Solteiros, viúvos e divorciados são os que mais morrem por suicídio no Brasil. Eles somam 60,4% do total de 62.804 mortes registradas entre 2011 e 2016. A maioria dos casos (62%) o motivo foi enforcamento. Os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres: 79% do total de óbitos registrados. Os dados são do primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Ministério da Saúde.
Jovens brasileiros de 15 a 29 anos são as principais vítimas de suicídio no Brasil: 9 mortes por 100 mil habitantes. Já entre as mulheres desta faixa etária, o índice é quase quatro vezes menor (2,4 por 100 mil). Em seguida, os idosos com mais de 70 anos são os que mais atentam contra a própria vida: média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos – a média nacional é 5,5 por 100 mil.
Na comparação entre raça/cor, a maior incidência é na população indígena. A taxa de mortalidade entre os índios é quase três vezes maior (15,2) do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7). A faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos entre eles.
Meta é reduzir 10% dos óbitos até 2020
Neste Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, o diagnóstico marca uma nova estratégia do governo para o enfrentamento desse sério problema de saúde pública. Os dados vão orientar a qualificação e expansão da rede de atenção à saúde mental. O objetivo é atingir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de redução de 10% dos óbitos por suicídio até 2020.
Entre as ações, destacam-se a capacitação de profissionais, orientação para a população e jornalistas, a expansão da rede de assistência em saúde mental nas áreas de maior risco e o monitoramento anual dos casos no país e a criação de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. Desde 2011, a notificação de tentativas e óbitos é obrigatória no país em até 24h.
Tentativas de suicídio
O documento apresenta ainda que, entre os anos de 2011 e 2016, ocorreram 48.204 tentativas de suicídio. Ao contrário da mortalidade, foram as mulheres que atentaram mais contra própria vida, 69% do total registrado. Entre elas, 1/3 fez isso mais de uma vez. Por raça/cor, a população branca (53,2%) registrou maior taxa. Do total de tentativas no sexo masculino, 31,1% tinham entre 20 e 29 anos. Além disso, 58% dos homens e mulheres que tentaram suicídio utilizaram substâncias que provocaram envenenamento ou intoxicação.
Confira a apresentação dos dados divulgados pelo Ministério da Saúde
Assistência psicossocial ajuda a proteger
Os serviços de assistência psicossocial têm papel fundamental na prevenção do suicídio. O Boletim apontou que nos locais onde existem Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), uma iniciativa do SUS, o risco de suicídio reduz em até 14%. Existem no país, 2.463 CAPS e, no último ano, foram habilitadas 146 unidades, com custeio anual de R$ 69,5 milhões do Ministério da Saúde. Por isso, a agenda estratégia prevê a expansão dessas unidades nas regiões de maior risco.
Outro ponto para ampliar o atendimento é a parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV). O Ministério da Saúde tornou gratuito a ligação para a instituição que faz o apoio emocional por para prevenção de suicídios. A partir do dia 30/09, além do Rio do Grande do Sul, o 188 ficará disponível sem custo de ligação para mais oito estados: MS, SC, PI, RR, AC, AP, RO e RJ. A expansão beneficiará 21% da população brasileira.
Para se ter ideia do impacto da medida, no Rio Grande do Sul, onde já funciona desde setembro, número de atendimento aumento em treze vezes: de 4.500 ligações em setembro de 2015 para 58.800 em agosto deste ano. Além disso, a entidade também presta assistência pessoalmente, via e-mail ou chat. A representante do CVV, Leila Herédia, ressalta a importância da gratuidade das ligações para o aumento dos atendimentos.
“O custo das ligações era um fator impeditivo na hora das pessoas procurarem ajuda. No momento de angústia, as pessoas querem ser ouvidas, querem conversar. A medida vai facilitar o acesso da população aos serviços do CVV”, afirmou.
Cartilhas para a população, profissionais de saúde e população
Também estão previstos materiais de orientação para ampliar a comunicação social e qualificar a informação aos jornalistas, profissionais de saúde e a população. Por isso, o Ministério lançou um folheto informativo para os jornalistas, com sugestões sobre como abordar o tema. Para a população, foi feito um folder com foco na identificação de sinais de alerta, como o que fazer e o que não fazer diante de uma pessoa com risco de suicídio.
Já para profissionais de saúde, foi feito documento sobre a importância da notificação compulsória da tentativa de suicídio em até 24h e que traz informações técnicas sobre acolhimento na rede do SUS. Já para a Educação Permanente dos profissionais de saúde na prevenção do suicídio, o Ministério da Saúde oferta, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um curso à distância sobre Crise e Urgência em Saúde Mental. Desde 2014, já foram capacitados 1.994 profissionais. A próxima turma, prevista para 2018, capacitará outros 1.500 profissionais da RAPS, com capítulo sobre suicídio.
Outra capacitação prevista é a Oficina Nacional de Qualificação das Ações de prevenção suicídio entre povos indígenas, que será realizada em novembro. Também para os índios, ainda nesta ano, haverá a implantação das linhas de cuidados de prevenção do suicídio com capacitações em 16 DSEI prioritários e formação de jovens indígenas multiplicadores em estratégias de valorização da vida nas regiões com maior incidência de suicídio.
Todos os documentos estão disponíveis para download no Portal da Saúde (www.saude.gov.br).
Fonte: Agência Saúde/MS