Especialistas em saúde estão preocupados com o aumento recente de casos de covid-19 no Brasil. Além da Fiocruz, em seu último Boletim Infogripe, divulgado nesta quinta-feira (4), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alertou nesta sexta (5) que casos de covid-19 no Brasil continuam ocorrendo em todo o Brasil.

“Obviamente não com o mesmo impacto do período da pandemia, mas ela não desapareceu. No momento, vivemos um aumento de casos em várias cidades brasileiras”, disse o presidente da SBI, Alberto Chebabo, em uma das mesas da 27ª Jornada Nacional de Imunizações, na capital paulista.

E não é apenas no SUS que a tendência de alta preocupa.  Dados recentes da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que reúne empresas responsáveis por mais de 85% do volume de exames realizados na saúde suplementar do Brasil, apontam aumento dos casos de Covid-19 no país nas últimas dez semanas de referência. O índice de positividade chegou a 13,2%, o maior desde março deste ano.

Os dados corroboram informações do boletim InfoGripe da Fiocruz, que mostram queda nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), mas alertam para um possível aumento nos casos de Covid”, explica Alex Galoro, patologista clínico e líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

A média móvel de cinco semanas confirma a tendência de crescimento. Segundo o especialista, a alta da Covid-19 é explicada pela queda natural dos anticorpos e pelo surgimento de variantes, mesmo em uma população já imunizada.

As infecções respiratórias têm comportamento cíclico, influenciadas pela transmissibilidade e pela imunidade da população. O inverno favorece aglomerações em ambientes fechados, o que aumenta a transmissão. Porém, a imunidade, gerada por infecções prévias e pela vacinação, ajuda a evitar grandes aumentos.

A Covid-19 já acumula oito semanas consecutivas de alta, segundo boletim do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). De acordo com o levantamento, a positividade dos exames passou de 5% para 13% nas últimas quatro semanas, com maior crescimento entre pessoas de 30 a 59 anos.

Somente na terceira semana de agosto, o Distrito Federal registrou taxa de 19% de testes positivos, seguido por Rio de Janeiro e São Paulo, ambos com 18%.

O cenário indica que o Sars-CoV-2 é hoje o vírus respiratório de maior circulação, já que os demais permanecem com índices de até 5%”, afirma Rebecca Saad, médica infectologista e coordenadora corporativa do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim.

Bebês até 2 anos  idosos são os mais afetados

Segundo a SBI, no momento a covid-19 atinge populações muito específicas, principalmente crianças abaixo de 2 anos de idade, que não foram expostas ao vírus e que, se não forem vacinadas, serão impactadas de forma semelhante ao que ocorreu na pandemia, aumentando o risco de complicação e de internação hospitalar.

Hoje, dois terços das crianças internam. Em 2024, por exemplo, foram 82 óbitos de crianças. É um número bastante expressivo, considerando que são crianças acometidas por uma doença que é imune e prevenível por vacina”, alertou Chebabo.

Os idosos acima de 60 anos de idade também são uma população sensível aos riscos da covid-19, já que com o próprio envelhecimento do sistema imune, o organismo perde a capacidade de resposta e de proteção.

Essa população é a de mais risco de complicações e óbito. A maior parte dos óbitos acontece na população dos mais idosos. As gestantes também estão no grupo dos mais suscetíveis e sua vacinação é importante porque também protege a criança até que ela tenha a idade para conseguir ser revacinada”, explicou.

Infectologista recomenda teste de covid-19 para todos e vacinas

O presidente da SBI ressaltou que para a maioria da população, a covid-19 é uma doença viral como as outras doenças virais que existem em circulação, e que nos quadros leves não faz diferença. Ele recomendou, como medida de saúde pública, testar a todos.

Como estratégia de saúde pública, com os recursos financeiros que temos, talvez ela não seja importante para a maioria da população, mas para alguns grupos é fundamental. Então, para os idosos, para os imunossuprimidos, para reduzir o risco de complicações, internação hospitalar e morte, a testagem é fundamental”, defendeu.

