A jornalista Waléria de Carvalho, de 50 anos, é uma dessas aficcionadas por café. “Adoro! Tomo pelo menos umas três ou quatro xícaras por dia. Inclusive à noite. Mas não sei se posso dizer que sou viciadaaaaaa (risos)”. Se ela consegue dormir à noite mesmo após um cafezinho? Waléria garante que sim: “Posso tomar café 11 e meia da noite que meia noite eu já estou dormindo, Salvo se for o expresso. Mas desse não gosto muito. Gosto do cafezinho simples mesmo. E de coador, da cueca do vovô”, brinca.

Não são poucos os relatos como este, que ViDA & Ação colheu numa rápida consulta entre um grupo de amigos. Afinal, o café, tão presente no dia a dia das pessoas do mundo inteiro, é sempre um assunto de que todos gostamos de tratar. Alguns criticam seu sabor e muitos outros o colocam como bebida predileta. Nós, brasileiros, por exemplo, escolhemos o café na preferência de consumo, segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), lançada em 2015.

Por essa presença constante desde o café da manhã até o da tarde, passando por aquele cafezinho depois do almoço, a bebida se tornou sinônimo de sair para conversar – ‘Vamos tomar um café qualquer hora’ – , mesmo não tendo cafeína envolvida. Ou pretexto para uma pequena pausa no trabalho ou estudos, o nosso americanizado momento do coffee break.

De tão importante, a bebida ganhou até data no calendário. O Dia Mundial do Café (14 de abril) é comemorado pelos adeptos com vastas opções de sabores, aromas e formas. Ao redor dele se tomam importantes decisões, encontram-se os amigos ou simplesmente é possível desfrutar de um tempo sozinho, mas em uma ótima companhia que é o café.

Os benefícios para a saúde

Não é só na vida social que se embebeda nosso café. Sendo uma das bebidas mais consumidas no mundo, é também alvo de inúmeros estudos todos os anos. Sabe-se que o café é capaz de prevenir uma série de doenças por conta de seu poder antioxidante que combate radicais livres e até mesmo retarda o envelhecimento celular. Confira alguns dos seus benefícios.

Auxiliar na perda de peso – Seu principal composto ativo, a cafeína, é responsável pelo efeito estimulante sobre o sistema nervoso central, mantendo a atenção e o bom humor. Também ajuda no processo de respiração e de digestão. Uma xícara de café, por exemplo, pode ajudar no combate aos sintomas da enxaqueca.

Perda de peso – Estudos mostram ainda que a cafeína tem a capacidade de melhorar o metabolismo e ajudar na perda de peso.  Uma xícara pequena de café, com 180ml, contém apenas duas calorias. Porém, deve-se calcular o consumo pela quantidade de açúcar utilizado.

Prevenção de doenças crônicas – Consumido em doses regulares, ajuda na prevenção de doenças como o Mal de Alzheimer e o Parkinson. Contém substâncias antioxidantes, que eliminam radicais livres e defendem o sistema imunológico.

Pessoas que tomam café têm mais saúde, diz estudo

Cuidados no consumo e dependência

Nenhum produto foi tão pesquisado quanto o café nos últimos dois séculos. Dentre esses muitos estudos também se desmitificam velhos conceitos acerca da bebida. A maioria dos fatores benéficos trazidos pelo café está mais presente em sua versão verde – a versão não torrada, uma vez que o processo de torra degrada diversas substâncias presentes na semente.

Sensação de agitação – De acordo com uma pesquisa da UEL (Universidade do Leste de Londres, em inglês), realizada em 2012, a cafeína não tem poder para manter uma pessoa acordada. Sua ação no organismo está em promover sensação de agitação e, muitas vezes, esconder a fadiga normal do corpo.

Evite o excesso – O consumo deve ser moderado, segundo a endocrinologista Elaine Ferraz porque em excesso o café está associado a doenças como hipertensão arterial (pressão alta), osteoporose e doenças cardiovasculares.

