Por Raul Canal*
Novembro é o mês de conscientização sobre o câncer de próstata, que é o segundo tipo de câncer mais comum na população masculina em todas as regiões do País, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Além disso, ocupa a mesma colocação como o que mais mata, atrás do câncer de pulmão.
Um dos motivos que explica esse cenário é o fato de os homens procurarem menos a consulta médica preventiva. Segundo a pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o câncer é a doença urológica mais temida pelos homens (58%), seguida pela impotência sexual (37%). Entretanto, apenas 46% vão ao médico quando têm algum sintoma.
Independentemente se o indivíduo faz o uso do serviço de saúde no setor público, privado ou suplementar, essa atitude de medo ou de passividade em ir ao médico é extremamente prejudicial, pois pode levar a uma situação de risco iminente para a saúde. Pesquisas mostram que quando o homem vai a uma consulta – muitas vezes, depois de uma árdua campanha de convencimento de seus familiares –, na maioria dos casos, a doença já está no estágio II, em primeiro lugar; ou no estágio IV, em segundo lugar.
Para tentar dirimir os estragos que a neoplasia pode causar e acelerar o processo de identificação e de tratamento da doença, aumentando, assim, as chances de cura, existem algumas leis em vigor que, muitas vezes, são desconhecidas do público em geral. Entre as legislações e os direitos pouco divulgados e reivindicados estão duas leis importantes:
- Lei nº 13.045, de 2014, que determina que as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) devem realizar exames para a detecção precoce do câncer de próstata sempre que o médico considerar necessário; e
- Lei n° 13.767, de 2018, que permite a homens e a mulheres se ausentarem do trabalho, sem prejuízo no salário, por até três dias em cada 12 meses trabalhados, para a realização de exames de detecção de câncer.
Além disso, vale lembrar que todo paciente diagnosticado com câncer tem o direito de resgatar o FGTS por tempo de serviço. Em casos de desrespeito às leis, os pacientes podem buscar a ajuda da Defensoria Pública. Já para as pessoas que têm planos de saúde, a orientação é fazer o uso do Código de Defesa do Consumidor.
Um dos principais motivos para o cidadão desistir de buscar o cumprimento das normas constitucionais é a falta de informação. O conhecimento é um aliado do cidadão, portanto, campanhas como a do Novembro Azul não devem focar apenas em informações como sintomas, diagnóstico ou tratamento, que são fundamentais, mas devem aprofundar a conscientização, trazendo também informações sobre direitos e caminhos que os cidadãos podem buscar para que o tratamento seja realizado de forma rápida e eficaz.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para o triênio 2023-2025, 71,7 mil novos casos surgirão, anualmente, no País. Portanto, é urgente que seja quebrado todo esse tabu em torno do exame de toque retal (voltando à pesquisa da SBU, um em cada sete homens relataram temor em relação ao exame, sendo que o índice é maior naqueles com idade superior a 60 anos, justamente os com mais chances de desenvolver a doença) e que as campanhas de conscientização encorajem não apenas aqueles que precisam fazer o exame de rotina, mas também os que já fizeram, foram diagnosticados e estão mais fragilizados devido aos tabus da sociedade e a demora no início do tratamento.
*Presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem).
Câncer de próstata: longe de ser mais do mesmo
Por Paulo Pizão*
O mês de novembro é marcado pelo movimento mundial Novembro Azul, que tem como principal objetivo conscientizar a população masculina sobre o câncer de próstata. Adotada em diversos países, a campanha destaca a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre os homens, o câncer de próstata é predominante em todas as regiões do Brasil, totalizando 72 mil casos novos estimados a cada ano do próximo triênio, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
A prevenção começa com a adoção de hábitos saudáveis. Manter uma alimentação equilibrada, evitar o consumo excessivo de álcool, não fumar, praticar atividades físicas regularmente e manter o peso corporal adequado são medidas fundamentais para minimizar os riscos.
Além de cuidar do corpo, a prática regular de exercícios e uma dieta balanceada têm um impacto direto na redução da probabilidade de desenvolver várias doenças, incluindo o câncer de próstata.
Quando falamos em diagnóstico precoce, pensamos imediatamente nos exames de rastreio. O exame de toque retal e o teste de PSA (Antígeno Prostático Específico) são as principais ferramentas neste processo.
Homens a partir dos 50 anos devem realizar esses exames anualmente. Para aqueles com maior risco, como homens negros, com histórico familiar da doença ou que apresentam alterações genéticas, a recomendação é que iniciem essa rotina aos 40 anos. É essencial que esses testes sejam conduzidos por urologistas.
Opções de tratamento do câncer de próstata
Felizmente, com os avanços da medicina, os tratamentos para o câncer de próstata evoluíram consideravelmente. Dependendo do estágio da doença, o paciente pode ser submetido a procedimentos como cirurgia – com considerável ênfase à robótica –, radioterapia, hormonioterapia, quimioterapia ou, em casos específicos, a observação vigilante.
Além disso, a evolução tecnológica trouxe equipamentos de imagem mais sofisticados, elevando as chances de um diagnóstico preciso. A inovação também está presente também nos tratamentos.
A cirurgia robótica é, sem dúvida, um avanço para a saúde e qualidade de vida do paciente pós cirurgia. O método preserva enormemente a estrutura anatômica de nervos da região acessada pelo cirurgião, sendo importante proteção ao homem ao viabilizar a redução de possíveis sequelas.
A radioterapia é outra modalidade de tratamento que progrediu nos últimos anos. A radiação, agora mais dirigida ao tumor, atinge menos o redor, resultando em menos efeitos colaterais.
Um dos avanços mais significativos na luta contra o câncer de próstata é a oncologia de precisão. Este método revolucionário analisa o perfil genético do tumor para direcionar tratamentos mais eficazes e personalizados.
Outro progresso promissor é a imunoterapia, que busca fortalecer o sistema imunológico do paciente para que ele próprio combata as células cancerosas. Embora a imunoterapia não seja eficaz para todos os casos de câncer de próstata, já tem demonstrado resultados significativos em alguns.
“Atenção especial ao surgimento de novos fármacos que bloqueiam a produção e a ação da testosterona, hormônio que propicia o crescimento do tumor na próstata. A nova geração de medicações tomada por via oral em formato de comprimido apresenta mais eficácia que a quimioterapia.
O cuidado não termina após o tratamento. O acompanhamento pós-tratamento é crucial para monitorar a saúde do paciente, detectar precocemente qualquer sinal de recorrência e gerenciar possíveis efeitos colaterais das terapias.
Neste quesito, ressalto a necessidade do Brasil em implantar o Survivorship, conceito já instalado nos países do Hemisfério Norte, que é de cuidar permanentemente do paciente que sobreviveu ao câncer para que ele volte plenamente a ter qualidade de vida nos aspectos físico, emocional, profissional e familiar.
*Pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas), coordenador da disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP; oncologista no Instituto do Radium. É especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) e em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira. Também é PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.
Com Assessorias