Um dos grandes mitos quando o assunto é adolescência é a questão do sono. Muito se fala sobre o adolescente “ser preguiçoso”, dormir o dia todo etc. Mas, será que isso é uma verdade? Adolescentes são bastante vulneráveis a distúrbios do sono, principalmente insônia. Estima-se que entre 14% e 33% dos jovens se queixam de problemas de sono, enquanto 10% a 40% dos estudantes do ensino médio apresentam moderada ou transitória privação ou insuficiência de sono.
O hábito de dormir até mais tarde nos finais de semana, para compensar a falta de sono acumulada, é denominado “oversleeping” e contribui para a alteração do ritmo circadiano. Isto é: do nosso ritmo biológico.
Enquanto as crianças são seres predominantemente matutinos (dormem e acordam mais cedo), os adolescentes vão se tornando mais atrasados durante a puberdade, atingindo o máximo da vespertinidade próximo dos 20 anos de idade, geralmente primeiro entre as mulheres, podendo ser considerado um marcador do final da adolescência.
Estudos sugerem que os adolescentes precisam de 9 a 9,5 horas de sono por noite e, quando isso não ocorre, eles podem apresentar maiores riscos à saúde, tais como: sonolência diurna, dificuldades de atenção e de concentração, baixo desempenho escolar, além de oscilações de humor, predisposição à acidentes, atraso no desenvolvimento puberal, maior ganho de peso, uso de álcool e substâncias proibidas, já que se trata de um cérebro em desenvolvimento.
O número de horas de sono na adolescência têm diminuído com o tempo. Em um levantamento, foi comparada a duração de sono em uma amostra de jovens australianos, de 10 a 15 anos, entre os anos de 1985 e 2004. Os autores observaram as horas de sono na segunda avaliação quando em comparação com a primeira. Além disso, os meninos dormiam mais tarde que as meninas em 2004. Essas diferenças não foram constatadas na primeira avaliação.
Menos horas de sono geram impacto negativo no desempenho escolar
Um estudo citado pela Escola de Medicina de Harvard (Harvard Medical School) menciona que pesquisadores de Cingapura dividiram estudantes do ensino médio em dois grupos. Por 7 dias, um grupo dormiu nove horas por noite, e no outro grupo dormiram apenas cinco horas.
Os estudantes foram avaliados antes, durante e depois desta semana de experiências. O grupo que dormiu menos, apresentou mais alterações cognitivas e de humor ao longo da semana, quando comparados com o outro grupo.
Além disso, foram necessárias duas noites de “sono de recuperação” para o organismo voltar ao normal. Ou seja, menos horas de sono geraram impacto negativo na performance dos estudantes.
Em 2009, um colégio britânico determinou o início das suas aulas às dez horas da manhã (uma hora após o habitual). Resultado: queda nas faltas, no mal humor e na sonolência e melhor rendimento escolar.
No Brasil, as aulas começam cedo, em torno das sete e meia da manhã, sendo que a capacidade de aprendizado aumenta a partir das dez horas da manhã.
Aos pais, um recado: é importante organizar as atividades e o ritmo de vida dos adolescentes. Também é preciso estabelecer um horário do sono que permita o necessário descanso e possibilite melhor desempenho escolar.
*Artigo publicado originalmente no site da Clínica de Pediatria Toporovski: