“Quer você seja um fumante de longa data ou apenas adquiriu o hábito, faça um favor ao seu coração e diga adeus ao tabaco. No que diz respeito ao seu relógio, nunca é tarde para desistir”. O alerta é do médico cardiologista e geriatra Juliano Burckhardt, membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da American Heart Association e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia ( SBGG).

É de conhecimento geral que o tabaco faz mal à saúde, e seu uso é muito mais perigoso do que indicam as embalagens de cigarro. Na semana do Dia Mundial Sem Tabaco, cardiologistas lembram que o tabagismo representa um importante fator de risco para doenças cardiovasculares, com aumento da probabilidade do indivíduo evoluir com alterações circulatórias graves que exijam internação hospitalar e intervenção cirúrgica.

“Cada vez que você inala a fumaça do cigarro, sua frequência cardíaca e sua pressão arterial aumentam temporariamente. Isso coloca um estresse extra em seu relógio e o força a trabalhar mais”, explica o médico. “Com o tempo, fumar também prejudica de outras maneiras, já que as substâncias tóxicas: obstruem suas artérias, aumentam a coagulação, danificam seus pulmões, enfraquecem seus ossos e sistema imunológico, além de aumentar a inflamação”, destaca.


Conheça os principais riscos ao coração


Os riscos à saúde relacionados ao tabaco são diversos e todas as doenças vasculares possuem uma importante relação com o tabagismo, afirma o cirurgião e ecografista Sthefano Atique Gabriel, diretor da Seccional de São José do Rio Preto, da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo. O especialista ainda alerta que os fumantes passivos também apresentam risco elevado de alterações circulatórias, assim como os fumantes ativos.

Ele explica que o cigarro, pelo efeito da nicotina, aumenta a viscosidade sanguínea, o que favorece a formação de microtrombos na microcirculação periférica e agrava o quadro circulatório,  com sério  risco de complicações, como oclusão arterial aguda, descompensação da doença arterial periférica crônica, inflamação arterial e formação de necrose e úlceras isquêmicas. O especialista alerta que os fumantes passivos apresentam risco elevado de alterações circulatórias, assim como os fumantes ativos.

Praticamente todas as doenças vasculares possuem uma importante relação com o tabagismo e com os produtos derivados do tabaco. Dentre elas está a aterosclerose, que constitui a base fisiopatológica para o desenvolvimento do infarto agudo do miocárdio, do acidente vascular cerebral e da doença arterial periférica, conhecida popularmente como “má circulação”. Além disso, o fumo aumenta o risco de trombose venosa e trombose arterial”, afirma o cirurgião.

É preciso estar atento aos sintomas, pois uma pessoa tabagista, que evolui com problemas circulatórios, pode apresentar dores nas pernas durante o exercício (mais comumente durante a caminhada) e sintomas sistêmicos como dores no peito. A dor nas pernas, conhecida como “claudicação intermitente”, pode vir acompanhada de alterações da coloração dos pés (palidez ou cianose) e pela presença de lesões ulceradas e necróticas, que denotam gravidade ao quadro clínico apresentado pelo paciente.

As consequências mais graves das doenças vasculares associadas ao tabaco são o risco de morte de origem cardiovascular e o risco de perda do membro acometido. Ainda segundo ele, os malefícios se estendem a qualquer tipo de tabaco, seja artesanal, cigarro eletrônico, comum, ou narguilé, todos são prejudiciais à saúde e ao bem-estar. Parar de fumar é benéfico ao sistema circulatório e imprescindível para manter a integridade da saúde vascular.

Como fumar “fere” seu coração

Dr Juliano explica que os produtos químicos dos cigarros e sua combustão prejudicam o coração de várias maneiras. “Existe o monóxido de carbono, um gás venenoso que entra nos pulmões e depois na corrente sanguínea. Ele rouba oxigênio dos glóbulos vermelhos, de modo que menos oxigênio chega aos órgãos e tecidos. Também torna as paredes das artérias duras e rígidas, o que pode colocá-lo no caminho de um ataque cardíaco”, diz o especialista.

