Se passados 40 anos, a Aids continua sendo um desafio, hoje é muito mais fácil se prevenir da doença. E quando se fala em prevenção, não falamos apenas do uso de camisinha. É claro que uso de preservativo (masculino ou feminino) em todas as relações sexuais é o método mais eficaz para evitar a transmissão do HIV/Aids, das hepatites virais B e C e de outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). O que muitos talvez não saibam é que outros métodos já adotados pela rede pública de saúde em caso de possível exposição ao HIV auxiliam na prevenção contra o vírus, como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição).
Combinado com a distribuição de preservativos masculinos e femininos, o tratamento com PrEP faz parte de uma das principais estratégias da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para frear a contaminação e é oferecido nas unidades de Atenção Primária dos municípios. No Estado do Rio, a PEP é um dos métodos de prevenção emergencial que é oferecido em todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Governo do Estado.
O fomento e apoio à expansão da PrEP tiveram salto significativo tanto no estado, quanto na capital. Neste ano, 11.668 pessoas em todo o estado usaram, pelo menos uma vez, a PrEP para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. Destas, 8.463 (73%) continuam em PrEP. O número é quase o dobro do ano de 2022, quando 4. 493 pessoas iniciaram o uso de PrEP no estado. Só na cidade do Rio, o número de pessoas em uso da PrEP passou de 1.305 para 7.279, entre 2021 e 2023, segundo a SMS-Rio.
Entenda como funciona
PrEP (Profilaxia Pré-exposição)
A PrEP (Profilaxia Pré-exposição de Risco à Infecção pelo HIV) é uma forma de prevenção que envolve a administração diária de um medicamento antirretroviral antes da exposição ao vírus por um período em que a pessoa esteja vulnerável. Está indicada para pessoas que estão mais suscetíveis, como casais – tanto hetero quanto homoafetivos – em que apenas um dos parceiros vive com o vírus; homens que fazem sexo com homens; quem tem maior probabilidade de fazer sexo com infectados pelo HIV, entre outros casos. O uso regular dessa medicação reduz em 95% o risco de infecção pelo HIV.
PEP (Profilaxia Pós-Exposição)
Apesar de ser semelhante à PrEP, a Profilaxia Pós-Exposição de Risco à Infecção pelo HIV (PEP) consiste na utilização de antirretrovirais por 28 dias, deve ser iniciado até 72 horas após casos de relação sexual desprotegida.
É usada após a pessoa ter sido potencialmente exposta ao vírus do HIV, como em casos de violência sexual, rompimento da camisinha ou relação sexual consensual, usuários de drogas que compartilham seringas e profissionais da saúde que se acidentaram com instrumentos perfurocortantes ou contato com material biológico possivelmente contaminado.
“ Iniciar a PEP o mais rápido possível ajuda a evitar que ocorra a infecção. Quando há exposição, o indivíduo deve iniciar o uso dos medicamentos em até 72 horas depois do ocorrido, passando a administrar três medicamentos durante 28 dias”, pontua Denize Lotufo Estevam, que integra o time de gerência do Centro de Referência e Treinamento(CRT) de DSTs/AIDS de São Paulo.
‘Homens e mulheres, cis ou transgêneros: PrEP é para quem precisa’
Denize Lotufo Estevam explica que quando surgiu a PrEP, esse tipo de prevenção era focado em homens que faziam sexo com homens, pessoas trans e profissionais do sexo, pois a prevalência de casos é muito alta nessas populações, mas hoje sabemos que a PrEP pode ser indicada a qualquer pessoa que estiver vulnerável.
“A PrEP é para quem precisa, pode ser para mulher ou para adolescentes, por exemplo, ela está liberada a partir dos 15 anos de idade e isso é muito importante. Homens e mulheres, não importa se cis ou transgêneros, a PrEP é para quem precisa”, ressalta.
Pessoas que utilizam a PrEP tomam um comprimido com um horário mais flexível. Outro ponto importante é que a PrEP precisa de seguimento, a pessoa deve voltar ao serviço de saúde a cada quatro meses, sendo essencial que sejam feitos exames de segurança, principalmente exames para detectar outras ISTs (a PrEP só protege a pessoa contra o HIV).
Atenção a efeitos colaterais de médio e longo prazos
A médica Marina Dias Souza, infectologista na rede Kora Saúde, comenta que a Prep (Profilaxia Pré Exposição) é mais uma estratégia de prevenção ao vírus do HIV.
“O tratamento consiste no uso de antirretrovirais para previnir/reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV e é aplicado em populações com maior exposição ao vírus. O uso da medicação é contínuo e diário e o SUS fornece gratuitamente tanto a Prep quanto o suporte, com consultas periódicas e acompanhamento regular. A eficácia referida em estudos mais recentes chega a 44%”, conta.
A Prep consiste no uso de dois antirretrovirais, formulados em um único comprimido. A especialista explica que, como qualquer medicação, há o risco de efeitos colaterais, mas geralmente eles são leves, como náusea e diarreia no início do uso, e tentem a desaparecer com o passar do tempo. Porém, em casos mais raros, pode ocorrer toxicidade renal e hepática.
Marina reforça que o uso da Prep não substitui o da camisinha, pois a Prep auxilia na prevenção de do HIV mas não tem efeito para prevenir outras ISTs. “A camisinha é uma das formas mais segura e simples para prevenção de ISTs e é preciso que se sejam vencidas as barreiras culturais e de informação para que, cada vez mais, os preservativos sejam vistos como um item indispensável na vida das pessoas que possuem vida sexual ativa”, finaliza.
PrEP sob demanda
Pessoas que utilizam a PrEP tomam um comprimido com um horário mais flexível. Existe mais de um tipo de PrEP oral, como a de uso diário ou a que está relacionada a eventos sexuais, a PrEP sob demanda. No caso da PrEP sob demanda, a profilaxia é usada somente quando a pessoa vai ter relações sexuais. São quatro comprimidos sendo dois antes da relações e um comprimido 24h e outro 48h após a relação.
O medicamento é indicado para as populações de homens cisgêneros e mulheres trans identificadas com o sexo masculino ao nascer, que não fazem uso de hormônio à base de estradiol.
Em dezembro de 2022, foi liberado pelo Ministério da Saúde uma nota técnica de extrema importância para aqueles que usam a Profilaxia Pré-Exposição – o Brasil agora faz parte do grupo de nações que recomendam a utilização da PrEP sob demanda como estratégia de saúde pública para a prevenção do HIV.
Além do Brasil, outros países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá e França já utilizam essa modalidade da profilaxia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a PrEP sob demanda desde 2019. A PrEP é considerada uma grande aliada dentro da estratégia de prevenção combinada para as populações gay, bissexual e para mulheres trans.
Com Assessorias