Alheia aos constantes apelos para voltarem ao trabalho, feitos pelo presidente Jair Bolsonaro – único presidente no mundo que é contra o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus -, a grande maioria da população aprova a medida preventiva, adotada por governadores e prefeitos na maioria dos estados e cidades do país. Uma pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (6) pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que 76% dos brasileiros acreditam que o mais importante neste momento é deixar as pessoas em casa. Outros 18% querem acabar com o isolamento e 6% não sabem bem o que querem ou não opinaram.
Apesar disso, muita gente continua ignorando os riscos e está indo para as ruas, sem necessidade. Alheios às notícias de que o Estado do Rio de Janeiro já está na transição para a fase de aceleração descontrolada da pandemia do novo coronavírus, cariocas e fluminenses decidiram abandonar o isolamento social e saíram de casa no fim de semana, muitos para praticar atividades físicas e outros até mesmo para fazer confraternizações entre amigos. Nas praias, praças e feiras com movimento praticamente normal, apesar das constantes recomendações mundiais para que as pessoas fiquem em casa. Na Praia do Leme, a Zona Sul do Rio, policiais militares chegaram a instalar grades para impedir o acesso das pessoas às areias, mas foram depois retiradas.
Segundo estado do Brasil no ranking do número de casos da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, ficando atrás apenas de São Paulo, o Rio de Janeiro tem 1.394 casos 64 mortes confirmadas e outras 30 sob investigação. De acordo com os dados divulgados na noite de domingo (5) pela Secretaria de Estado de Saúde, somente na capital já são 1.068 casos confirmados e 42 mortes. Há outros 44 óbitos aguardando exames para a confirmação.
Ao todo, 253 pessoas estão internadas em hospitais da cidade, sejam eles públicos ou privados, com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), um dos sintomas da Covid-19. Até a secretária municipal de Saúde, Beatriz Busch, teve que ser hospitalizada – ela recebeu alta no domingo, indo para isolamento domiciliar. Também foram infectados os secretários de Cultura, Adolfo Konder; de Assistência Social e Direitos Humanos, Tia Ju, e de Educação, Talma Suane. Em isolamento voluntário há uma semana, Talma pediu exoneração para cuidar da saúde. O subsecretário de Saúde Jorge Darze também foi infectados Todos estão bem e cumprem quarentena em suas casas.
Horários de turnos de trabalho alterados
Nos trens, ônibus e metrô a circulação de passageiros continuam a registrar grande volume de passageiros, inclusive com pessoas em pé, contrariando decretos publicados pelo Governo do Estado e pela Prefeitura do Rio. Para tentar conter aglomerações nos transportes públicos evitando assim a contaminação de pessoas, da Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu determinar horários diferenciados de turnos de trabalho para os setores da indústria, comércio e serviços para as atividades essenciais mantidas abertas.
Um decreto assinado pelo prefeito Marcelo Crivella que acrescenta dispositivos às medidas de enfrentamento à pandemia foi publicado nesta segunda-feira (6) no Diário Oficial do Município, determinando turnos para o funcionamento da indústria e do comércio. Com isso, os estabelecimentos “exclusiva ou predominantemente comerciais” deverão iniciar a jornada após as 9 horas. Os “exclusiva ou predominantemente industriais” terão início do trabalho antes das 6 horas. Ficam mantidas as determinações de tipos de estabelecimentos autorizados.
Todos os esforços feitos pela Guarda Municipal, pela Polícia Militar e pelos fiscais da Secretaria Municipal de Transportes se mostraram ainda insuficientes. Pensamos nesta opção desde o dia 13 de março, quando fizemos nossa primeira reunião do gabinete de crise. Mas por falta de implementação voluntária, passará a vigorar por força de lei”, afirmou Crivella.
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais na noite de domingo (5), Crivella disse que o comitê científico da prefeitura discutiu a questão por duas horas e foi unânime em recomendar a prorrogação das ações, após analisar a curva de contaminação da covid-19 na cidade. “Há uma pressão enorme de setores da nossa população e da economia para se começar a relativizar e abrir aos poucos o setor do comércio. Mas não há, por parte da comunidade científica do Rio de Janeiro, a menor chance para se fazer isso”, disse Crivella.
Na semana passada, a cidade, que já tem mais de 1,3 mil pessoas contaminadas pelo novo coronavírus , lançou também o “Disk-Aglomeração”, pelo 1746, para evitar que grupos de mais de 10 pessoas fiquem a distância menor que um metro e meio.
