Graças ao avanço dos antirretrovirais, medicamentos que são oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), muitas pessoas que vivem com o vírus HIV e se tratam regularmente não são mais capazes de transmiti-lo. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio de Janeiro, das 42.850 pessoas que vivem com o HIV fazendo tratamento pelo SUS na cidade, quase 80% têm carga viral indetectável – ou seja, não podem transmitir o vírus pela via sexual.
“O município tem avançado na redução da carga viral .Temos hoje quase 80% dos pacientes com HIV vivendo com carga viral indetectável, fazendo uso de antirretrovirais. Todas as nossas 238 unidades de saúde estão preparadas para esse atendimento”, disse o secretário municipal de saúde, Daniel Soranz.
Segundo ele, o paciente com HIV pode buscar tratamento e medicação em qualquer unidade de saúde, sem necessidade de ser a sua unidade de referência. Em 2022, havia 89.582 pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) em todo o estado em uso de Terapia Antirretroviral (TARV); em 2021, 86.262. São consideradas em TARV aquelas PVHA que fizeram pelo menos uma vez uso de medicamentos antirretrovirais nos últimos 120 dias do ano.
Brasil registra queda de óbitos por aids
Apesar da redução, doença ainda mata mais as pessoas negras. Houve aumento de casos entre pretos e pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015
Nos últimos dez anos, o Rio de Janeiro registrou queda de 32,2% no coeficiente de mortalidade por aids, que passou de 9,3 para 6,3 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, o estado registrou 1.370 óbitos tendo o HIV ou a aids como causa básica, 23,3% menos do que os 1.788 óbitos registrados em 2012, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde no dia 11/12.
Entre as capitais do país, Rio de Janeiro registrou 9 mortes para cada 100 mil habitantes no ano passado –número maior que à taxa nacional. As informações são do novo Boletim Epidemiológico sobre HIV/aids apresentado pelo Ministério da Saúde, que também aponta taxa de detecção de aids no Rio de Janeiro de 23,3 casos por 100 mil habitantes. A capital carioca detectou 27,7 casos.
Mais de 3.500 infectadas este ano no Estado do Rio
De janeiro a outubro deste ano, 3.562 pessoas foram diagnosticadas com infecção pelo HIV – o vírus causador da Aids – no Estado do Rio de Janeiro, segundo dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde (MS). Em 2022, no mesmo período, foram 4.381. Somente o município do Rio registrou em 2023, até o momento, 2.300 novas infecções pelo HIV, com taxa de detecção de 33,9 a cada 100 mil habitantes.
Quanto a mortes em consequência de HIV/Aids no Estado do Rio, de acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), de janeiro a outubro de 2023, o número chega a 961 (dado ainda sujeito a alteração); em 2022, no mesmo período, foram 1.157. Na cidade do Rio, desde o início do ano, ocorreram 409 óbitos, o que equivale a uma taxa de mortalidade de 6/100 mil.
Uma preocupação atrelada a quem vive com HIV é a tuberculose. De acordo com o Ministério da Saúde, pessoas que vivem com o HIV têm 25 vezes mais risco de desenvolverem tuberculose quando comparadas com quem não vive com o vírus. O levantamento indica que cinco pessoas morrem de co-infecção por tuberculose e HIV por dia no país. No Estado do Rio, em 2022, foram 1.724 mortes por tuberculose, e 19,5% dessas pessoas viviam também com HIV.
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A transmissão do vírus HIV pode ocorrer por meio de relações sexuais desprotegidas; pelo compartilhamento de seringas contaminadas; ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não são adotadas as devidas medidas de prevenção. Além do uso de preservativos e métodos profiláticos, a testagem é uma das medidas mais importantes para se evitar a transmissão do vírus.
Na cidade do Rio de Janeiro, a rede municipal de saúde oferece a testagem em suas mais de 230 unidades de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde). O número de usuários testados saiu de 278.605 em 2021 para 304.667 em 2023 até o momento.
A SMS iniciou esta semana uma grande mobilização para intensificar as testagens de HIV, sífilis, hepatites B e C na cidade. O objetivo é realizar 300 mil testes. Além das unidades de saúde, a SMS amplia o acesso à testagem com a ação VanBora!, uma van com equipe de saúde que circula nos principais pontos de aglomeração, em festas e eventos, levando testagem, orientação e vacinação para o público presente.
No Rio, todas as unidades de Atenção Primária estão aptas a orientar e conscientizar sobre HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, além da distribuir preservativos, e prescrever a PrEP (profilaxia pré-exposição), conforme indicação. Os serviços também são oferecidos todos os dias no novo Centro de Prevenção Combinada, que funciona em horário ampliado, de domingo a domingo, das 7h às 22h, no Complexo de Saúde de Botafogo, na Rua General Severiano, 91.
A SMS também amplia o acesso à testagem com a ação VanBora!, uma van com equipe de saúde que circula nos principais pontos de aglomeração, em festas e eventos, levando testagem, orientação e vacinação para o público presente.
‘Tem que testar para saber e, para saber, tem que testar’
Quando o diagnóstico é feito precocemente, o paciente pode iniciar o tratamento de imediato e recebe orientação e medicação, como a profilaxia pré-exposição (PrEP), retroviral que deve ser usado por pessoas não infectadas pelo HIV, a fim de se evitar a infecção durante a relação sexual.
“É fundamental que a população se previna, se teste e busque tratamento. É preciso que as pessoas tenham consciência que é com a prevenção e com a testagem que conseguimos evitar a disseminação desta doença, que ainda é um problema de saúde pública. É importante conscientizar a população e informar que o teste é fundamental para o diagnóstico precoce, evitar a transmissão e começar o tratamento para essas doenças o quanto antes”, diz o secretário Daniel Soranz.