Quadro de abstinência – Além disso, ao parar de consumir café a pessoa pode ter um quadro de abstinência e sofrer dores de cabeça, enjôo e mal-estar. É o caso da jornalista Flávia  Domingues, de 36 anos, que não fica um dia sem café: “Até sinto dor de cabeça quando não tomo”, diz ela. “Para mim café cai bem principalmente na hora do trabalho, dar aquela pausar pra espairecer”.

Por que o café atrai tantos adeptos?

Dentre todas as razões para explicar o que o café tem de diferente, seja ele preto ou pingado, quente ou gelado, coado ou prensado, tradicional ou gourmet, o motivo que mais salta sobre todos os outros significados está na “fantasia” que flui através do café.

Quem nunca ouviu falar que um bom jornalista está sempre acompanhado de uma xícara cheia de café? Ou que é possível ver seu futuro numa borra de café? Seu valor simbólico indica, inclusive, que a pessoa trabalha muito e está sempre atenta a tudo que acontece, atribuindo a ela um caráter de importância relacionado diretamente à bebida.

É como tenta elucidar a jornalista e dona do bistrô Café e Pauta, Graça Duarte, sobre a magia do café: “A paixão é pelo ‘momento café’. E se esse momento vem com o melhor grão e em um lugar aconchegante, o cliente certamente voltará”. Graça também destaca que o café está presente em várias horas do dia, sejam elas importantes ou despreocupados. Fechar um negócio, ser criativo ou simplesmente relaxar combina perfeitamente com um café.

Como se explica no cérebro o desejo irresistível de tomar um café

Quem ama café exige o melhor

O café foi gourmetizado até com bebida alcoólica (Foto: Divulgação Café & Pauta)

 

Mas não é tão simples ter o café como matéria-prima de seu trabalho. Graça Duarte afirma que o cliente de cafeteria é exigente, pedindo, algumas vezes para ver o grão e saber a região e clima onde foi produzido. Os amantes da cafeína sabem que cada item muda o sabor do café, podendo apresentar diferentes notas – mais frutadas, amadeiradas, fortes ou suaves.

Ela destaca a diversidade de opções de gostos e apresentações, processos de preparo, temperaturas e misturas, até mesmo com uísque, licores e sodas: “É possível saborear o mesmo grão puro com muitos aromas diferentes. No Café & Pauta Bistrô e Livraria servimos 28 tipos de apresentações do cafés.” O bistrô possui duas unidades, na Tijuca e em Ipanema.

Da paixão uma profissão

Claudia Valeriano
Amante de café desde pequena, ela se tornou barista e hoje traabalha na Starbucks (foto: Acervo pessoal)

Não é raro fazermos da paixão uma profissão. A aliança entre prazer e trabalho foi o que aconteceu com Claudia Valeriano, de 46 anos. Na infância ela subverteu o achocolatado preferindo o café – com leite. Esse foi o início de um relacionamento sério com esta bebida que, após anos frequentando cafés e inclusive fazendo cursos relacionados, a levou à gerência de operações da rede mundial de cafeterias Starbucks.

Trabalho com o que eu gosto, com o que eu amo. Meu grande hobby e meu trabalho: o café” (Claudia Valeriano)

Claudia fez o curso de barista para conhecer mais sobre café. Depois fez o de coffee lover. “Latte art fiz de curiosa”. Ela diz que começa o dia com um café na Hario (método de preparo do café filtrado que usa uma cafeteira japonesa), depois do almoço toma um espresso ou um macchiato e normalmente finaliza o dia com um latte. “Para eu acordar, sempre preciso de café… me sinto um pouco lesada se não tomo, como se não tivesse dormido direito”, conta.

 

Uso em tratamentos de beleza

Nem só na gastronomia o café está presente. Mari Di Chiara, enfermeira especializada em estética, explica que a bebida tem grandes propriedades cosméticas. Segundo ela, a ‘cafeterapia’ é indicada para peles com oleosidade e também para desintoxicação, reposição das energias térmicas após exposição solar, hidratação, nutrição e mais tônus à pele.

