Em fevereiro, a Internet entrou em alvoroço na última cerimônia anual do Grammy. Mas não foram as belas composições e as melhores gravações dos artistas que chamaram a atenção do público. A vedete da noite foi a aparência atual de Madonna que, no auge de seus 64 anos, estava com o rosto bastante inchado, denunciando a manipulação excessiva de procedimentos estéticos.

A cantora respondeu a comentários negativos nas redes sociais. “Mais uma vez, sou pega no brilho do preconceito de idade e da misoginia. Um mundo que se recusa a celebrar as mulheres que passam dos 45 anos e sente a necessidade de puni-la se ela continuar obstinada e trabalhadora e aventureira”, disse a rainha do pop em seu Instagram.

E reclamou dos fotógrafos: “Muitas pessoas optaram por falar apenas sobre fotos minhas em close-up tiradas com uma câmera de lente longa por um fotógrafo da imprensa que distorce o rosto de qualquer um!!”. Por fim, desabafou: “Estou ansiosa por muitos anos de comportamento subversivo – ultrapassando limites – enfrentando o patriarcado – e, acima de tudo, aproveitando minha vida. Curvem-se cadelas!“, finalizou.

Essa exposição da diva do pop gerou debates sobre o envelhecimento natural. Onde foram parar os nossos rostos reais? As olheiras marcadas? As manchas na pele causadas pela acne acentuada? E as imperfeições naturais provocadas pelos sinais da idade e as rugas características, que os filtros e procedimentos estéticos insistem em esconder?

Sem dúvida, a resposta está na maximização do belo e perfeito, propagada pelas mídias e na perseguição desenfreada, por uma imagem que renegue sua aparência, sua idade real, dentro de uma falsa realidade, promovida pelo medo de envelhecer e o excesso de realizações de procedimentos estéticos faciais. 

‘Exageros não são sinônimos de beleza’

Esse gerenciamento do envelhecimento, deve ser sempre criterioso respeitando as indicações e limites de cada rosto, de cada corpo, pois não existe um padrão pronto e a naturalidade deve ser mantida. Uma vez que, os exageros não são sinônimos de beleza.

E se o envelhecer causa desconforto, é preciso buscar ajuda para elevar a autoestima e valorizar o que se tem de melhor. Todos nós temos medo de envelhecer, o que devemos saber é como envelhecer. Porém, envelhecer é um processo que envolve muito mais do que simplesmente mudanças físicas.

A autoestima também é uma questão importante. Não importa a idade, a autoestima está sempre ligada à validação. Todas as pessoas desejam, e precisam, se sentir valorizadas e queridas. Melhor ainda se puderem ser admiradas.

Quando isso diminui, ou deixa de acontecer, é natural nos sentirmos fragilizados nas relações, principalmente familiares. Afinal, vivemos em uma sociedade que supervaloriza a juventude, mas, os anos passam para todos.

         

Quando a perseguição pela beleza se transforma em síndrome

O importante é respeitar seus limites e colocar sempre sua saúde e segurança em primeiro lugar. Toda idade tem a sua beleza. Essa distorção de padrões de embelezamento assusta, pois, superestima a nossa imagem e pode desencadear o que chamamos de Síndrome da Decepção Continuada.

É quando não mais me reconheço como sou. Minha imagem real não agrada e só consigo aceitar a imagem distorcida e perfeita, aprovada pela sociedade. Perceba que, quando isso acontece, também está sendo rejeitado o amor próprio e evidenciado os mais variados complexos, camuflados por uma necessidade de reconhecimento.

Enfim, o caso da Madonna denuncia que, o que era para rejuvenescer, pode se transformar em perda de identidade visual. É importante fugir dessa imposição neurótica de uma vida de aparências, pois o ser humano não morre quando o coração para de bater, ele morre quando deixa de se sentir e se perceber de verdade.

Esconder-se atrás de uma tendência narcísica e exibicionista, demonstra uma urgente necessidade de ajuste do nosso equilíbrio emocional, já que a falsa realidade força a divulgação para o outro, apenas do que é belo, sem as imperfeições naturais que, caracterizam e o individualizam o ser humano.  

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