O coordenador de Diversidade Sexual do município, Carlos Tufvesson, lembra que o Boletim Epidemiológico deste ano deixou bem claro que a informação é fundamental no combate à infecção pelo HIV. Se hoje ainda temos dados elevados, principalmente entre os jovens, isso parte da desinformação.
“Hoje já temos tratamentos como PrEP e PEP nas unidades de saúde, mas é preciso reforçar principalmente a testagem. Quem tem uma vida sexualmente ativa, tem que testar sempre. Quanto antes o diagnóstico vier, melhor vai ser o tratamento e a qualidade de vida. Tem que testar para saber e, para saber, tem que testar”, afirma.
Desafios para vencer a epidemia de Aids
Embora já não cause tantas mortes como nos anos 80 e 90, a Aids ainda é um grande desafio para a saúde pública, exigindo cuidados contínuos de prevenção e tratamento, para dar qualidade de vida aos pacientes e evitar novas contaminações. As ações de prevenção combinada, a testagem e o diagnóstico são fundamentais para evitar a transmissão do HIV e proteger a população. Todo o tratamento e medicação são oferecidos gratuitamente pelo SUS.
No Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado nesta sexta-feira (01/12), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) lança o Boletim Epidemiológico HIV/Aids no Município do Rio de Janeiro (disponível no portal EpiRio), mostrando os desafios que persistem com os novos casos, mas também os avanços nas ações de prevenção.
Já a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informou que está investindo mais de R$ 4,1 milhões em seu Programa Estadual de Prevenção e Tratamento de IST/Aids, 37% a mais que em 2022, quando o aporte foi de R$ 3 milhões. As iniciativas têm como objetivo disseminar informações e estratégias de prevenção e cuidado, realizar treinamento técnico de equipes de saúde dos municípios e orientar a população sobre como e onde acessar os tratamentos disponíveis na rede do SUS.
Preocupada com o aumento de casos de tuberculose entre pacientes com HIV, a SES-RJ realizou na última segunda-feira (27/11), o primeiro Seminário Estadual Cuidado Integral em Tuberculose e HIV: Atenção Centrada na Pessoa, com o objetivo de promover troca de conhecimento e de orientar as coordenações das áreas de tuberculose e IST/AIDS das secretarias municipais de Saúde sobre a necessidade de integrar ações e desenvolver estratégias eficazes no cuidado de quem tem ambas as doenças
Ações do Estado para evitar a propaganda do HIV
Entre as principais ações da SES-RJ para evitar a propagação da Aids destacam-se:
prevenção à transmissão vertical (infecção de crianças nascidas de mães que vivem com HIV), por meio da distribuição de fórmula láctea com predominância protéica de caseína, para bebês de 0 a 1 ano;
fomento e apoio à expansão de serviços de profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP) e de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP);
distribuição de preservativo interno e externo (femininos e masculinos), e gel lubrificante para municípios e organizações da sociedade civil;
distribuição de testes rápidos para diagnóstico de infecção pelo HIV em diferentes metodologias (punção digital, autoteste e fluido oral) aos municípios do estado;
publicação e distribuição de material educativo para municípios e ONGs, e
realização de campanhas de prevenção em espaços públicos.
“Falar sobre prevenção ainda é o melhor caminho para reduzirmos o número de novas infecções pelo HIV e o número de pessoas com AIDS. Existem recursos disponíveis no SUS para prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV. Temos que pensar na ampliação do acesso aos usuários de maneira equânime e sob a ótica do cuidado integral. Por isso, estamos investindo cada vez mais em ações de prevenção e cuidado para as pessoas que vivem com HIV/AIDS”, destaca a secretária de estado de Saúde, Claudia Mello.
Prevenção combinada é principal estratégia no município
Para enfrentar os desafios ainda impostos pelo HIV, a rede municipal de saúde trabalha com a chamada prevenção combinada, que associa diferentes métodos e ações de prevenção ao vírus:
testagem;
prevenção da transmissão vertical (da gestante soropositiva para o bebê);
tratamento das infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais;
imunização para as hepatites A e B;
redução de danos para usuários de álcool e outras drogas;
profilaxia pré-exposição (PrEP);
profilaxia pós-exposição (PEP);
tratamento para as pessoas que já vivem com HIV; e
oferta gratuita de preservativos – este ano já foram distribuídos mais de 12,7 milhões de preservativos masculinos.
Mais sobre HIV e Aids no mundo
A Aids é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (da sigla em inglês HIV). Esse vírus, do tipo retrovírus, ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. De acordo com a Unaids, em todo o mundo 39 milhões de pessoas viviam com o vírus HIV em 2022. No mesmo ano, 1,3 milhão de pessoas foram recém-infectadas e 630 mil morreram de doenças relacionadas à Aids.
As pessoas contaminadas pelo HIV são consideradas soropositivas, mas podem ou não desenvolver a Aids. Qualquer pessoa soropositiva, com carga viral detectável, pode transmitir o vírus e, por isso, a prevenção é fundamental. Os tratamentos hoje existente são bem aceitos e eficazes, auxiliando na diminuição do número de mortes e aumentando a qualidade de vida dos portadores do vírus. De acordo com a Unaids, 29,8 milhões de pessoas estavam recebendo terapia antirretroviral em 2022.
Com Assessorias SMS-Rio, SES-RJ e Ministério da Saúde (atualizado em 11/12/23)