Assunto que ganhou muita visibilidade na última década, a saúde mental é pauta de diversas discussões que habitam desde o ambiente corporativo até as redes sociais. Porém, é perceptível o foco majoritário nos jovens, quando falamos de doenças psicológicas, como a depressão e a ansiedade. Isto porque as associamos às fases ativas, cheias de insegurança e questionamentos, como se a maturidade extinguisse essas características da personalidade de todos os indivíduos.
Mas é cada vez maior o número de pessoas idosas que sofrem com problemas como a depressão. Segundo levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019, pessoas entre 60 e 64 anos são as mais afetadas pela depressão no país, representando 11,1% dentre os 11,2 milhões de brasileiros diagnosticados com a doença.
A verdade é que a terceira idade é uma fase que contém novidades como qualquer outra, mas os parentes e outras pessoas jovens próximas dos idosos podem não saber lidar direito com ela. A depressão nessa idade, por exemplo, pode se manifestar de maneira diferente da usual tristeza, falta de motivação etc., “muitas vezes o aumento de dores físicas e a perda de memória são resultantes de uma doença psicológica”, explica Marco Maximino , psicólogo membro da plataforma Doctoralia.
Outro ponto de atenção quando se toca no assunto com os mais idosos é a questão geracional. “Há algumas décadas, as doenças psicológicas eram vistas como ‘frescura’, ‘falta do que fazer’, principalmente por pessoas que cresceram em um ambiente atarefado, trabalhando desde cedo ou que constituíram família ainda muito jovens, o que era comum há 25, 30 anos”, conta o especialista.
Assim, a dica de Maximino é que os mais jovens ao redor tentem dialogar e explicar para as pessoas que estão envelhecendo a importância de exercitar o corpo e a mente. “Estimular uma alimentação saudável, por exemplo, é um passo importante para que os idosos tenham mais qualidade de vida. Pessoas que fazem algum tipo de acompanhamento psicoterapêutico também podem compartilhar suas experiências de maneira a exemplificar os benefícios que têm tido a partir delas”.
Além disso, é preciso lembrar que os tempos mudaram e os mais velhos também podem e devem estar antenados. “Incluí-los nas atividades digitais, apresentar conteúdos que possam os interessar em canais da internet, auxiliá-los e incentivá-los na interação com tecnologias as quais não estão habituados, pode ser uma grande ajuda para dispersar sentimentos de solidão ou até mesmo de obsolescência, sem contar que é uma ótima maneira de aproximar as gerações”, finaliza o psicólogo.
Depressão pode ser agravada por problemas de visão
A falta de acompanhamento oftalmológico na terceira idade pode levar a problemas que extrapolam a saúde ocular. Desajustes psicossociais, como a depressão, podem ser agravadas pela baixa visão que, por ser considerada uma condição comum nesta fase da vida, muitas vezes não é devidamente diagnosticada e nem tratada, levando ao comprometimento da qualidade de vida.
O alerta é da oftalmologista Paula Carrijo e vem em um momento oportuno: o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. De acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados em 2018, a média de suicídio acima dos 70 anos é de 8,9 mortes por 100 mil e está acima da taxa nacional, que é de 5,5 por 100 mil.
“A visão é um sentido extremamente importante para o ser humano. Quando ele está comprometido, atividades simples e prazerosas do nosso o dia a dia são afetados, como ler, cozinhar, assistir TV. O impacto disso para um idoso se torna ainda maior, porque pode agravar comorbidades já comuns nesta faixa etária, relacionadas a incapacidades funcionais e à própria dinâmica da vida no envelhecer”, explica a médica.
A depressão, além de ser frequente na população idosa, é uma doença incapacitante por provocar a perda de interesse pelas atividades e profunda tristeza. A baixa visão pode agravar esse distúrbio mental e levar a outras consequências importantes, como intoxicação por ingestão de remédios trocados, quedas e atropelamentos.
Doenças oculares comuns na terceira idade
Catarata, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade (DMRI) são algumas das doenças oftalmológicas mais comuns nos idosos e que estão relacionadas à perda gradual da visão. Paula Carrijo lembra que, embora ocorram com frequência, não significa que o envelhecimento seja uma sentença para enxergar mal.
“Com o devido diagnóstico e tratamento, é possível recuperar a nitidez da visão e ter uma boa qualidade de vida”, enfatiza a médica. Adultos acima de 40 anos devem fazer acompanhamento anual com um oftalmologista. Acima dos 60, essa frequência pode ser mantida, desde que não haja nenhuma alteração no exame do fundo do olho. “Se houver outras complicações como hipertensão e diabetes, o acompanhamento deve ser feito mais de perto”, conclui.
Neurologista avalia perda cognitiva em tempos de isolamento
A perda cognitiva está sendo uma realidade para muitos idosos que estão em isolamento social desde março. Alguns, por até trabalharem ainda, nunca ficaram tanto tempo dentro de casa fazendo a mesma rotina diariamente. Como os dias estão todos iguais, eles acabam perdendo a noção de tempo e isso pode até agravar o quadro daqueles que já possuíam uma predisposição ao desenvolvimento de alguma demência.
O ser humano precisa viver em comunidade. Ele é um ser social. Muito mais do que os jovens, o idoso necessita dessa troca entre as pessoas. Muitos deles estão isolados da maioria dos seus familiares. Sem datas festivas, sem feriado e fim de semana e isso piora muito a parte cognitiva”, afirma Andre Gustavo Lima, neurologista.
Uma maneira de fazer com que essa perda da cognição seja menor é manter o idoso conectado aos dias da semana pelo menos. O familiar que está próximo pode motivar uma atividade diferente a cada dia. Por exemplo, segunda-feira é dia de pedir as compras no mercado, terça de fazer alguma atividade física mesmo que dentro de casa ou apartamento, quarta colocar roupa na máquina e assim por diante.
O idoso pode ser incentivado a ver um filme, ler um livro, fazer trabalhos manuais. Dessa forma, quando voltar o retorno das atividades normais, aquele idoso terá menos chance de sequelas na sua cognição e mais facilmente voltará ao normal. Vale a pena também tomar cuidado com os sintomas de depressão. A depressão pode acentuar as perdas cognitivas neste período”, ressalta o especialista.
Aqueles pacientes que já apresentavam alguma perda de memória ou raciocínio devido a uma doença, como o Alzheimer ou outras demências, estão tendo seu quadro clínico agravado também. Eles não conseguem entender sobre a pandemia, a Covid-19 e o motivo pelo qual suas rotinas terem sido modificadas.
Para os que já apresentam doenças neurológicas, é importante que continuem suas atividades de fisioterapia e fonoaudiologia, caso as tenham. Isso vai fazer com que o quadro não seja agravado. Se o idoso puder contar com um atendimento domiciliar, melhor ainda. Se não, procurar agendar em horários que ele tenha contato com o mínimo de pessoas. Nos dois casos, manter todos os cuidados necessários para que não haja contaminação”, orienta o médico.
Com Assessorias (atualizado em 8/9/20)