Está proibido o sujeito descer no condomínio, dar uma volta? Não! Está proibido as pessoas andarem na beira da praia? Não! Está proibida aglomeração. A pessoa ir andando, sozinha ou distanciada dois metros dos outros, também não. Não pode é ter aglomeração, lavando as mãos e o local onde as pessoas tocam”, esclareceu o prefeito.
Como vai funcionar
Trabalhadores da indústria e do comércio terão novos turnos de trabalho a partir desta terça-feira (7), conforme decreto assinado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. A nova regra determina que o grupo restrito de estabelecimentos comerciais – já antes autorizado a funcionar durante o período da pandemia – deve iniciar suas atividades após as 9h. Nas indústrias, o expediente deverá começar antes das 6h. O objetivo é impedir aglomerações nos meios de transporte público, como uma das medidas do poder municipal para evitar o avanço do novo coronavírus na cidade.
O decreto traz ressalvas quanto a atividades que tradicionalmente começam a funcionar antes das 9h, no caso do comércio:
. Padarias, confeitarias, farmácias e drogarias, postos de combustível e lojas de conveniência (sem consumo dentro das lojas) e bancas de jornal poderão abrir antes das 9h.
Já as demais áreas do comércio permitidas por meio de decreto a funcionar na cidade deverão respeitar a determinação de abertura das portas a partir das 9h. Nesse caso, estão:
. Mercados, supermercados, hortifrutis e mercearias; açougues, aviários e peixarias; depósitos, distribuidoras e transportadoras (vedada a comercialização de bebida alcóolica); comércio de produtos e equipamentos médico hospitalares e odontológicos, incluindo-se locação; comércio de insumos agrícolas e de medicamentos veterinários, alimentos e produtos de uso animal; hospedagens; lavanderias; comércio de materiais de construção e comércio de gás liquefeito de petróleo (GLP).
A prestação de serviços, por autônomos ou empresas, tais como a realizada por oficinas mecânicas e de reparos de eletrodomésticos, continua autorizada e pode ser iniciada antes das 9h, mas deverá observar a regra de distanciamento mínimo de um metro e meio entre o tomador e o prestador de serviços, ressalvada aquela realizada por profissionais de saúde.
Fiscalizações em bares e postos
Em diversos bairros do Rio, guardas municipais conscientizam a população para evitar aglomerações, utilizando megafone para alertar sobre os riscos do novo coronavírus e a necessidade de ficar em casa, respeitando o período de distanciamento social. As equipes percorrem estações do BRT e o calçadão das praias das zonas Sul e Oeste, entre outros pontos onde há concentração de pessoas.
Na madrugada deste domingo, uma ação das secretarias municipais de Ordem Pública (Seop) e da Fazenda (SMF) e da Guarda Municipal fechou três bares que funcionavam sem autorização em Curicica, na Zona Oeste. Um deles promovia em seu interior e na via pública evento com música que reunia cerca de 60 pessoas. Foram apreendidas ainda cinco máquinas caça-níqueis, encaminhadas à delegacia da área pela Polícia Militar para averiguação.
A Subsecretaria de Vigilância Sanitária iniciou as fiscalizações em bancos e lojas de conveniência de posto de gasolina para conferir as normas sanitárias e coibir a aglomeração de pessoas, como prevê o Decreto RIO 47282/20. Técnicos da pasta também inspecionam os banheiros desses estabelecimentos conferindo se há lavatórios com água corrente, dispensadores de sabão líquido e de papel-toalha, e ainda lixeiras com tampas acionadas por pedal para evitar o contato com as mãos.
Esta ação atende a Resolução 4342/20 da SMS, publicada no Diário Oficial do último dia 30. Em dois dias da dupla ação (em 2 e 3 de abril), foram feitas 30 inspeções, entre elas, dez para verificar denúncia de aglomeração e três relativas à falta de álcool gel e de higiene em geral. No total, foram aplicadas seis infrações, sendo uma por aglomeração, uma por falta de higiene e quatro por falta de licença sanitária. As ações prosseguem a partir desta segunda (6), com vistorias em mais estabelecimentos da cidade.
Quero agradecer ao povo pelo apoio. Há muitas dúvidas, incertezas e dificuldades financeiras que nos deixam tristes e apreensivos. Nós, no Rio de Janeiro, estamos conseguindo preparar o Estado para salvar vidas. Ainda não temos condições de liberar a circulação, porque muitos serão contaminados. Todos os fluminenses são parte da missão de salvar vidas”, disse o governador, na ocasião.
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