Como será o futuro pós-pandemia? Por quanto tempo as vacinas disponibilizadas no mundo no combate à Covid-19 garantem proteção? Essas são apenas duas das várias questões que passam na mente de grande parte das pessoas e que certamente terão suas respostas baseadas na ciência. São questões que revelam a necessidade da sequência de investimento no intenso trabalho de produção cientifica em todo o mundo, incluindo no Brasil onde, infelizmente, o movimento é contrário, com recursos cada vez mais reduzidos, trazendo impactos negativos para as pesquisas realizadas no país.

Soraya Smaili, coordenadora do Sou_Ciência

A análise é de Soraya Smaili, professora de Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do SOU_CIÊNCIA, centro de estudos que está sendo lançado neste dia 8 de julho, Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, para fortalecer o desenvolvimento e a conexão entre universidade, ciência, sociedade e Estado.

Segundo ela, a data marca a importância da produção científica para o desenvolvimento do país e visa a estimular um número cada vez maior de pessoas para a prática da ciência. Neste ano, porém, esse dia também servirá de alerta para os rumos que o atual governo tem tomado, com o incentivo ao negacionismo, a disseminação de fakenews e a política de sub-financiamento, o que impacta diretamente na produção científica nacional, em grande parte realizada dentro das universidades públicas.

No início da pandemia, a Ciência trouxe respostas e entendimentos para todos, incluindo o desenvolvimento de vacinas, onde o Brasil teve protagonismo na realização das pesquisas clínicas para aprovação de alguns dos imunizantes aplicados atualmente em diversos países. Essa mesma Ciência é que nos trará entendimento acerca de como será o nosso futuro, que deve ser pensado e construído agora, o que requer maior empenho público no que diz respeito ao investimento na produção científica nacional”, destaca Soraya.

Segundo ela, nessa pandemia, a ciência mostrou até aqui sua capacidade de gerar respostas para todo o mundo. “Mesmo assim, aqui, nosso governo tenta instalar um movimento anticiência. Para combatê-lo, acreditamos que o caminho mais eficaz e definitivo seja essa união e maior conexão entre universidade, ciência e sociedade, o que será realizado a partir desse dia 8 de julho, com o lançamento do SOU_Ciência“, destaca Soraya Smaili, que participou nesta quarta-feira, do #PapodePandemia, no Youtube do Portal ViDA & Ação – confira abaixo.

Queda nos investimentos em bolsas de pesquisa

Durante sua apresentação na palestra “Em defesa da ciência, das vacinas e da vida”, dentro do Congresso Acadêmico da Unifesp, Soraya lembrou e alertou sobre o elevado custo social provocado por doenças infecciosas e emergentes anteriores à Covid-19 e a lição aprendida pelos países mais desenvolvidos no que diz respeito à ampliação de investimento em pesquisa e na ciência. “Aqui no Brasil, o caminho escolhido tem sido oposto, com queda nos investimentos em bolsas de pesquisas e em outros recursos, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que além do corte tem sido contingenciado”.

O momento é de muita preocupação e tem sido visto como uma forte tentativa de desmonte da nossa ciência, mesmo diante da maior crise sanitária do século. É preciso combater a política negacionista que se tenta impor no Brasil e é justamente com essa motivação que, no mesmo dia 8 de julho, lançaremos o Centro SOU_Ciência, numa força-tarefa composta por pesquisadores de várias áreas do conhecimento e pertencentes a diversas universidades públicas brasileiras”, destaca Soraya Smaili, que foi reitora da Unifesp entre 2013 e 2021.

Para a professora da Unifesp, “apesar do cansaço, não podemos e não iremos parar. A ciência pode responder o que é possível ser feito para alcançarmos a saída dessa crise. O caminho passa pelas vacinas, incluindo o incentivo às pesquisas e produção nacional de imunizantes, bem como pelo investimento em infraestrutura de pesquisa, além de apoio e retenção de nossos pesquisadores. Temos muitos talentos que estão deixando o país para seguir suas pesquisas em locais que lhes garantam melhores condições de estudo, o que representa uma perda valiosa para o Brasil”.

Saiba mais sobre o SOU_CIÊNCIA

A missão do centro será conectar de maneira mais intensa universidade, ciência e sociedade, tornando o conhecimento produzido mais acessível e democratizado, em favor do desenvolvimento social com equidade, democracia, soberania, diversidade, sustentabilidade e solidariedade, em uma sociedade capaz de garantir a cidadania e o bem estar para todos/as.

O SOU_Ciência tem como incumbência estudar e acompanhar a educação superior e a ciência produzida nas universidades brasileiras, em diálogo e conexão permanente com a sociedade. O centro terá o objetivo de elaborar diagnósticos e formular proposições para a sociedade e governos, além de alternativas para a tomada de decisões relacionadas às políticas públicas implementadas nas universidades, identificando e analisando o papel social e o valor público das universidades na transformação da sociedade.

Além do corpo de 25 pesquisadores associados, o SOU_Ciência será composto por um conselho estratégico e um conselho científico, formado por renomados produtores de ciência do país. O centro terá o apoio da Fundação Tide Setúbal e outras fontes de financiamento, que viabilizarão a absorção de pós-doutores e estudantes de iniciação científica para conduzir, junto aos pesquisadores do centro, as atividades de pesquisa que se almeja implementar.

A importância do SOU_CIÊNCIA é que poderemos falar em cooperação ao invés de competição; Inovação que é Social; Democratização do acesso às vacinas. Seremos intransigentes no combate aos movimentos anticiência. É preciso que a população não se deixe levar para o caminho de obscurantismo proposto na política do atual governo”, reforça Soraya Smaili.

Serviço:

Lançamento do Centro SOU_Ciência

Dia 8 de julho, 18h

O ato será transmitido na página do SOU_Ciência no Youtube

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