Enquanto a longevidade aumenta no Brasil, cresce também o número de pessoas que cuidam de pessoas idosas. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD-C 2019), houve um crescimento no número de brasileiros que passaram a cuidar de seus parentes idosos. De 3,7 milhões em 2016, saltou para 5,1 milhões em 2019, a maior parte nos estados do Nordeste. Mas o Rio de Janeiro se destaca na Região Sudeste, por ter uma população maior de adultos acima dos 65 anos.
Por conta da pandemia, esses dados podem ter sofrido um aumento nesses primeiros meses 2020, apontam especialistas. A realidade se agrava quando pensamos que muitos desses idosos sofrem com algum tipo de demência e precisam de assistência. Entre os casos de demência, a doença mais comum, segundo a Organização Mundial de Saúde, é o Alzheimer, responsável por 60% a 70% dos diagnósticos.
O neurologista Andre Gustavo Lima, membro da Academia Brasileira de Neurologia e diretor da Clínica Neurovida (RJ), afirma que muitos idosos enfrentam problemas com essa assistência. “Com a crise e o achatamento das aposentadorias, a maioria não tem condições de pagar um plano de saúde e depende dos hospitais públicos/SUS que não oferecem um atendimento de excelência e acompanhamento constante”, afirma.
Cuidadores sofrem com estresse e depressão
Junto com os doentes, cresce também o número de familiares cuidadores que possuem sua rotina afetada pela doença. Segundo o especialista, é comum este cuidador desenvolver doenças originadas pelo estresse.
Além de vários outros problemas físicos, esse familiar pode apresentar depressão, exaustão, insônia, irritação e falta de concentração. São problemas tanto físicos quanto psicológicos. Isso ocorre devido à sobrecarga de tarefas com o doente que aumenta com a evolução da doença”, ressalta Dr André.
Algumas dicas podem ajudar o cuidador a diminuir o estresse diário. Uma delas é aumentar o conhecimento sobre a doença, isso faz com que o familiar se prepare para as etapas do processo de demência, encarando as dificuldades de maneira mais prática.
É importante que a pessoa tenha um sono reparador, pratique atividades físicas, tire um momento para si, mantenha uma rotina com amigos, medite, exercite a espiritualidade e se preciso participe de grupos de apoio”, recomenda o neurologista.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de pessoas sofrem de demência, síndrome que afeta memória e habilidades cognitivas e de comportamento. Em seu tipo mais comum, o problema é conhecido como Doença de Alzheimer, responsável por mais da metade dos casos da enfermidade no mundo.
Neste ano, mais do que a importância do diagnóstico precoce, vale reforçar o papel da continuidade do tratamento, mesmo diante da atual pandemia de Covid-19. Assim como em outras doenças crônicas, a Doença de Alzheimer requer tratamento contínuo. Cuidadores e pacientes devem ser orientados a seguir os protocolos de segurança, como forma de evitar a contaminação por Coronavírus. Além disso, as consultas médicas periódicas e uso de medicamentos não devem ser interrompidos.
Dia Mundial do Alzheimer: a doença em números
No mundo, a cada 3 segundos uma pessoa desenvolve algum tipo de demência e estima-se que o número de pessoas nesta condição triplique, passando para 152 milhões em 2050. Cerca de 80% das pessoas têm preocupação em relação ao possível desenvolvimento de demência em algum momento da vida. Essa enfermidade também impacta economicamente o mundo: 1 trilhão de dólares por ano.
Segundo a OMS , estima-se que, existam no mundo em torno de 50 milhões de pessoas com demência e apontam, que este número deverá triplicar nos próximos 30 anos. No Brasil, onde hoje há mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) o número de pacientes com Alzheimer no Brasil chega a 1,2 milhão.
A doença não tem cura, porém, o diagnóstico precoce e a reabilitação neuropsicológica são fundamentais para diminuição da progressão da enfermidade e para proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. “No momento não há cura e não tem como ser evitada. O que é possível fazer é minimizar as causas ainda quando é jovem tendo uma melhor qualidade de vida”, afirma o médico.
