Faltam 131 anos para alcançarmos a paridade total entre homens e mulheres no mundo. No ritmo atual, as desigualdades só seriam eliminadas em 2154. Os dados são da ONG Plan International Brasil, organização humanitária, não-governamental e sem fins lucrativos que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas. A entidade realiza diversas ações para celebrar o Dia Internacional da Menina (11 de outubro), com destaque para a campanha Acelere o Relógio, com base no relógio criado pelo Fórum Econômico Mundial para medir o progresso da igualdade de gênero no mundo.
“É preciso acelerar esse relógio, mas o progresso em direção à igualdade de gênero tem se caracterizado por um ritmo de dois passos à frente e um para trás. Estudos recentes confirmam que houve pouco progresso na igualdade de gênero no mundo entre 2015 e 2020 e a pandemia de Covid-19 piorou ainda mais a situação, com o aumento da violência contra as mulheres e no número de casamentos infantis”, afirma a ONG.
Uma das medidas para estimular a igualdade de gênero se baseia no incentivo ao ativismo de meninas e jovens mulheres. A pesquisa “Transformando o Mundo – Meninas e jovens mulheres ativistas liderando a luta pela igualdade”, realizada pela Plan International, expõe como as meninas enfrentam uma série de desafios ao lutarem por mudanças, enfrentando riscos que vão desde hostilidade por parte de membros da comunidade até policiamento opressivo e abuso on-line.
Fatores de sucesso e barreira para o ativismo das meninas
A pesquisa aponta os fatores de sucesso para o ativismo e as principais barreiras que meninas e jovens mulheres enfrentam. Elas acreditam que vale a pena, mas estão conscientes sobre o alto preço que pagam por isso: 95% das participantes afirmaram que o ativismo teve impactos positivos em suas vidas.
No Brasil, 86% delas disseram que ficaram orgulhosas e satisfeitas com suas contribuições para mudanças, 65% desenvolveram ou aprenderam novas habilidades e 55% melhoraram sua autoconfiança. No estudo global, uma em cada cinco (17%) ativistas meninas e jovens mulheres já temeu pela própria segurança durante as atividades de ativismo – no Brasil, esse número foi a 29%, com 12% das meninas tendo tantas experiências negativas que pararam de se envolver em ativismo, campanhas e atividades de influência.
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“Sinto que ainda há uma parte da sociedade que acredita que o ativismo não é uma coisa séria, que não é um trabalho que faz diferença”, afirmou a jovem Mada, de 24 anos, ao ser entrevistada por uma jovem ativista aqui no Brasil.
Por aqui, algumas participantes também destacaram casos de censura ou tentativas de silenciar o seu ativismo. Uma em cada quatro (27%) meninas citou opiniões negativas de membros de sua família ou comunidade como outra barreira para seu trabalho de ativismo. Mas elas acreditam no impacto positivo de suas ações.
“O principal é não desistir e, de fato, ver a sua luta como uma luta transformadora, porque de alguma forma ela te transforma. Aí você sabe que isso vai transformar a vida de outra pessoa ou de outras pessoas”, disse Eva, de 22 anos, também em uma entrevista com jovem ativista.
Ativismo tem um grande impacto na saúde mental das meninas
A pesquisa “Transformando o Mundo – Meninas e jovens mulheres ativistas liderando a luta pela igualdade” contou com a participação de mais de 1 mil meninas e jovens mulheres ativistas de 15 a 24 anos de 26 países, incluindo o Brasil. Dessas, 840 participaram de uma abordagem quantitativa, mais de 200 foram entrevistadas diretamente por outras jovens ativistas e 57 fizeram parte de grupos focais de discussão.
“As meninas e jovens mulheres ativistas estão mudando suas comunidades para melhor. No dia a dia, elas enfrentam uma série de dificuldades e temem por sua segurança, mas não desistem de lutar pela igualdade de gênero. Só assim conseguiremos alcançar a igualdade e acelerar esse relógio”, diz Cynthia Betti, diretora executiva da Plan International Brasil. “No estudo deste ano, o Brasil foi o país com o maior número de participantes, o que também demonstra o comprometimento das meninas com a causa da igualdade.”
O ativismo tem um grande impacto na saúde mental das meninas e pode ter um custo pessoal enorme. Uma em cada quatro (25%) diz ter se sentido emocionalmente abalada ou ansiosa enquanto se envolvia em atividades de ativismo. Para as ativistas LGBTQIAP+, esse número aumenta para uma em cada três (31%). No Brasil: 36% se sentiram emocionalmente abaladas ou ansiosas.