A cafeína, não engorda, ao contrário, ajuda a perder medidas e também é uma poderosa máscara anti-idade. Seu princípio ativo também está sendo usado, cada dia mais, em produtos como sabonetes, shampoos, hidratantes e outros”, afirma a esteticista.

Além disso, garante a profissional, o café também ajuda no tratamento da indesejável celulite, compondo muitos produtos desenvolvidos para combater esse mal. “O café também tem propriedades esfoliantes e ajuda a acelerar a eliminação natural de gordura das células”, destaca.

Uma dose extra de cultura, história e turismo

fazenda secretário em vassouras
Fazenda do Secretário, em Vassouras (RJ), é um dos belos exemplares deixados pela antes rica cultura cafeeira no estado (Foto: Turismo Vale do Café)

É natural que o café esteja enraizado nos nossos costumes. Seu cultivo remonta há mais de mil anos, com origem na Etiópia. Suas propriedades estimulantes foram descobertas por um pastor, que observou alterações no comportamento de seu rebanho, depois que os animais ingeriram uma plantinha vermelha. O pastor, então, decidiu provar o alimento e logo ficou encantado com seu sabor e aroma. Desde então começou a ser cultivado e ingerido na região árabe e se espalhou gradativamente pelo resto do globo.

Palavra derivada do árabe, “gahwa” (aquilo que impede o sono), era consumida em planta, pelo deserto, envolta em gordura animal. Na Turquia, tomou a forma líquida e veio conquistando todos os paladares, até hoje. Quase 700 anos depois de sua origem, o grão chegou ao norte do Brasil.

Trazido da Guiana Francesa a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará Francisco Palheta, no século XVII, o café chegou ao Brasil escondido na mala do sargento. Era fácil de plantar. E de enriquecer com o plantio.

Mas aqui o café encontrou terras fartas e clima ideal para o cultivo, conquistando o paladar da população em nível mundial. Fazendeiros do vários pontos do país plantaram o “café brasileiro”. Mas se destacaram os paulistas e fluminenses do chamado Vale do Café, localizado no Vale do Paraíba.

A reinvenção da cultura cafeeira

O café foi a ‘menina dos olhos’ da exportação brasileira, tendo sido o principal produto da economia do país por quase um século, enriquecendo muitos. Crises no mercado internacional, o cansaço da terra, a abolição da escravatura e a posterior contratação da mão de obra paga levaram os então barões do café à ruína. Suas belas e imponentes fazendas, com casarões de sonho e muito dispendiosos, onde se comia, vestia e usava o que havia de melhor e mais caro na Europa, tornaram-se escombros do apogeu de outrora.

Mas muitas sobreviveram ao revés, com a administração criativa dos descendentes dos barões e de novos proprietários, que reinventaram o papel e a função das velhas fazendas cafeeiras: aulas de história, de preservação de memória e cultura a céu aberto. O Vale do café pode ser também um ótimo lugar para um bom descanso, belos passeios e muito lazer. Tudo junto e misturado com História da boa e in loco.

A cidade de Vassouras pode ser uma boa alternativa, com suas muitas fazendas do café. Além de outros atrativos que oferece, como a casa da moradora mais ilustre da cidade: Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Mulher belíssima e muito rica,  viveu o auge da pujança do café. Teve um relacionamento profundo com o abolicionista Joaquim Nabuco, mas não quis se casar com ele. Nunca deixaram de se amar.

Mas Eufrásia preferiu ser livre e dona do próprio nariz. Criada e educada pelo pai, ela aprendeu a cuidar dos negócios da família e a multiplicar sua fortuna. Morou durante anos em uma mansão em Paris. Voltou a Vassouras para morrer. Deixou toda sua fortuna para a cidade.

Reportagem do estagiário Andrei Felipe, estudante do 6º período de Jornalismo na Facha, com a colaboração de Cristina Nunes de Sant´Anna e edição de Rosayne Macedo

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