Falar sobre o assunto é uma questão de saúde pública, assim como relembrar a população dos principais sintomas e tratamentos. Por isso, o dia 21 de setembro é conhecido como o Dia Mundial do Alzheimer. A data é reconhecida pela Alzheimer’s Society globalmente e pelo Ministério da Saúde no Brasil e marca a necessidade de defesa e conscientização da sociedade, sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do cuidado ofertado, bem como do apoio e suporte aos familiares e cuidadores das pessoas que vivem com a doença.
Doença leva a demência progressiva
O Mal de Alzheimer é um conjunto de sintomas que provoca alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento e habilidades visuais-espaciais), físico (problemas de marcha e deglutição) e também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), limitando, progressivamente, a pessoa nas suas atividades diárias.
A doença manifesta-se através de uma demência progressiva, que aumenta sua gravidade com o tempo e os sintomas começam lentamente e se intensificam ao longo dos anos. A demência é uma das principais causas de incapacidade e dependência entre as pessoas idosas em todo o mundo. A demência tem um impacto físico, psicológico, social e económico, não só nas pessoas com demência, mas também nos seus cuidadores, famílias e sociedade em geral.
Pode acontecer que os primeiros sintomas tenham início alguns anos antes dos familiares perceberem que o idoso está com demência. Podem ser esquecimentos simples, como troca de nomes dos netos, repetição de uma mesma história várias vezes e mudança de comportamento ou comportamento não adequado.
O tratamento requer um atendimento multidisciplinar com atendimento por profissionais da área da neurologia, clínica médica, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e nutrição. Quanto antes se iniciar um tratamento, procurando a ajuda de um profissional da área médica, melhor será para retardar o avanço da doença.
Um diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento, que tem como objetivo frear o progresso da doença. Os cuidados com o paciente são essenciais para que ele tenha conforto. O convívio familiar também e muito importante. Sempre observar as mudanças de comportamento, ter cuidados com a higiene para evitar infecções, não entrar em conflitos e principalmente ter muita paciência e amor”, afirma o especialista.
Mais opções de tratamentos disponíveis em 5 anos
Ainda segundo a OMS, o Alzheimer é causa de 70% dos casos de demência mundial. Os números expressivos, explicado pelo aumento do envelhecimento da população, geram preocupação e interesse dos cientistas em como frear a doença.
O Alzheimer é uma doença crônica, porém estamos vivendo uma onda positiva em relação aos estudos e pesquisas de novas drogas para postergar os seus efeitos. A expectativa é que nos próximos cinco anos, os pacientes terão mais opções de tratamentos, que vão atuar diretamente em mecanismo de progressão”, explica o neurologista e coordenador do Núcleo de Memória da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Diogo Haddad.
O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento da doença. Para isso, a família tem um papel fundamental, pois são as pessoas próximas que costumam perceber os sintomas, como perda de memória recente, disfunção e alteração na linguagem e mudanças comportamentais. “Geralmente, o diagnóstico acontece acima dos 70 anos, mas os sinais já começam a aparecer 10 anos antes, de uma forma discreta que ainda não afeta a vida da pessoa. O diagnóstico precoce vai ajudar a estimular a área afetada”, diz o neurologista.
Segundo o médico, o fator genético dificilmente é o responsável pelo Alzheimer, ou seja, familiares de pessoas com a doença não estão necessariamente predispostos a contraírem a patologia. Entre os fatores de risco estão a falta de atividade intelectual e física, tabagismo, obesidade e diabetes, situações que podem ser controladas ao longo da vida. Porém, o Alzheimer não tem uma causa apenas definida, a recomendação dos especialistas é que as pessoas mantenham os estímulos cerebrais ativos, realizando atividades intelectuais durante toda a vida.
