É importante falar sobre autismo para ajudar pais, médicos e educadores e, sobretudo, desmistificar e reduzir o preconceito em torno da questão. Felizmente cresce cada vez mais o acesso às informações e à literatura sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma boa recomendação de leitura sobre o tema é por quem vive na pele a convivência com um autista – sejam profissionais ou familiares.

Nas últimas semanas, recebemos a indicação de três livros sobre o tema: ‘Transtornos do Neurodesenvolvimento’, ‘Mentes Únicas’ e ‘Somos Pais de Autistas! E daí?’. No primeiro, a neurocientista Emanoele Freitas fornece um verdadeiro manancial de informações e dicas práticas, a partir de sua própria experiência com o filho Eros, um adolescente diagnosticado com TEA e também com Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD).

Assim como boa parte dos pais de autistas, Emanoele passou por muitos desafios em busca de diagnóstico correto e tratamento para o filho. Isso a fez ver quantas famílias hoje precisam de ajuda, já que poucos médicos se especializam nessa área. A ideia é servir como um grande manual para alertar pais se os filhos têm ou não um transtorno de aprendizagem (como autismo, TDAH entre outros transtornos) e onde buscar ajuda.

A neurocientista viu no próprio sofrimento uma missão para ajudar outras famílias. Atualmente, ela preside a Associação de Apoio à Pessoa Autista (AAPA), sendo responsável por toda a coordenação da instituição, que atende famílias com poucos recursos financeiros que precisam de ajuda na Baixada Fluminense.

Ao ViDA & Ação, Emanoele conta como é viver com um autista em casa e quais foram as piores situações e as situações mais amáveis que passou com Eros. “Cada dia é um dia. Até conseguir entender o autismo e suas nuances, tive dias mais difíceis do que bons. Depois observando essas alterações, foram ficando mais fáceis lidar com isso”, afirma.

Há dias mais tranquilos e tem outros que já começam com problemas. Mas isso é normal para todos. Por exemplo, nem todo dia amanhecemos bem ou de bom humor”, conta Emanoele.

Segundo ela, a situação mais difícil é quando há os momentos de surtos, em alguns casos, de agressividade. “Os momentos mais amáveis acho que tenho todos os dias, quando ele me abraça, me beija e consegue verbalizar algo novo ou ter uma atitude de autonomia que já vinha sendo ensinada há tempos e de repente ele consegue fazer”, derrete-se a mãe.

Ao ViDA & Ação, ela também revela as dúvidas mais comuns dos pais quando recebem o diagnóstico:

1 Será que o que meu filho tem é autismo mesmo ou se pode ser outra coisa?

2 Será que o autismo tem cura e quanto tempo vai demorar?

3 Como vai ser a vida dele(a) se não conseguir melhorar?

4 Quais os tratamentos necessários e se precisa de medicação?

5 Será que meu filho (a) vai conseguir se desenvolver como as outras crianças?

Dicas para lidar com um autista

Emanoele explica que os pais podem começar a observar detalhes das crianças a partir dos dois anos de idade. Nesse período, já é possível conhecer as pessoas pelo nome, há o uso predominante do meu, do eu e do você.  Na partir cognitiva, a criança já demonstra preferência por cores, possivelmente, o vermelho, arruma seus brinquedos, já mantém a colher na horizontal.

Aos quatro anos, a criança já deve ser capaz na destreza socioafetiva. É capaz de ir ao banheiro sozinha, já apresenta noção de perigo, demonstra paciência ao esperar sua vez. Na área da linguagem, consegue utilizar pronomes pessoais e possessivos, como, por exemplo, minha mão, meu brinquedo, minha cabeça.

Aos seis, na parte de cognição, geralmente, é capaz de pensar em símbolos e/ou palavras, inicia o estabelecimento da relação número e quantidade. “Na linguagem e comunicação, consegue diferenciar letras semelhantes, já nomeia todas as partes do seu corpo entre outras”.

Quando a criança apresenta sérias dificuldades nesses quesitos, dentro da sua faixa de idade, é possível que tenha algum transtorno de aprendizagem. Nesse caso, busque uma equipe interdisciplinar composta, por exemplo, médicos, fonoaudiólogos, pediatras e psicopedagogos”, alerta.

