Mais uma polêmica envolvendo a vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Desta vez, o alvo é a vacina da Pfizer em adolescentes de 12 a 17 anos, que já havia sido autorizada pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Na última quarta-feira (15), o Ministério da Saúde decidiu suspender a vacinação para esse público-alvo, alegando potenciais riscos de vida com eventos adversos

Um dos casos seria de uma menina de 16 anos no interior de São Paulo que morreu de miocardite dias após a vacina, mas não foi confirmada a ligação entre a morte e os efeitos do imunizante. A decisão causou reações entre a comunidade científica e a maioria dos estados e municípios decidiu não acatar a decisão do ministério: 20 capitais (incluindo Rio de Janeiro e São Paulo) e o Distrito Federal anunciaram que vão manter a vacinação. Desde o final de julho, mais de 3 milhões de adolescentes haviam sido imunizados em todo o Brasil.

O Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid da Associação Médica Brasileira (AMB) é contra a medida e divulgou uma dura nota nesta sexta-feira (17), argumentando que a incidência de um dos eventos adversos, a miocardite, é extremante rara (16 casos/milhão de pessoas que recebem duas doses da vacina) e que os possíveis riscos são inferiores aos benefícios da vacina.

O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro também lamentou a decisão do Ministério da Saúde em suspender a imunização contra a Covid-19 em adolescentes entre 12 e 17 anos. O Cosems RJ reafirmou que confia na Anvisa e também recomendou a manutenção da vacinação em adolescentes no Estado do Rio de Janeiro.

Confira as notas:

AMB: Nota técnica sobre a vacinação Covid em adolescentes no Brasil

O Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid_AMB (CEM Covid AMB), em consonância com as sociedades médicas que o compõe, comunica preocupação sobre a Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/Ministério da Saúde de 15/09/2021, documento que indica interrupção da vacinação Covid em adolescentes sem comorbidades.

A imunização nesse grupo já havia sido iniciada há algumas semanas em diversos municípios e estados do Brasil, sendo que mais de três milhões de cidadãos adolescentes na faixa etária entre 12 a 17 anos já receberam a primeira dose do imunizante Pfizer, único com registro na Anvisa e aprovado em bula para essa população.

O CEM Covid AMB, com o objetivo de contribuir para a discussão técnico-científica sobre a vacinação de adolescentes entre 12 a 17 anos no Brasil, esclarece que:

1. Eficácia e Segurança: órgãos regulatórios nacionais e internacionais como a Anvisa e o FDA aprovaram a vacina Covid da Pfizer em adolescentes, decisão baseada em rigorosos ensaios clínicos randomizados que incluíram milhares de voluntários, que demonstraram eficácia em termos de imunogenecidade em indivíduos que receberam duas doses desse imunizante.

No tocante à segurança dessa vacina, a incidência e gravidade dos potenciais eventos adversos evidenciados nesses estudos foram não significativos quando comparados aos benefícios da proteção conferida pelo imunizante.

Não se justificam, portanto, os argumentos genéricos presentes na Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/Ministério da Saúde de 15/09/2021 que questionam e eficácia dos ensaios clínicos randomizados no tocante aos evidentes benefícios da vacinação nessa faixa etária.

Da mesma forma, não se justifica questionar a segurança desse imunizante baseado em supostos casos de eventos adversos pós-vacinais pontuais, ainda mais em situações que estão em investigação em andamento, sem que esteja estabelecida a relação de nexo causal.

No que se refere especificamente ao evento adverso miocardite, sua incidência é extremante rara (16 casos/milhão de pessoas que recebem duas doses da vacina), geralmente leve, e inferior ao risco da própria Covid-19.

2. Organização Mundial de Saúde (OMS): ao contrário da Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/Ministério da Saúde de 15/09/2021, a OMS recomenda a vacinação de adolescentes entre 12 a 17 anos sem comorbidades, desde que obedecida a priorização da imunização de outros grupos mais vulneráveis.

3. Evolução Clínica da Covid em Crianças e Adolescentes: apesar de relativamente à outras faixas etárias a Covid-19 ser de menor gravidade em crianças e adolescentes, o Brasil já acumula mais de 2.000 óbitos desde o início da Pandemia em menores de 18 anos, número muito superior ao total de mortes nessa população quando se observa outras doenças imunopreveníveis.

4. Cenário Epidemiológico no Brasil: ao contrário do que a Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/Secovid/Ministério da Saúde de 15/09/2021, a melhora do cenário epidemiológico no Brasil não justifica interrupção da vacinação em adolescentes, e sim justamente o inverso, o avanço no controle da Pandemia no país se deu única e exclusivamente por finalmente, depois de um lamentável atraso, estarmos realizando uma vacinação ampla e rápida da população, incluindo milhões de adolescentes.

Portanto, levando em consideração os pontos acima, o CEM Covid AMB recomenda manter a vacinação Covid em adolescentes no Brasil, e lamenta o conteúdo da Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/Secovid/Ministério da Saúde de 15/09/2021, que colabora para a desinformação e insegurança em relação à vacinação no país.

Consems-RJ pela manutenção da vacina em adolescentes

O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro lamenta a decisão do Ministério da Saúde em suspender a imunização contra a Covid-19 em adolescentes entre 12 e 17 anos. Além de não realizar consulta prévia às representações estaduais e municipais da gestão do Sistema Único de Saúde ou mesmo à Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a medida não tem respaldo científico e causa um desserviço à população, trazendo insegurança em relação à eficácia da imunização.

Confiamos na atuação da Anvisa que ressaltou, no dia 16 de setembro, que todas as vacinas autorizadas e distribuídas no Brasil estão sendo monitoradas continuamente pela vigilância diária das notificações de suspeitas de eventos adversos, além de reforçar a aprovação da utilização da vacina da Pfizer para crianças/adolescentes maiores de 12 anos, em 12 de junho de 2021. Para essa aprovação, a Anvisa apresentou estudos de fase 3 e os dados demonstraram sua eficácia e segurança.

O Cosems RJ recomenda a manutenção da vacinação em adolescentes no Estado do Rio de Janeiro, seguindo a deliberação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB-RJ) vigente, a qual aponta que os municípios deverão atingir um mínimo de 90% da população acima de 18 anos com primeira dose dos imunobiológicos disponíveis contra a COVID-19 aplicadas e que, cumprida esta etapa, devem seguir a vacinação da população geral na faixa etária entre 12 e 17 anos. Segundo dados do aplicativo Localiza SUS, já foram vacinadas com a primeira dose, no Estado do Rio de Janeiro, até hoje, 384.448 adolescentes entre 12 e 17 anos.

Além de persistir a necessidade de contemplar os ainda não vacinados, para ampliar a cobertura vacinal contra a Covid-19, há um contrato firmado com estes adolescentes e suas famílias que deve ser honrado pelo Sistema Único de Saúde: garantir o acesso para a complementação do esquema vacinal com duas doses, no máximo doze semanas após a primeira aplicação.

Com Assessorias

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