Já a nicotina é um composto químico que está presente tanto no tabaco quanto nos cigarros eletrônicos, que também vicia. “Isso torna seus vasos sanguíneos estreitos. Ele aumenta sua pressão arterial e frequência cardíaca também. Seu coração tem que bater mais forte e mais rápido do que o normal. Fumar também causa alterações químicas em seu corpo. As células em sua corrente sanguínea, chamadas plaquetas, se agrupam quando reagem com os ingredientes tóxicos do cigarro. Isso torna seu sangue mais espesso e pegajoso. Torna-se mais difícil para o coração empurrá-lo através dos vasos sanguíneos”, destaca o especialista.

Os níveis de colesterol também ficam fora de controle. “A fumaça do cigarro aumenta os níveis de LDL, ou colesterol “ruim”, e uma gordura no sangue chamada triglicerídeos. Isso faz com que a placa de gordura se acumule em suas artérias. Ao mesmo tempo, diminui (por oxidação) o HDL, ou colesterol “bom” – o tipo que impede a formação de placa”, explica o dr. Burckhardt.

Quando sua pressão arterial está alta, como quando você fuma, as artérias ficam esticadas e com cicatrizes. Tudo isso aumenta o risco de coágulos sanguíneos, que podem bloquear o fluxo sanguíneo para o coração ou outros órgãos. Isso pode causar ataques cardíacos ou derrames. “Fumar causa danos aos pulmões e também torna mais difícil respirar. Isso pode impedir você de se exercitar tanto quanto deveria. Você precisa fazer cerca de 150 minutos de atividade física por semana para sair da condição de sedentário ” , explica Dr Juliano.

Os benefícios da vida sem fumo

Ao parar com o cigarro, suas chances de doenças cardíacas também diminuirão. Depois de um ano sem cigarros, você tem metade da probabilidade de sofrer com alguma doença cardíaca do que quando fumava. Depois de 5 anos, é quase o mesmo que alguém que nunca acendeu um cigarro”, afirma o médico.

Ainda não há dados específicos que comprovem uma associação entre a idade em que se para de fumar e em quanto tempo o organismo se recuperará. “Mas sabemos que, quanto antes a decisão for tomada, maiores serão as chances de recuperação acelerada. Então você provavelmente experimentará os benefícios mais cedo”, explica o médico.

Segundo dr Juliano, felizmente, a maior parte dos danos que o tabaco causa é reversível. “Quando você para de fumar, o risco de coágulos sanguíneos diminui. Seu colesterol “ruim” diminuirá e o colesterol “bom” aumentará. Isso ajudará a retardar o acúmulo de novos depósitos de placa.

Seu corpo começa a se curar assim que você fumar o último cigarro. Apenas 20 minutos depois de parar, sua pressão arterial e frequência cardíaca diminuem. Em 2 a 3 semanas, seu fluxo sanguíneo começa a melhorar”, compara o médico. “Se você parar de fumar e começar, logo em seguida, uma atividade física, seu corpo responderá ainda melhor”, acrescenta.

“Em duas semanas, você perceberá que é mais fácil se exercitar sem sentir falta de ar. Nos próximos meses, você poderá respirar profundamente novamente. Sua tosse seca também deve desaparecer”, diz o médico. “Não se preocupe se engordar no início. Muitas pessoas trocam comida por fumar quando param pela primeira vez. Depois de um tempo, você e seu corpo se acostumarão a uma vida sem fumo. Quando você faz mais exercícios e melhora sua dieta, você mantém seu peso sob controle”, explica dr Juliano.

Se você tem uma doença cardíaca, não é tarde demais para fazer a diferença. Se você parar de fumar após um ataque cardíaco, pode reduzir pela metade o risco de ter outro. “Parar de fumar após a cirurgia de ponte de safena pode manter as artérias saudáveis e ajudar a prevenir mais obstruções e doenças. Ao parar de fumar, você também protegerá seus amigos e familiares dos riscos do fumo passivo à saúde. Converse com seu médico para obter sugestões sobre como acabar com seu hábito de fumar. Ele também pode colocar você em contato com programas que oferecem dicas e suporte”, finaliza o Dr. Juliano Burckhardt.

Cuide-se, diga não ao tabaco.

Com Assessorias

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