Realizar uma cirurgia de aumento na região dos glúteos é um sonho que ocupa o imaginário de muitas mulheres, mas que, ao mesmo tempo, faz disparar fortes sinais de alerta. Não tanto pela impossibilidade da mudança estética, mas pelos caminhos que muitas pacientes insistem em buscar para realizar o desejo, que podem levar a sequelas e até morte.
A procura pela cirurgia de aumento e contorno das nádegas tem aquecido o mercado de cirurgias estéticas em todo o mundo. No Brasil, foram mais de 200 mil procedimentos no bumbum só em 2022 – algo próximo dos 10% de todas as cirurgias plásticas feitas no país. Os dados são da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS, na sigla em inglês). Em âmbito global, as cirurgias de aumento cresceram 137% entre 2018 e 2022, e estima-se que este mercado avance 22% até 2028, elevando o faturamento para a marca de US$ 1,5 bilhão.
Embora seja condenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) e por outras entidades representativas, o polimetilmetacrilato (PMMA), um composto derivado do plástico e bastante semelhante ao silicone, continua sendo adotado por clínicas clandestinas ou de baixa qualidade ou por profissionais pouco qualificados.
Há cerca de dois anos, a atriz, jornalista e modelo Carol Marra optou por remover o metacril – também conhecido como polimetilmetacrilato, ou PMMA, um polímero plástico utilizado para preenchimentos em algumas partes do corpo. A decisão foi motivada por complicações causadas pela substância no organismo.
Em março deste ano, Carol Marra passou por uma gluteoplastia, procedimento que consiste no aumento e remodelamento dos glúteos, em Belo Horizonte. Operada pelo cirurgião plástico Felipe Villaça, a atriz optou pela reparação dos glúteos após a retirada do PMMA.
Lipoenxertia de glúteos com gordura do próprio paciente
O especialista da FVG Cirurgia Plástica, localizada na região Centro-Sul da capital mineira, explica que a lipoenxertia de glúteos tem como objetivo remodelar o bumbum por meio da injeção de gordura da própria paciente, que é coletada por meio de uma lipoaspiração.
O procedimento faz a transferência de gordura da paciente, retirando de áreas em excesso como costas, abdômen, interior das coxas, entre outras, para o preenchimento dos glúteos. Além disso, o enxerto pode ser usado para corrigir irregularidades, diminuir a flacidez e outras imperfeições no bumbum de maneira mais segura”, explica Felipe Vilaça.
Felipe Villaça alerta sobre possíveis complicações decorrentes do uso da substância. “Dentre as complicações mais comuns podemos citar nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos ocasionando deformidades e sequelas irreversíveis”, afirma o especialista.
Ele alerta para que os pacientes jamais utilizem esse tipo de material. “As organizações de saúde são bem enfáticas ao condenar o uso do PMMA para cirurgias estéticas. É um produto com funções muito específicas, mas que definitivamente não servem para aumentar nenhuma região corporal”, avisa.
Há registros de mortes, inclusive recentes, de mulheres que se dispuseram a realizar o procedimento estético com polimetilmetacrilato e que vieram a óbito por conta disso. Uma vez aplicado, é bastante difícil, para não dizer improvável, sua total extração. A consequência pode ser a ocorrência de inflamações, infecções e até de necrose. Por isso, o risco de haver algum efeito colateral e até de morte é elevado no caso da cirurgia de aumento dos glúteos”, avisa.
O médico da FVG garante que é possível alcançar o resultado desejado nos glúteos, mas a partir de outras técnicas, e com materiais mais seguros.
A região dos glúteos também é uma parte cuja transformação promove uma elevação da autoestima feminina. Sentir-se bem consigo mesma traz efeitos positivos para a saúde mental, mas antes é preciso pensar na integridade física. E isso é algo que o PMMA não garante”, atenta o cirurgião plástico.
