Durante três anos, a cantora Ananda Paixão consultou vários médicos para descobrir a causa de seus problemas intestinais: sangue e muco nas fezes e até 15 evacuações por dia. Não foram poucas vezes que usou pomadas e tomou banhos de assento, que proporcionavam apenas um alívio temporário. Finalmente, ela venceu a vergonha, se abriu com um amigo médico que a aconselhou a procurar um gastroenterologista.
O exame de colonoscopia revelou um câncer de reto — algo raro para uma moça de 23 anos. Depois de uma cirurgia e várias sessões de radioterapia e quimioterapia, Ananda venceu o câncer e está incentivando as pessoas com problemas semelhantes a superar o medo de falar sobre um assunto tão sensível.
“Eu fiquei anos escondendo o que se passava comigo porque dizer que eu evacuava sangue e ia ao banheiro muitas vezes era um tema tabu”, admite. “Por isso aconselho as pessoas que estão passando por essa situação que conversem com seus parentes e amigos, procurem os médicos e não desistam, porque o pior pode acontecer se deixarem para mais tarde”, afirma.
O pior, no caso de Ananda, foi descobrir o câncer em estágio 3. No mesmo dia, soube ainda que não poderia ser mãe por meios naturais, porque o tratamento por radiação levaria à falência de seus ovários. Por uns minutos, a artista disse que seu mundo caiu, mas depois se recuperou e perguntou qual a porcentagem de cura. Quando soube que deveria passar por um ano de tratamento, que lhe proporcionaria grandes chances de vencer o câncer, respondeu: “Então vamos embora, não há o que fazer!”
Antes das sessões de radioterapia, a cantora congelou seus óvulos. Em meio ao tratamento, usou por quatro meses uma bolsa de colostomia, que retirou em janeiro de 2022. Meses depois, descobriu uma metástase no fígado, removido por ablação — técnica que destrói o tumor hepático. Hoje, ela passa pela menopausa precoce.
Mas nem todos esses obstáculos, tiram sua alegria de viver. Em novembro, lançou o hit “Arretada”, faixa que estará presente no seu primeiro álbum, produzido por Ruxell, Pablo Bispo e Tap, com previsão de lançamento para este ano. Para manter a saúde, a ex-bailarina do Bolshoi pratica atividade física e mantém uma dieta balanceada, sem carne vermelha, açúcar e álcool.
Câncer de reto
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de reto se localiza no final do intestino grosso na região anterior ao ânus. Assim como o câncer de cólon e de ânus, é uma doença que se desenvolve a partir de mutações genética em lesões benignas, como pólipos adenomatosos e serrilhados. O câncer de colorretal é o terceiro mais comum entre os brasileiros. Em 2023, deverão ser diagnosticados 45.630 casos.
Sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco, dieta rica em gordura e pobre em fibras, frutas, vegetais e carnes magras são os principais fatores de risco para o câncer colorretal. Outros fatores estão associados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica e histórico pessoal ou familiar de adenoma ou câncer colorretal, e ocupacionais, como exposição a radiações.
O médico Henry Najman, da Oncologia D’Or, disse que Ananda foi a paciente mais jovem que tratou nos últimos tempos. Em geral, o câncer de reto é mais prevalente nos maiores de 50 anos. Nas últimas décadas, a doença vem acometendo pessoas de outras faixas etárias, em especial entre 45 e 40 anos.
“Pesquisadores dos Estados Unidos mostraram que o câncer de reto em indivíduos jovens está associado não apenas ao excesso de peso, sedentarismo e consumo de embutidos e carne vermelha, mas também ao uso de adoçantes”, afirma o especialista.
Entre os sintomas da doença estão diarreia persistente, sangue e muco nas fezes, desconforto e dor abdominal. “A diarreia infecciosa tem começo, meio e fim. Quando o problema se prolonga por mais de uma semana e há sangue nas fezes, é preciso procurar o médico”, adverte.
O diagnóstico é feito após colonoscopia. Em caso positivo, realiza-se a ressonância magnética. O tratamento prevê cirurgia e sessões de radioterapia e quimioterapia. Dependendo o caso, a pessoa pode usar a bolso de colostomia de forma temporária ou permanente.
Para propiciar o diagnóstico precoce do câncer colorretal, o médico Henry Najman recomenda que as pessoas, ao completarem 45 anos, realizem uma colonoscopia de rastreio. Em caso negativo, o exame deve ser repetido a cada dez anos.
Também é recomendável a realização anual do exame de sangue oculto nas fezes. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica recomenda que pessoas com histórico familiar da doença devem começar o rastreio aos 40 anos ou dez anos antes de o parente ter apresentado a enfermidade.
Pacientes da Oncologia D’Or com diagnóstico positivo para câncer colorretal são submetidos ao exame de proteínas de reparo do DNA, que detecta a possibilidade de a pessoa ser portadora de uma síndrome hereditária do câncer colorretal. Em caso positivo, realiza-se o exame molecular para confirmar a alteração genética hereditária do câncer colorretal.
Referências
- Instituto nacional do Câncer. Disponível em Link
- Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica. Disponível em Link