O médico neurocientista Miguel Nicolelis faz um alerta: a pandemia não acabou. Ao contrário, está entrando em uma fase mais grave com o avanço da variante Delta – surgida na Índia – no Brasil. O alerta foi feito em live do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) (veja aqui), ao criticar a “tentativa da mídia tradicional brasileira de remover a pandemia das manchetes”, enquanto o país entra em outra fase crítica.
Ao mesmo tempo, a variante Delta – “uma modificação mais grave do vírus” – tomou conta do Brasil e “está se disseminando em velocidade impressionante”. Como exemplo, ele cita o Rio de Janeiro como epicentro dessa nova onda de contaminações – na cidade 86% dos casos já são da nova cepa de origem indiana. E o interior de São Paulo os casos da nova variante também estão se expandindo e aumentando o volume de internações. Aqui no Brasil, segundo ele, tudo indica que terá uma nova onda no final de setembro.
Nicolelis pede atenção ao que está ocorrendo hoje em países como Israel e Estados Unidos. De acordo com o neurocientista, os movimentos observados nos EUA geralmente acontecem da mesma forma no Brasil, de seis a oito semanas depois. Logo, a onda ocasionada pela variante delta nos EUA, que está tendo pico de internações e mortes, deverá explodir no Brasil no final de setembro.
“Infelizmente, do ponto de vista sanitário e médico, não há como aumentar as aglomerações neste momento. A variante Delta está pegando até pessoas com as duas doses da vacina”, afirma ele ao destacar que, ao contrário de outros países, o Brasil está muito atrasado na cobertura vacinal. “Estamos num dilema: o Brasil é o único país do mundo que tem que combater ao mesmo tempo uma pandemia e um pandemônio político. Mas a pandemia – acreditem se quiser – ainda deve ser a prioridade nesse momento”.
“Não podemos baixar a guarda e achar que a pandemia acabou”, esclarece o cientista, que critica a intenção de reabrir comércios, restaurantes e escolas com a capacidade total. “Não pode remover uso de máscara e acabar com isolamento social. Estamos cometendo o mesmo erro de Inglaterra e EUA”, destaca.
Tem vários que pregaram no deserto, não é minha opinião, mas apoio de cientistas do mundo inteiro de que o Brasil é a próxima bola da vez nessa nova variante. Realmente estou muito preocupado com o que possa acontecer nas próximas quatro semanas.
Segundo ele, movimentos sociais têm que ser inteligentes na forma como promove manifestações de massa contra o atual governo. “O quadro é muito mais sério, especialmente em idosos – no Rio – e crianças abaixo de 15 anos. As UTIs pediátricas americanas estão lotadas. Não podemos permitir que aconteça aqui. O SUS não vai suportar uma terceira onda”. Ele lembrou ainda o último boletim da Fiocruz que lançou um alerta nacional ao mostrar um aumento de casos em mais de 10 estados.
Nicolelis disse ainda que o Brasil cruzou a marca de 1.2 milhão de óbitos de 2019. Em menos de 8 meses o Brasil, em 2020, o país perdeu tanta gente quanto perdeu os 12 meses de 2019. “É a maior catástrofe da história. Este ano será o que mais mortes, e não é só de Covid, mas de outras doenças. Nos hospitais não tem remédio, não tem médico, não tem leito. O SUS não aguenta uma terceira onda”, declarou.
Distribuição gratuita de máscaras
Nicolelis diz que é preciso continuar usando máscaras e sugere a criação de um programa de distribuição de máscaras corretas à população brasileira. Segundo ele, pessoas usando máscaras de materiais inapropriados e estão ficando infectadas porque elas não funcionam.
“O governo da Coreia do Sul distribuiu máscaras corretas gratuitamente nas farmácias. No Brasil sei que não será possível fazer, mas talvez aqui isso possa ser feito para as pessoas de mais risco, como idosos e crianças abaixo de 15 anos. Essa crise não vai terminar antes do final do ano e talvez se agrave como vimos em março e abril”, disse.
Ele lembra ainda que todas as escolas americanas e europeias que voltaram estão fechando porque estão tendo surtos de Covid-19. As crianças estão pegando e transmitindo a variante Delta, que já ocupa 95% (dos casos) nos EUA. “Vamos ver crianças, professores e funcionários de escolas morrendo. Tem casos de famílias inteiras infectadas por crianças que foram à escola, pais que estavam em isolamento total e foram
“Não quero botar água no chope, ser o pessimista, alarmista. Mas tudo o que trabalhamos em previsões, ocorreu”, comentou. “Não é tentativa de dourar a pílula. Me desculpem, mas preciso ser completamente franco sobre o que acredito que pode acontecer nas próximas semanas”, completou, em tom preocupante.