Segundo ele, a única função do polimetilmetacrilato recomendável para mudanças estéticas é a diminuição das rugas, cuja aplicação não é considerada cirúrgica.
É o único caso aceito pela Anvisa. O resultado é um preenchimento localizado, bastante pequeno, minimamente invasivo. Ainda assim, é mais recomendável o uso de ácido hialurônico, por exemplo. Mas em maior volume, como é o caso do bumbum, o PMMA não deve em hipótese alguma ser introduzido no corpo”, afirma Dr. Felipe Villaça.
“A primeira orientação é: esqueçam o PMMA! A segunda medida é buscar uma clínica especializada, responsável, e conversar com um profissional especializado, capaz de oferecer opções confiáveis, priorizando a integridade física e o resultado. É ele quem poderá dizer qual o procedimento mais adequado para cada caso. Fora desse cenário, descarte qualquer recomendação”, pontua.
Palavra de Especialista
Perigo! Esqueça uso do PMMA para plástica no bumbum
Por Felipe Villaça*
O bumbum é uma das regiões do corpo mais valorizadas pelos brasileiros em geral. Objeto de encantamento para os homens e sonho de consumo de muitas mulheres, ter um glúteo bem torneado foi o motivo pelo qual cerca de 200 mil pessoas recorreram a uma clínica de cirurgia plástica em 2022. O número representa algo em torno de 10% de todos os procedimentos estéticos realizados no país, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS, na sigla inglesa).
Aliás, essa paixão vai além das fronteiras nacionais. De acordo com a mesma entidade, somente entre 2018 e 2022, a procura pelas cirurgias de aumento de nádegas aumentou 137% em todo o mundo. Até 2028, estima-se que este mercado cresça 22%, elevando seu valor para a marca de US$ 1,5 bilhão. Parâmetros que corroboram com conceitos globais de beleza e autoestima.
A busca por melhorias estéticas nos glúteos é algo que a medicina oferece há muitos anos, mas que hoje vem acendendo um alerta importante para quem recorre a esse tipo de procedimento. A técnica de se aplicar enxertos, que ganhou o nome de brazilian butt lift devido à sua popularidade por aqui, e a aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA), uma substância plástica parecida com o silicone, provocaram efeitos colaterais e mortes em diversos pacientes.
O PMMA, em particular, tem a liberação da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, somente para eliminar as rugas e recuperar pequenos volumes de tecido. Entretanto, não é recomendada para aumento de volume corporal. A mesma Anvisa, por sinal, classifica o componente como um produto de classe IV, que representa o mais alto grau de risco.
Ainda assim, curiosamente, a Anvisa é a entidade “mais aberta” ao uso do polimetilmetacrilato, uma vez que outras organizações, incluindo a própria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), não recomendam a substância para uso estético. Antes de qualquer coisa, porque seu uso não oferece um nível de segurança suficiente para aplicação em quantidades maiores, como é demandado na região dos glúteos.
As reações do organismo ao produto são graves e irremediáveis. Elas variam entre inflamações, infecções, necroses e até morte. Um dos casos talvez de maior notoriedade foi o da modelo e jornalista Lygia Fazio, de 40 anos, que morreu no ano passado depois de enfrentar uma batalha de três anos para retirar o PMMA do seu corpo após fazer uma aplicação nos glúteos. Outra morte mais recente foi a de uma mulher de 60 anos, em março deste ano, em Belo Horizonte.
O que muitas pessoas que sonham com o bumbum perfeito precisam compreender primeiramente é que o veto à substância não inviabiliza a possibilidade de um procedimento estético no bumbum. Há próteses de silicone mais adequadas ao preenchimento e até o uso de gordura do próprio corpo do paciente. No entanto, é fundamental que a técnica adequada seja escolhida por um profissional habilitado, e que jamais se considere a hipótese de buscar uma clínica clandestina. A saúde, muito mais do que a estética, deve estar em primeiro lugar.
*Cirurgião plástico da FVG Cirurgia Plástica
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