A neuropsicóloga do Núcleo, Priscilla Brandi Gomes Godoy, explica que ao menor sinal dos sintomas é fundamental que o paciente seja encaminhado para um especialista. “Existem vários tipos de demências e doenças que geram perda de memória e que podem ser confundidas com Alzheimer. Procurar um profissional para realizar os exames é fundamental para a detecção precoce da doença”, afirma.
No Núcleo de Mémoria da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz os pacientes passam por uma avaliação cognitiva, que é realizada por uma equipe de especialistas multidisciplinar. Durante essa avaliação, são realizados testes de memória, de linguagem, além de testes físicos.
Em seguida, o paciente recebe o diagnóstico do neurologista e, se for o caso, é encaminhado para reabilitação neuropsicológica, onde passará por diversos processos e atividades cognitivas para o fortalecimento dos neurônios. O plano de reabilitação, além de incluir atividades que estimulem a função que está sendo degenerada, vai incluir também atividades e estratégias compensatórias, para apoiar o paciente e família a se adaptarem a nova rotina.
Características da doença e diagnóstico
A Doença de Alzheimer é neurodegenerativa e progressiva, ou seja, causa deterioração gradual das células cerebrais, afetando a memória e funções cognitivas. Ao longo do tempo, alterações comportamentais e neuropsiquiátricas também caracterizam a doença. Ainda não há cura para a Doença de Alzheimer, mas o diagnóstico precoce e tratamento contínuo são fundamentais para melhor manejo dos sintomas e retardar seu avanço.
Dentre os principais sintomas² estão: perda de memória recente; irritabilidade; repetição da mesma pergunta por várias vezes; falhas de linguagem; dificuldade em acompanhar raciocínios complexos; incapacidade de resolução de problemas; tendência ao isolamento; dificuldade de encontrar caminhos já conhecidos; perda de memória remota, entre outros.
A demência na doença de Alzheimer costuma evoluir, de forma lenta, em até quatros estágios. São eles:
- Estágio 1 (inicial): alterações de memória, habilidades espaciais e visuais, e de personalidade;
- Estágio 2 (moderado): dificuldade de fala, raciocínio, realização de tarefas simples e coordenação de movimentos. Agitação e insônia também costumam aparecer nesta fase;
- Estágio 3 (grave): incontinência urinária e fecal, dificuldade de alimentação, deficiência motora;
- Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Infecções intercorrentes, deglutição dolorida e mutismo.
Além de diagnóstico, tratamento correto e contínuo, neste momento de pandemia, o olhar atento da família é ainda mais importante.
Para aqueles que têm um parente que sofre com a doença, além do tratamento em si, é importante que mantenham o contato de forma remota, como por videochamadas, por exemplo, e que incentivem o paciente a realizar atividades que estimulam o cérebro, como jogar caça-palavras ou montar um quebra-cabeça. O humor também é afetado na Doença de Alzheimer, então, é importante demonstrar afeto, mesmo que a distância. Uma alimentação balanceada e prática de exercícios físicos também podem ajudar”, completa Rafaela Silva.
O diagnóstico da Demência de Alzheimer é feito por exclusão, isto é, após outras possíveis causas de demência serem descartadas, para isso são necessários exames neurológicos de imagem, exames laboratoriais e avaliação médica. Ao apresentar quaisquer sintomas, é necessário procurar auxílio profissional.
Tratamento garantido pelo SUS
De acordo com a Constituição Federal, o Sistema Público de Saúde deve fornecer o acesso gratuito ao tratamento completo para a doença, envolvendo a medicação indicada. Para isso, o paciente deverá procurar orientação médica no processo de obtenção do medicamento. O Protocolo Clínico de Diretriz de Tratamento (PCDT) do Ministério da Saúde prevê que médicos especialistas no tratamento de demências possam prescrever o tratamento medicamentoso.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece acesso ao tratamento medicamentoso para a doença. Os pacientes podem dispor de consulta médica e de terapia medicamentosa, tendo acesso ao uso de adesivos transdérmicos, que agem inibindo a enzima responsável por degradar a acetilcolina (neurotransmissor essencial nos processos cognitivos, principalmente a memória), entre outros medicamentos”, afirma Rafaela Silva, médica psicogeriatra e gerente médica da Sandoz do Brasil.