O estudo global também destaca:
· O ativismo das meninas está causando impacto, com mais da metade (61%) daquelas entrevistadas pela Plan International afirmando que o impacto de seu ativismo atendeu ou superou suas expectativas (54% no Brasil).
· A igualdade de gênero é a questão mais importante para as meninas ativistas, com 60% mencionando a igualdade de gênero ou a violência baseada em gênero como uma questão prioritária (no Brasil: igualdade de gênero [71%], feminismo [70%] e pobreza e questões econômicas [61%]).
· A maior barreira para o ativismo das meninas é a falta de financiamento, mencionada por mais da metade (54%) das participantes como o principal fator que limita suas campanhas (47% no Brasil).
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Recomendações a governos e sociedade civil
A pesquisa ainda inclui uma série de recomendações a governos, doadores e sociedade civil, como:
· Aumento do financiamento para iniciativas e grupos liderados por meninas e jovens.
· Governos devem apoiar meninas e jovens mulheres a se envolverem de maneira significativa em todas as áreas da vida pública. Isso deve incluir acesso a pessoas tomadoras de decisões e a criação de mecanismos para que as meninas participem da sociedade civil e formalmente dentro das instituições.
· Educação de qualidade sobre igualdade de gênero, direitos humanos e democracia para ampliar a compreensão das meninas sobre o ativismo, além de treinamento em habilidades em áreas como organização e oratória, para fortalecer a confiança das meninas em sua capacidade de fazer campanhas e influenciar os temas de seu interesse.
· Todas as pessoas em posição de poder/liderança devem desempenhar seu papel na luta contra a discriminação por idade e gênero, bem como a ameaça de violência e criar espaços seguros e abertos para remover as barreiras que impedem as meninas de se manifestarem.
#MeninasOcupam: liderança também é lugar para as meninas
Em celebração ao Dia da Menina, meninas dos projetos da Plan International Brasil participam ao longo do mês de outubro do movimento #MeninasOcupam, que promove ocupações de organizações públicas e privadas, além de perfis de influenciadoras e influenciadores nas redes sociais.
As ações do movimento #MeninasOcupam permitem que as jovens ocupem por algumas horas cargos de liderança em instituições públicas e privadas, mostrando que a liderança também é um lugar para as meninas.
Neste ano, a Plan tem ocupações já confirmadas para espaços como o Governo do Estado do Maranhão, o Ministério Público no Maranhão (São Luís e Codó) e em São Paulo, prefeituras, secretarias municipais, além de empresas como AstraZeneca e Kimberly-Clark, museus e outros espaços.
Ocupações são marca do movimento em todo o mundo
Nos últimos anos, a Plan já promoveu centenas de ocupações como parte do movimento. A organização chegou ao Brasil em 1997. Desde então, se dedica a garantir os direitos e promover o protagonismo das crianças, adolescentes e jovens, especialmente meninas, por meio de seus projetos, programas e ações de incidência e de mobilização social.
Tem também viabilizado condições de subsistência em comunidades que sequer tinham acesso a recursos essenciais, como a água, com projetos implementados no Maranhão, no Piauí, na Bahia e em São Paulo. Atuando em rede com outras organizações do terceiro setor e movimentos sociais, a organização tem pautado as demandas das meninas em novos espaços do Legislativo, Executivo e na sociedade civil em todo o território nacional.
Criada há mais de 80 anos, a Plan International registra anualmente mais de 1 mil iniciativas para o movimento em cerca de 80 países, organizados sob a hashtag #GirlsTakeover. “Acreditamos no potencial de todas as crianças, mas sabemos que isso é muitas vezes reprimido por questões como pobreza, violência, exclusão e discriminação. E as meninas são as maiores afetadas”, ressalta a ONG.
O trabalho conta com uma rede de parcerias para enfrentar as causas dos desafios de meninas e crianças em situação vulnerável. “Impulsionamos mudanças na prática e na política nos níveis local, nacional e global, utilizando o nosso alcance, a nossa experiência e o nosso conhecimento”, afirma.
Considerada uma das organizações mais confiáveis do país, a Plan International Brasil ficou entre as 100 Melhores ONGs do país em 2020 e recebeu a certificação A+ no Selo Doar Gestão e Transparência. A Plan acredita que um mundo melhor para as meninas é um mundo melhor para todas as pessoas. E, para construir uma sociedade mais justa e igualitária, conta com o apoio de embaixadoras como Ana Paula Padrão, Thainá Duarte, Joyce Ribeiro e Astrid Fontenelle.
Fonte: Plan Internacional Brasil