Dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) indicam que 3% da população mundial – ou 125 milhões de pessoas – são acometidos pela psoríase, uma doença crônica, autoimune que, além de gerar muita coceira e dor, pode provocar queimação e gerar muitos estigmas, apesar de não ser contagiosa. No Brasil, 1,3% da população fazem parte dos afetados, o que representa cinco milhões de pessoas, impactando principalmente mulheres.
O Dia Mundial e Nacional da Psoríase é celebrado em 29 de outubro, para conscientizar a população e em apoio às pessoas que convivem com essa condição. Esta doença tem predisposição genética, mas pode aparecer também devido a estresse, problemas emocionais e por fatores ambientais, manifestando-se em pessoas entre 20 e 40 anos, com reações que aparecem e desaparecem de tempos em tempos.
Para além da pele: como a psoríase impacta a saúde mental
A doença pode ser classificada como leve ou grave a depender da extensão e impacto na qualidade de vida. As lesões mais comuns acometem joelhos, cotovelos, couro cabeludo e unhas. Alguns sintomas da psoríase são pele irritada e rachada, manchas vermelhas em várias partes do corpo, coceira, queimação e dor, unhas amareladas e grossas, e ainda pode atingir as articulações com dores e inflamações, gerando uma artrite psoríasica.
A psoríase vai além da pele e afeta a autoestima, o bem-estar e até a rotina diária de quem convive com o ressecamento, a coceira e a descamação típicas dessa condição. A psoríase é uma doença crônica, inflamatória e imunomediada que também pode repercutir na saúde emocional.
Estudos científicos, incluindo uma meta-análise publicada no JAMA Dermatology, mostram que pessoas com psoríase têm risco aumentado de desenvolver depressão e ansiedade, especialmente nos casos mais graves.
Segundo a médica Prof. Dra. Isabel Martinez, pós-graduada em Cosmetologia e Tricologia e CEO da Clínica Martinez, esse dado reforça a necessidade de olhar para a psoríase de forma integral, entendendo que vai muito além da pele.
Famosas que convivem com a psoríase
Diversas outras famosas, já compartilharam publicamente que enfrentam a doença crônica. Kim Kardashian e Beyoncé, nos Estados Unidos, e Juju Salimeni e Kelly Key, no Brasil, já revelaram o diagnóstico da doença e contribuem para desmistificá-la, compartilhando nas redes sociais a sua jornada de enfrentamento dessa doença dermatológica, que não tem cura, mas tem tratamento.
Esses relatos ajudam a dar visibilidade à condição e a reduzir o estigma em torno da doença, parabéns a estas ilustres mulheres que se colocaram em uma posição de vulnerabilidade a faltem de si, para ajudar outras mulheres”.
Beyoncé
Em entrevista à revista Essence, a cantora afirmou que tem a doença desde pequena. A enfermidade crônica que impacta a pele ou, no caso da artista, o couro cabeludo. Nesta fase, a condição é conhecida como psoríase do couro cabeludo.
Tenho muitas lembranças ligadas ao meu cabelo. A relação que temos com nossos cabelos é uma jornada profundamente pessoal. Desde passar a infância no salão da minha mãe até meu pai aplicar óleo no couro cabeludo para tratar minha psoríase – esses momentos foram sagrados para mim”, refletiu a cantora.
Kim Kardashian
A empresária Kim Kardashian compartilhou nas redes sociais que está passando por uma piora na psoríase. Nos stories do Instagram, ela mostrou manchas vermelhas, erupções, descamação e muita coceira, chamando de um surto doloroso. “Tudo na minha perna está assim e não sei exatamente o que está acontecendo, preciso descobrir o que é isso. Está sendo uma loucura”, comentou.
Kelly Key
Em junho de 2021, a cantora Kelly Key mostrou a psoríase em seu perfil no Instagram. “Esta foi a fase mais difícil! Quando as lesões da psoríase começaram a se alastrar pela segunda vez com muita força! Eu fiquei muito triste… E o meu estado emocional piorava meu quadro”, disse.
Juju Salimeni
O aparecimento da doença surgiu quando enfrentava um forte quadro de depressão. Em entrevista à Vogue, a influenciadora Juju Salimeni revelou que começou a perceber machucados no corpo, principalmente nos cotovelos, no colo, abaixo do pescoço e nas pernas.
Sentia uma coceira muito forte e chegava a colocar meia nas mãos para dormir, porque eu me arranhava de madrugada sem ver. Eu estava sempre machucada, não sarava. Isso me incomodava muito e abalava a minha autoestima. Tentava esconder com maquiagem e muitas vezes usava blusas de gola alta para disfarçar. Então fui diagnosticada com psoríase“, contou.
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Predisposição genética por trás da psoríase
A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele, de base imunológica, que pode atingir também unhas e articulações. “Sua origem envolve predisposição genética associada a alterações do sistema imunológico, que levam a uma renovação acelerada e desorganizada da pele. Entre os genes mais estudados está o HLA-C*06:02, mas diversos outros também estão implicados”, diz a médica Isabel Martinez.
Infecções (especialmente de garganta por estreptococos, ligadas à psoríase gutata), traumas na pele (fenômeno de Koebner), estresse emocional, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de álcool e uso de determinados medicamentos, como lítio e antimaláricos podem ser gatilhos para a condição. Segundo Dra. Isabel, é preciso evitar fatores que podem agravar a doença: cigarro, consumo excessivo de álcool, obesidade, estresse e traumas na pele.
A médica explica que a psoríase pode se manifestar em qualquer idade. “Um terço dos casos aparece ainda na infância ou adolescência, mas a maioria se manifesta na vida adulta. É possível que um adulto desenvolva psoríase mesmo sem nunca ter tido lesões na infância”.
