detecção do material genético de bactérias transmitidas pela picada do carrapato-estrela.

Já a Fiocruz informou que este é o primeiro registro de kit de biologia molecular desenvolvido no país. É capaz de fazer a detecção do material genético de bactérias causadoras de outras rickettsioses, como o tifo. A tecnologia possui elevados níveis de especificidade (94%) e de sensibilidade (100%). O IBMP/Fiocruz não tem previsão de quando o teste poderia começar a ser produzido e fornecido pelo SUS.

O aval da Anvisa foi publicado no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (3/7). Com o novo registro, em caso de demanda do Ministério da Saúde, o IBMP possui capacidade de produção desses kits para a rede pública de saúde. Segundo determinação da Anvisa, o teste deve ser realizado por profissionais da área de saúde com conhecimento específico em biologia molecular.

“Trata-se de mais uma entrega da Fiocruz, como instituição de ciência e tecnologia no campo da Saúde, oferecendo respostas rápidas a problemas de Saúde Pública e contribuindo para o fortalecimento do [Sistema Único de Saúde] SUS,”, afirma o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.

A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda não contagiosa de distribuição mundial que pode causar, na dependência da espécie bacteriana, desde formas assintomáticas até casos mais graves, com alta possibilidade de óbito.

Surto de febre maculosa assustou o país

Carrapato-estrela, principal vetor da Febre Maculosa. (Foto: Prefeitura de Jundiaí)

Recentemente, casos de infecção e óbitos pela doença em São Paulo acenderam o alerta das autoridades médicas e de saúde, e chamaram a atenção da população para o agravo, considerado pouco difundido.

A febre maculosa é transmitida pela picada de carrapato-estrela infectado. E não passa diretamente de pessoa para pessoa nem pelo contato com animais infectados. Os humanos costumam ser apenas hospedeiros acidentais do carrapato.

Os hospedeiros preferidos da bactéria da febre maculosa são os equídeos, como cavalos, mas pode também parasitar bovinos, animais domésticos e silvestres. Entre os sintomas, estão, além da febre, dores de cabeça e muscular, mal-estar, náuseas, vômitos, manifestações hemorrágicas e manchas avermelhadas na pele.

No Brasil, uma das doenças que geram casos graves de elevada letalidade está associada à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii (febre maculosa brasileira), transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela.

Casos mais brandos de febre maculosa associados à espécie Rickettsia parkeri, transmitida pelo carrapato Amblyomma ovale, também têm sido descritos principalmente no estado de Santa Catarina. No entanto, existem no mundo mais de 20 espécies de rickettsias que podem causar febre maculosa.

Kits para outras doenças tropicais negligenciadas

Idealizado pelo Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o kit Biomol Rickettsioses proporciona um diagnóstico laboratorial mais rápido e específico, na fase inicial da doença, quando ainda não há anticorpos detectáveis que permitam a confirmação da doença por meio de testes sorológicos.

Embora o tratamento deva ser iniciado imediatamente com base no diagnóstico clínico-epidemiológico, a característica desse teste permite agilidade no esclarecimento do diagnóstico, fundamental em pacientes acometidos por febre maculosa brasileira, tendo em vista a elevada taxa de mortalidade e a semelhança clínica com outras doenças, especialmente a dengue.

“O kit IBMP Biomol Rickettsiose se junta aos produtos do portfólio direcionado às doenças tropicais negligenciadas, que já inclui os kits para tracoma, hanseníase, doença de Chagas, entre outros. Reforça ainda a missão do IBMP em contribuir para o acesso e a democratização do diagnóstico mais preciso e eficaz e, consequentemente, a adoção do tratamento mais adequado ao cidadão brasileiro”, destaca o diretor-presidente do IBMP, Pedro Barbosa. 

Para  Elba Lemos, pesquisadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz, é importante a união de diferentes grupos e instituições para o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem que o Brasil tenha uma maior autossuficiência nos seus testes diagnósticos e tratamentos.

A criação do kit teve início há mais de uma década, a partir de um trabalho de pós-doutorado, e perpassou projetos de diferentes pesquisadores, pós-doutorandos e técnicos do Laboratório. “Os elevados níveis de especificidade e sensibilidade do teste vão ao encontro da atual necessidade de uma vigilância mais robusta da febre maculosa e outras rickettsioses, possibilitando ações mais efetivas e oportunas ”, completa a pesquisadora.

Febre maculosa: 2.636 infecções, com 920 óbitos em 22 anos

De acordo com dados do Ministério da Saúde e de Secretarias Estaduais de Saúde, entre 2000 e 2022, a doença provocou 2.636 infecções, com 920 óbitos. Em 2023, o país registrou, até junho, 49 casos e 6 mortes.

Boletim Especial – Doenças Tropicais Negligenciadas, publicado pelo Ministério da Saúde em março de 2021, indica que, no período de 2010 a 2020, a febre maculosa foi mais frequente em homens 71%, na faixa etária economicamente ativa de 20 a 39 anos. Dos casos confirmados, 63% foram hospitalizados. O local provável da infecção mais relatado pelos casos confirmados foi a zona rural com 45%.

A maioria dos casos relata contato com carrapatos e terem frequentado ambientes de mata, rios e cachoeiras. A maior concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde de maneira geral ocorre de forma esporádica como casos isolados ou pequenos surtos. No Brasil, a doença possui caráter de notificação compulsória ao Ministério da Saúde.

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