SOBRE OS LIVROS

‘Transtornos do Neurodesenvolvimento’

Como saber se uma criança tem ou não um transtorno de aprendizagem e como lidar? Essas respostas estão no livro “Transtornos do Neurodesenvolvimento – Conhecimento, Planejamento e Inclusão Real”, de Emanoele Freitas. Publicada pela editora WAK, a obra busca ser um livro de cabeceira para sanar dúvidas de famílias e profissionais.

Segundo a autora, a ideia é transmitir as reais condições de desenvolvimento da criança e do jovem que apresenta algum transtorno do neurodesenvolvimento, mostrando os caminhos adequados para se conseguir uma realização pedagógica funcional, com a colaboração de todos os envolvidos nesse processo, como a família, médicos e professores.

Entendo sobre as preocupações que passam na cabeça dos pais diante das dificuldades dos pequenos. Por meio do livro, pretendo auxiliar essas famílias que desejam ajudar seus filhos, mas que muitas vezes não sabem nem por onde começar”, comenta.

O livro explica sobre os transtornos do neurodesenvolvimento e suas especificidades, apresentando suas particularidades, ou seja, de que forma cada indivíduo pode desenvolver certos aspectos do transtorno. “Duas pessoas diagnosticadas com o mesmo transtorno podem, por exemplo, apresentar dificuldades bem distintas”.

A obra pretende também mostrar alguns processos facilitam no desenvolvimento de pequenas adaptações que favorecem a inclusão dessas crianças com Necessidades Especialistas Escolares (NEE) na sala de aula. “É preciso apresentar aos professores e pais os melhores caminhos de ensino e quais áreas cerebrais que podem interferir de maneira estratégica para o bom desenvolvimento”.

Entre os assuntos destacados, estão explicações sobre transtornos envolvendo espectro autista, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD), microcefalia e transtorno de linguagem.

SOBRE A AUTORA

Emanoele Freitas é escritora, palestrante, pesquisadora da etiologia do autismo e dos transtornos do neurodesenvolvimento, neurocientista, formanda em psicanálise clínica. É fundadora e presidente da AAPA (Associação de Apoio à Pessoa Autista), única entidade na Baixada Fluminense especializada no atendimento diferencial em autistas e seus familiares. Criadora do curso de necessidades educacionais especiais ‘Mediação com Ênfase em Autismo’.

‘Mentes Únicas’

Esclarecer informações valiosas sobre o TEA e reforçar a importância do diagnóstico são uma das propostas de “Mentes únicas”, de Clay e Luciana Brites. Publicada pela Gente Editora, a obra mostra que o transtorno não é o fim do mundo e que é possível ajudar um autista a desenvolver suas habilidades impulsionando seu potencial.

Com linguagem acessível e trazendo um panorama histórico sobre o tema até os tempos atuais, a obra pretende mostrar que o conhecimento é o fator fundamental responsável por fazer as crianças, dentro do espectro, tornem-se seres humanos realizados dentro de suas particularidades.

Mentes Únicas” ensina também como o autismo foi descoberto, quais são as pesquisas atuais sobre o assunto, como o cérebro de uma criança autista funciona, como identificar o espectro numa criança ou adolescente e quais são as melhores abordagens e práticas no dia a dia.

O neuropediatra Clay Brites explica que o autismo é um transtorno de desenvolvimento que afeta de maneira decisiva e predominante a capacidade de percepção social. Segundo o especialista, estima-se que, aproximadamente, 1% da população tenha autismo. “Apesar disso, o assunto ainda é pouco discutido em âmbito nacional. Por esse motivo, há tantas dúvidas de familiares e profissionais das áreas de educação e saúde”.

Seja por preconceito ou dificuldade de aceitação, fato é que precisamos estar mais atentos aos primeiros sinais apresentados na infância para conseguir trabalhar de maneira correta com essa condição”, reforça.

Segundo a psicopedagoga Luciana Brites, a falta de informação é o grande vilão. Ela diz que é comum ver pais e professores apresentarem grandes dificuldades em lidar com os autistas. “Mas, apesar de todas os desafios, é possível ajudá-los a ter uma vida melhor”.

