Todos os meses, no Brasil, 250 crianças nascem com mielomeningocele, também chamada de espinha bífida. São 3 mil casos ao ano e 30 mil em dez anos. Até há pouco tempo, a correção desta complicação congênita só era feita após o nascimento: 80% dos bebês operados necessitavam da colocação de drenos no cérebro e grande parte deles passava por cirurgias repetidas, o que redundava em progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de óbito, 15% até o quinto ano de vida.

Já há uma década, o tratamento intrauterino por cirurgia aberta no útero é indicação e esperança para fetos com mielomeningocele, mas o procedimento ainda não é realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, existem ações da própria sociedade civil visando a oferecer assistência a esses pacientes. A Associação Beneficente Síria, por exemplo, mantém o programa Adote uma vida – cirurgias intrauterinas, por meio do qual viabiliza um certo número de intervenções por mês.

“É uma situação complicadíssima, pois falamos de cirurgia não realizada no SUS: uma lacuna que torna vítimas milhares de crianças com Mielomeningocele e Síndrome de Transfusão Feto-Fetal e seus familiares – em particular as mais vulneráveis”, ressalta o médico Fábio Peralta, especialista em medicina fetal do Rede Gestar/ Hcor, referência brasileira na utilização da técnica.

O programa ‘Adote uma vida’ – cirurgias intrauterinas‘ sobrevive, entre investimentos próprios e doações, como exemplo de cidadania, mas requer fôlego para ampliar abrangência. Qualquer cidadão pode abraçar a causa acessando – saiba mais aqui e/ou https://doe.hcor.com.br.

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Mais cirurgias pelo SUS

Em junho de 2021, o HCor, hospital multiespecialista de São Paulo, e o Grupo Santa Joana, por meio de seu Hospital e Maternidade Pro Matre, referência em neonatologia, gestações múltiplas e de alto risco, iniciaram um projeto para capacitar médicos e equipes multidisciplinares de unidades públicas de saúde a realizarem cirurgias intrauterinas.

A iniciativa filantrópica busca fomentar a Medicina Fetal no Sistema Único de Saúde (SUS), ampliando o acesso de gestantes a esses procedimentos e o número de profissionais habilitados a executá-los. O primeiro parceiro beneficiado na rede pública foi o Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, localizado na Zona Norte da capital paulista.

As equipes receberam treinamentos e supervisão, além de participarem de reuniões preparatórias. Com o término da capacitação da turma, os cirurgiões do HCor e da Pro Matre acompanharam o primeiro procedimento intraútero realizado nas dependências de um hospital da rede pública municipal. Ao todo, serão assistidas mais 18 cirurgias – uma por mês – no local.

Meta é ampliar Medicina Fetal no Brasil

Em seus próximos passos, o Programa Filantrópico de Formação de Profissionais da Medicina e Multidisciplinares do SUS prevê:

• ampliar o número de instituições beneficiadas em âmbito nacional;

• auxiliar na criação de um Projeto de Lei incentivando o fortalecimento da Medicina Fetal e das práticas corretivas intrauterinas;

• apoiar uma emenda parlamentar beneficiando os hospitais públicos que necessitem de aquisições para possibilitar a adoção dos procedimentos adequados de Medicina e

• apoiar o Ministério da Saúde na incorporação de cirurgias intrauterinas para correção da mielomeningocele no SUS.

Estatísticas de sucesso após cirurgia

Recente estudo da equipe da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, juntamente com o grupo Hcor-Associação Sanatório Sírio, demonstra impacto da idade gestacional no momento do reparo do disrafismo espinhal fetal: os operados no início do intervalo gestacional de 19,7 a 26,9 semanas apresentaram maior probabilidade de caminhar com ou sem órtese. O dado impressiona: são 63,76% as estatísticas de sucesso.

O diagnóstico, por outro lado, está à distância abissal do minimamente aceitável, perpetuando uma inconsistência em saúde pública que redunda em dor e sofrimento a todas as demais crianças com mielo e aos seus familiares.

Um dos problemas da espinha bífida é a perda da função motora. É a criança não conseguir se locomover sozinha ou sem o uso de aparelhos ou de uma cadeira de rodas. Ela pode perder funções ainda como controle urinário, controle intestinal. Tudo isso são consequências de não ser tratada ou de a intervenção ocorrer tardiamente”, destaca.

Outra consequência são as alterações que a criança pode ter no encéfalo, ou seja, no cérebro. “Quando demoramos para corrigir a mielomeningocele do feto, ele acaba tendo mais chance de ao longo da vida de apresentar acúmulo de líquido dentro do cérebro, ou seja, a hidrocefalia“, esclarece o especialista.

Síndrome de Transfusão Feto-Fetal

A Síndrome de Transfusão Feto Fetal (STFF) é complicação causada durante a gestação de gêmeos idênticos, com passagem desbalanceada de sangue de um feto para o outro. Ocorre entre 10% e 30% das gestações gemelares (quando a mãe engravida de gêmeos) e sem a cirurgia intrauterina, leva a óbito aproximadamente 95% de um deles, com danos neurológicos ao sobrevivente.

O tratamento consiste na ablação (cauterização) com laser dos vasos placentários. Já foi realizado em milhares de pacientes em todo o mundo, com excelentes resultados e pouquíssimas complicações maternas. Trata-se de intervenção pequena, com anestesia raquidiana (a mesma usada para cesariana), que dura mais ou menos 60 minutos.

Com Assessorias

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