O cantor Wesley Safadão, de 35 anos, interrompeu uma pesada rotina iniciada aos 15 nos palcos por um motivo que muitos podem até chamar de mimimi, mas que é sério e cada vez afeta mais e mais brasileiros: o transtorno de ansiedade. Ao programa Fantástico, da TV Globo, deste domingo (10), Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, ele resolveu falar mais a respeito da pausa para se cuidar, em pleno Setembro Amarelo, mês dedicado aos temas envolvendo a saúde mental.

“Tinha medo de morrer, medo de passar mal. Eu tinha medo de perder o controle em cima do palco”, revelou Safadão. “Ainda é difícil falar, mas eu tô esgotado. Esgotado mentalmente. Eu não soube a hora certa de dosar, de diminuir o ritmo. É como se eu não conseguisse dizer ‘não’. São tantos anos nessa pegada”.

Assim como muitos outras pessoas que já sofreram com crises de ansiedade, como eu, o músico teve sintomas como alterações no sono, parestesia nas mãos, falta de ar e dificuldade para respirar. Dias antes, ele chegou a declarar, durante um show, que não se sentia bem. Não tinha dormido duas noites seguidas. Sua mente estava prestes a pifar.

O cantor contou que os problemas já davam sinais desde 2017, mas ele os ignorava. Em 2018, pensou em dar um tempo na carreira para descansar mais. Chegou a desacelerar a agenda de shows – de 50 por mês, passou a fazer 25. Mas não foi suficiente. O sinal vermelho acendeu no dia 5 de agosto, quando chegou a pensar que não sobreviveria.

“Estava a caminho de um show em Minas Gerais quando comecei a passar mal dentro do carro. Começou a faltar ar. Tentava respirar e não conseguia: ‘Quero ir pro hospital, acho que tô morrendo’”, contou ele. “Eu não queria acreditar que tava com crise de ansiedade. Eu era uma bomba-relógio, que estava se estressando facilmente por coisas poucas”

O artista anunciou no último dia 3 de setembro, nas redes sociais, que interromperia sua agenda de shows por tempo indeterminado, sem detalhar a razão.  “Informamos que o cantor Wesley Safadão fará uma pausa na agenda de shows por tempo indeterminado. O artista apresentou problemas de saúde e terá que se afastar dos palcos por orientação médica”, dizia o comunicado. “Pedimos a compreensão de todos e agradecemos o carinho que sempre tiveram com Wesley”.

O cantor procurou um psiquiatra. “Você precisa aceitar que não é o fim do mundo. Você vai melhorar”, disse-lhe o médico, que receitou medicamentos e terapia com psicólogo. “Para o medo de morrer, eu tô tomando medicamento. O psiquiatra passou e tenho conseguido controlar”, contou Safadão.

Enquanto procura momentos prazerosos com a família, como passar dias num haras, Safadão diz que pretende voltar aos palcos até o fim do mês. “Eu não vou parar de cantar. Eu amo cantar e eu quero voltar a ter essa alegria. É só equilibrar. Equilibrou, eu acredito que vai dar tudo certo.”

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Eu tenho ansiedade? Entenda quando a ansiedade ‘boa’ pode se tornar patológica

Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. A ansiedade é uma condição que afeta mais de 18 milhões de brasileiros, e é caracterizada por um sentimento de medo e apreensão frente a um perigo desconhecido. E todo mundo carrega um pouco do transtorno em si, mas quando se torna exagerado, vira um problema patológico.

Segundo a psicanalista Blenda Oliveira existe a dita ansiedade “boa” e a ansiedade “patológica”. A diferença das duas está na frequência e intensidade. “A ansiedade boa é aquele sentimento comum que todos temos dentro de nós. Funciona como uma espécie de motor, pode fazer parte dos momentos de realização, curiosidade, da vontade de crescer, de aprender, é uma energia que move você adiante”, explica a especialista.

“Já a ansiedade patológica, tem uma frequência e intensidade muito grandes, podendo tornar a vida disfuncional. A pessoa começa a ter sintomas físicos, como taquicardia, dores no estômago, problemas de pele e de sono, comer muito ou não comer, e a dificuldade de dar conta das tarefas do dia a dia, além de seus relacionamentos e compromissos”, complementa.

Blenda explica que quando a ansiedade atinge o estágio de patológica é porque chegou em níveis muito altos e acaba se tornando responsável por paralisar a vida, potencializar uma queda da autoestima e um aumento da irritabilidade.

Ansiedade boa sempre vai ser um sentimento resultante de um conflito interno, esse é um estado psíquico, emocional, que todos nós vamos ter. Mas no estágio patológico, a ideia e os medos de que apenas coisas  ruins vão acontecer, são inflacionados”, explica Blenda.

Atividade física, meditação, psicoterapia, são alguns dos recursos para lidar com a ansiedade boa, comum. Já quando ela atinge uma fase patológica, é preciso ter uma ajuda médica e psicológica.

“Existem pessoas que têm um traço maior de ansiedade, podem ser características de alguém. Gente que corre muito atrás do que quer, quer dar conta de tudo, mas não quer dizer que é patológico. Essa pessoa pode aprender a diminuir a ansiedade, a se tranquilizar, mudando o estilo de vida”, explica a psicanalista. “Já no sentido patológico, pode usar de medicações e buscar ajuda médica”, complementa ela.

Dados de uma pesquisa do Datafolha, divulgados em agosto, mostram que três em cada dez brasileiros se sentem ansiosos. Ainda assim, só 7% da população avalia sua saúde mental como ruim ou péssima. De acordo com Blenda Oliveira, falta falar mais sobre o assunto.

“Ninguém sabe muito o que é saúde mental. Talvez saúde mental seja o quanto você é resiliente e capaz de lidar com desequilíbrios, incertezas, medos e preocupações. Isso são coisas que nós temos todos os dias. Saúde mental é o quanto a gente consegue encontrar saídas e capacidade para pensar no meio do caos”, finaliza Blenda.

Com Agências e Assessoria

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