Para a profissional, o que realmente faz a diferença é o diagnóstico. Quanto mais cedo, melhor e mais rápido será o processo que irá ajudar o autista a ter uma vivência mais conectada com a vida social, além de saber como lidar com as suas instabilidades. “Para isso, é necessário conhecer mais e descobrir cedo”.

O livro mostra que é possível vencer os obstáculos do autismo. Além de identificar as particularidades do TEA, ensina pais e profissionais da saúde e da educação a estimular uma pessoa com autismo de modo que ela consiga desenvolver suas habilidades, impulsionando seu potencial”, ressalta.

SOBRE OS AUTORES

Clay Brites é cofundador e speaker do Instituto Neurosaber, Pediatra e Neurologista Infantil pela Santa Casa de São Paulo; membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), doutor em Ciências Médicas pela Unicamp e é vice-presidente da Abenepi-PR. Luciana e Clay têm três filhos.

Cofundadora do NeuroSaber, Luciana Brites é palestrante e especializada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Unifil Londrina e mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie. É especialista em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação Ispe – Gae São Paulo, além de coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina.

‘Somos pais de autistas! E daí?’

No dia 2 de abril, a escritora e pedagoga Nancilia Pereira realiza o lançamento de seu 37º livro, “Somos pais de autistas! E daí?“, na Escola Municipal Castro Alves, onde leciona em Campo Grande, Zona Oeste do Rio.

O livro, segundo da autora sobre o tema, é organizado em forma de relatos verdadeiros que procuram mostrar no cotidiano de crianças e adolescentes as características da Síndrome de Asperger e como este transtorno afeta seus pais e familiares. O primeiro relato traz uma experiência pessoal: o dia a dia de sua neta, Letícia, que só teve o diagnóstico correto aos 13 anos de idade.

Depois que lancei o livro ‘Sou Autista! E daí?’, realizei muitas palestras sobre o tema e conheci o drama, sofrimento e desespero de responsáveis por portadores do Transtorno do Espectro Autista”, diz Nancilia.

Segundo ela, essas pessoas buscavam conforto, orientação e alento através do seu conhecimento. “Por isso, resolvi escrever este livro com 12 relatos verdadeiros e incluir muitas informações sobre o TEA: mundo exclusivo, importância do diagnóstico precoce, terapias, mediação escolar e legislação”, diz a autora. Ela completa a obra com um capítulo de poesias, “Poemas Azuis”, que fez para sua neta, sua maior inspiração para este lançamento.

O prefácio do livro é assinado pelo renomado neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, que prontamente aceitou o convite de Nancilia, após um encontro que tiveram durante a divulgação do registro “Sou Autista! E daí?”, em 2018.

As ilustrações da obra foram feitas pela paulista Virginia Caldas, que elaborou artes personalizadas para a criança ou adolescente de cada relato, mostrando nos desenhos seus indícios do TEA.

No lançamento, a autora participa de palestra ao lado da psicanalista Márcia Teixeira, da psicopedagoga Glaucie Nunes e da professora Élcia da Silva Lopes. O evento também traz apresentações culturais e exposição de artesanato dos portadores da Síndrome de Asperger.

SOBRE A AUTORA:

Nancilia Pereira é escritora, pedagoga, professora e poeta. Exerceu 25 anos de magistério na Escola Municipal Castro Alves, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio.  Possui 37 obras publicadas: duas sobre autismo, sete de poesias e pensamentos, 18 de literatura infantil, 10 biográficas e uma história em quadrinhos.

SERVIÇO:

Mentes Únicas

De Clay e Luciana Brites

Gente Editora

Páginas: 192

Preço de capa: R$ 34,90

Como comprar: veja aqui

Transtornos do Neurodesenvolvimento

De Emanoele Freitas

Editora WAK

Páginas: 184

Preço de capa: R$ 48,00

Como comprar: veja aqui

 

Somos Pais de Autistas! E daí?

De Nancilia Pereira

Editora independente

Páginas: 140

Preço: R$ 50
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