Dezenas de corpos são trazidos por moradores para praça no bairro da Penha, no dia seguinte à Operação Contenção (Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Barbárie vira espetáculo digital

Outro levantamento realizado por Renato Dolci, especialista do Infomoney, revelou que 62% dos internautas aprovaram a ação no Rio. O pesquisador analisou 289.034 menções entre as 15h do dia 28 até 11h do dia 29 no X, Youtube, Facebook, Instagram e TikTok
A operação no Rio não está sendo discutida apenas como um evento policial — ela está sendo convertida em símbolo. E símbolos, no Brasil, dizem muito mais sobre quem fala do que sobre o que aconteceu. Nas redes, a narrativa dominante não é sobre números, vítimas ou estratégia de segurança. É sobre qual lado você pertence”, comentou o pesquisador.
Segundo ele, “de um lado, a operação aparece como afirmação de ordem, força e reparação. Do outro, como repetição histórica de violência do Estado contra territórios marcados como descartáveis”. E prossegue: “Mas a assimetria de quem vence o debate é clara: quem apoia fala mais, compartilha mais e mobiliza mais. Não porque necessariamente são maioria absoluta, mas porque possui um ecossistema digital mais coeso, mais disciplinado e mais interligado. O resultado não é consenso — é hegemonia narrativa. E hegemonia, no tempo das redes, costuma parecer verdade”.
É assustador o número de pessoas que apoiam essa barbárie. Corpos degolados, com sinal de execução, não é política de segurança (que obviamente deve existir pra combater o crime organizado), mas sim extermínio. Mas pra esses 62% a vida de gente preta e favelada não vale nada não é mesmo? Vivemos o tempo do horror”, escreveu uma pessoa nos comentários sobre a pesquisa.

Com a palavra, os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. 

ONU pede investigação sobre mortes em operações policiais no Rio

Uso da força por autoridades policiais precisa estar alinhado com leis internacionais de direitos humanos. Organização pede reformas no policiamento para acabar com perpetuação do racismo, discriminação e injustiça

Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro.

Após operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, realizada nesta terça-feira (28), o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou estar extremamente preocupado com o grande número de óbitos.

Em mensagem transmitida por seu porta-voz, Stephane Dujarric, nesta quarta-feira (29), o líder da ONU enfatizou que o uso da força por autoridades policiais precisa estar alinhado com leis internacionais de direitos humanos. Ele pediu que seja realizada uma investigação imediata sobre o episódio.

Também nesta quarta-feira (29) o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, pediu uma “reforma abrangente dos métodos de policiamento no Brasil”.

A operação policial de grande escala ocorreu neste 28 de outubro, nas comunidades do Complexo do Alemão e Complexo da Penha, com o objetivo de cumprir cerca de 100 mandados judiciais contra indivíduos ligados a grupos do crime organizado. Segundo dados oficiais, pelo menos 121 pessoas foram mortas, incluindo quatro policiais. Outras 81 pessoas foram detidas.

Turk afirmou que compreende plenamente “os desafios de lidar com grupos criminosos violentos e organizados como o Comando Vermelho”. No entanto, ele afirmou que “a longa lista de operações que resultam em muitas mortes, que afetam desproporcionalmente pessoas negras, levanta questões sobre a forma como essas incursões são conduzidas”.

‘Alta letalidade policial tem sido normalizada’

O chefe de Direitos Humanos declarou que por décadas, “a alta letalidade associada ao policiamento no Brasil tem sido normalizada”, especialmente em áreas como o Rio de Janeiro, onde aumentou significativamente.

Segundo Turk, “o Brasil precisa romper o ciclo de brutalidade extrema e garantir que as operações de segurança pública estejam em conformidade com os padrões internacionais sobre o uso da força”.

Turk pediu investigações rápidas, independentes e eficazes sobre os eventos da terça-feira e uma reforma completa do policiamento. Ele enfatizou que qualquer uso de força potencialmente letal deve estar alinhado com os princípios de legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação.

Racismo sistêmico

O Alto Comissário adicionou que “abordar o racismo sistêmico contra pessoas negras no Brasil é fundamental”. Ele afirmou que “é hora de acabar com um sistema que perpetua o racismo, a discriminação e a injustiça”, disse o chefe de direitos humanos da ONU.

Segundo o Mecanismo Internacional Independente de Especialistas para Promover a Justiça Racial e a Igualdade na Aplicação da Lei, os assassinatos de pessoas negras por agentes de segurança no Brasil são “generalizados”.

Estima-se que 5 mil pessoas negras sejam mortas pela polícia a cada ano. Jovens negros que vivem em áreas empobrecidas são as principais vítimas.

Com informações da ONU e da Agência Brasil
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