Sintomas, tratamentos, prevenções e controles da doença
Psoríase pode gerar uma artrite psoríasica
Uma parcela significativa das pessoas com psoríase desenvolve artrite psoriásica — condição que pode levar a deformidades articulares e comprometimento funcional se não for tratada precocemente. Além dos aspectos cutâneos, a psoríase traz um importante componente sistêmico, muitas vezes subestimado e pode atingir os indivíduos de graus e formas diferentes.
Esta doença tem diversos níveis e formas, podendo afetar apenas uma pequena área do corpo, com uma simples mancha, como uma área maior, ocasionando mais incomodo e afetando a qualidade de vida da pessoa” explica a médica reumatologista Cláudia Goldenstein Schainberg, diretora executiva do Grupo de Pesquisa e Avaliação de Psoríase e Artrite Psoriásica (Grappa).
Prevenção e tratamentos
Cláudia Goldenstein Schainberg afirma que identificar se a casos de psoríase em sua família pode ser uma forma de iniciar a prevenção da doença. Evitar o estresse, manter a pele hidratada, manter uma alimentação saudável, controlar o peso, evitar lesões na pele e nunca parar o tratamento prescrito pelo médico são formas de prevenir e controlar a doença.
O tratamento da psoríase varia de acordo com cada caso. Para manter uma boa qualidade de vida do indivíduo é fundamental tratar esta doença com a hidratação da pele, aplicação de medicamentos nas lesões e exposição ao sol de forma moderada e conforme indicada pelo médico dermatologista ou reumatologista.
Também é importante discutir com o médico o uso de medicamentos que possam piorar a condição. A doença não tem cura definitiva, mas existem tratamentos muito eficazes. A médica Isabel Martinez listou eles:
– Nos casos leves, são usados medicamentos tópicos, como corticoides e derivados da vitamina D.
– Em quadros moderados a graves, podem ser indicados medicamentos sistêmicos (como metotrexato, ciclosporina, acitretina), fototerapia e terapias biológicas que bloqueiam citocinas inflamatórias específicas, com grande impacto positivo na qualidade de vida.
Tratamento individualizado
A especialista alerta o agendamento de uma consulta com um dermatologista ou reumatologista antes da aplicação de qualquer tipo de medicamento. Embora não exista cura definitiva, hoje existem diversas opções de tratamento altamente eficazes que controlam a doença, reduzem o impacto físico e emocional e proporcionam qualidade de vida.
O tratamento é sempre individualizado, considerando a gravidade da doença, o impacto na vida do paciente e a presença de comorbidades, como artrite psoriásica e doenças cardiovasculares“, diz a médica.
Cada paciente deve ser avaliado individualmente, e o acompanhamento médico é essencial para ajustar a conduta conforme a gravidade e as necessidades de cada pessoa. Por isso, se você tem psoríase ou conhece alguém com a doença, ofereça apoio e incentive a procurar um especialista próximo da sua casa. O acompanhamento adequado faz diferença não apenas na pele, mas também na saúde geral e no bem-estar emocional.
O apoio humano é tão importante quanto o tratamento médico. Quem convive com alguém que tem psoríase deve saber que esse paciente pode estar enfrentando desafios emocionais profundos. Empatia, acolhimento e ausência de julgamento fazem parte da jornada de cuidado”, comenta.
Agenda Positiva
Dermatologistas debatem avanços no tratamento da Psoríase
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Os tratamentos imunológicos para psoríase estiveram em pauta no 3º Imuno&Derma, evento promovido em outubro pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) com foco nas doenças imunomediadas da pele. O objetivo é assegurar que a população possa acessar com equidade os tratamentos para essas doenças, ampliando o acesso aos cuidados dermatológicos.
É uma doença imunomediada, causada por um desbalanço do sistema imune que reage mais do que o necessário a estímulos externos ou até a estruturas da própria pele. Ela tem base genética e é uma doença crônica e sistêmica. Ou seja, a inflamação que vemos na pele também pode atingir outros órgãos”, explica o dermatologista André Esteves.
Segundo ele, a psoríase leve responde bem aos tratamentos tópicos, mas quando há acometimento maior da pele ou presença de artrite psoriásica, é necessário partir para terapias sistêmicas, como imunobiológicos, metotrexato ou fototerapia. Hoje já contamos com 12 imunobiológicos aprovados para Psoríase, além de novas medicações orais em estudo”, destaca o Dr. André.
De acordo com ele, ainda não há cura definitiva, mas estudos mostram que o tratamento precoce com imunobiológicos pode normalizar a resposta imune e levar alguns pacientes à remissão prolongada. “Já se discute, inclusive, terapias gênicas que atuam diretamente no genoma do paciente”, afirma o médico.
Mais acesso a novos medicamentos
Assumindo uma postura ativa de interlocução com os órgãos reguladores e de incorporação tecnológica, em especial Conitec (Sistema Único de Saúde) e ANS (planos privados), a SBD afiirma que tem atuado em prol da incorporação de terapias para Psoríase, incluindo biológicos, além de outras demandas dermatológicas.
Recém-lançado, o Dossiê Brasil à Flor da Pele, em parceria com a L’Oréal Beleza Dermatológica, revela que um em cada quatro brasileiros não sabe que o dermatologista é o especialista médico da pele, cabelos e unhas; e apenas 12% foram ao dermatologista no último ano. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 70% nunca passaram por atendimento dermatológico.
Precisamos ampliar esse acesso, principalmente no SUS. Sabemos que quanto mais cedo a descoberta de problemas com a saúde da pele, cabelos, unhas, maiores são as chances de evitar consequências graves. E a SBD tem se empenhado para isso”, diz Carlos Barcaui, presidente da entidade.
Com Assessorias