No caso dos grupos que já foram vacinados e têm menor risco de complicações, Chebabo recomenda como medida individual, caso a pessoa queira, fazer o teste na farmácia ou no laboratório. A ação vale para avaliar uma possível associação em caso de complicações futuras, facilitando o entendimento do quadro de saúde.

Vacinas combinadas contra a gripe a a influenza

Segundo o professor de epidemiologia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Expedito Luna, a comunidade científica tem discutido a possibilidade de combinar a vacina contra influenza com a vacina contra a covid-19, o que permitiria que as pessoas ficassem imunizadas com apenas uma vacina. Entretanto, segundo ele, alguns obstáculos ainda apontam que, por enquanto, ainda não há essa possibilidade.

No caso da gripe, as vacinas são atualizadas todo ano. Para o mundo, duas vezes por ano, porque tem uma vacina para o Hemisfério Sul e outra para o Hemisfério Norte. Esse processo foi pactuado entre a Organização Mundial da Saúde, de forma que, mesmo com indústrias diferentes, concorrentes entre si, elas produzem a mesma vacina todo ano, porque elas seguem a recomendação de composição da vacina que é padronizada pela OMS”, explicou.

De acordo com Luna, o vírus do SARS-CoV-2 tem uma taxa de mutação muito alta, assim como o vírus da influenza, porém na influenza já se conhece o comportamento, que é sazonal, permitindo que a vacinação seja feita antes do período de maior incidência.

Com relação à covid-19, tudo isso é muito recente e o dado mundial nos mostra que ela ainda não tem esse comportamento sazonal claro. Aqui no Brasil, estamos vendo dois picos no ano. Então, não valeria a pena termos uma vacina que tem as duas coisas juntas, quando os vírus ocorrem separadamente”, observou.

Luna lembrou que a política atual do Ministério da Saúde recomenda para os grupos de risco para a covid-19 duas doses da vacina por ano, uma a cada 6 meses, o que seria complicado se a vacina fosse combinada.

Com essas evidências, se estivesse na posição de decidir pelo Brasil, eu decidiria não usar a vacina combinada, continuar com as duas separadas, que dá mais oportunidades de ganhos tanto para uma quanto para outra”, disse.

Com o mote Vacinando gerações: um compromisso de todos, o evento, organizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), contou com 90 atividades e palestrantes brasileiros e estrangeiros.

Casos de dengue, H1N1 e influenza na saúde suplementar

Enquanto a Covid-19 cresce, outras doenças apresentam comportamento distinto. A queda de H1N1 e Influenza sinaliza maior resistência da população, mas não elimina a necessidade de cuidados, já que as medidas de prevenção são comuns a todas as viroses respiratórias.

A H1N1 apresenta forte tendência de queda, com menos de 1% de positividade nas últimas semanas, o menor patamar desde novembro de 2024. Já a Influenza mantém baixa desde junho de 2025, com positividade de 5,8% na última semana de referência.

Expectativa de aumento de casos de dengue com a chegada da primavera

Já a dengue segue em estabilidade, com positividade entre 14% e 17%, o menor índice desde janeiro. A expectativa é de aumento de casos com a chegada da primavera, quando as chuvas e temperaturas mais elevadas favorecem a proliferação do mosquito transmissor.

Monitoramento

As associadas da Abramed também enviam resultados diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo com o monitoramento epidemiológico conduzido pelo Ministério da Saúde. Os dados são compilados pela plataforma de inteligência Metricare, desenvolvida e gerenciada pela Controllab, parceira da Abramed.

A ferramenta permite acompanhar tendências de forma estratégica e apoiar a tomada de decisões em saúde populacional. Essas informações são essenciais para compreender a progressão das doenças respiratórias no Brasil e embasar medidas de saúde pública”, afirma a entidade.

Com informações da Abramed, Cejam e Agência Brasil

 

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