Ainda segundo a OMS, a demência é uma das mais significativas crises globais de saúde da atualidade, com o surgimento de novos casos a cada três segundos e podendo triplicar, até 2050, atingindo 152 milhões de pessoas. Para contornar o problema, é preciso quebrar os estigmas que existem em torno da doença e iniciar o tratamento o quanto antes, para desacelerar o avanço dos sintomas.
No momento não há cura e não tem como ser evitada. O que é possível fazer é minimizar as causas ainda quando é jovem tendo uma melhor qualidade de vida”, afirma o médico André Lima.
Estudos sobre o tratamento com Cannabis medicinal
A investigação sobre Cannabis e Alzheimer continua a desenvolver-se e pode apresentar uma opção adicional de tratamento. Diferentes estudos científicos destacam o uso de cannabis medicinal para o tratamento dos sintomas de Alzheimer. As principais propriedades dos canabinóides para o tratamento dos sintomas seriam: anti-inflamatório, neuroprotector e antioxidante.
Diretor global da Spectrum Therapeutics, Wellington Briques destaca alguns destes estudos e os seus resultados abaixo.
1.O potencial terapêutico do sistema endocannabinoide para a doença de Alzheimer (The therapeutic potential of the endocannabinoid system for Alzheimer’s disease )
Com base na patologia complexa da doença de Alzheimer, parece ideal uma abordagem preventiva e multimodal de medicamentos que vise uma combinação de sintomas patológicos da doença de Alzheimer. É importante notar que os canabinóides apresentam propriedades anti-inflamatórias, neuroprotetoras e antioxidantes e têm efeitos imunossupressores.
2.Estudo IN VIVO das propriedades terapêuticas do Cannabidiol (CBD) para a doença de Alzheimer ( In vivo Evidence for Therapeutic Properties of Cannabidiol (CBD) for Alzheimer’s Disease )
Os estudos demonstram a capacidade da CDB de reduzir a gliose reativa e a resposta neuro inflamatória, bem como de promover a neurogênese. É importante notar que a CDB também inverte e impede o desenvolvimento de défices cognitivos em modelos de roedores AD. Curiosamente, as terapias combinadas de CBD e Δ9-tetrahidrocanabinol (THC), o principal ingrediente activo da cannabis sativa, mostram que a CBD pode antagonizar os efeitos psicoativos associados ao THC e possivelmente mediar maiores benefícios terapêuticos do que qualquer um dos fitocanabinóides sozinho. Os estudos fornecem “prova de princípio” de que o CBD e possivelmente combinações CBD-THC são candidatos válidos para novas terapias AD. Outras investigações devem abordar o potencial a longo prazo da CDB e avaliar os mecanismos envolvidos nos efeitos terapêuticos descritos.
3. Utilização de CBD (Cannabidiol) para tratar os sintomas de Alzheimer e outras demências (Using CBD (Cannabidiol) to Treat the Symptoms of Alzheimer’s & Other Dementias)
As células cerebrais dos doentes de Alzheimer mostram frequentemente um caminho de rápido declínio e destruição. O potencial de estimular o tecido cerebral foi recentemente descoberto como um benefício potencial da CDB. Em ensaios clínicos, a CDB demonstrou a capacidade de reverter e mesmo impedir o desenvolvimento do impacto negativo da doença de Alzheimer. Um estudo realizado em 2011 pelos investigadores australianos Tim Karl e Carl Group revelou que a CBD promove o crescimento e desenvolvimento de células cerebrais, reduzindo o declínio da memória e outras funções cerebrais.
Com Assessorias