Um dos maiores desafios da saúde pública no Brasil são as chamadas doenças do sangue ou hematológicas. Enquanto algumas, como anemias por falta de nutrientes, podem ser evitadas e tratadas com uma dieta adequada e tratamentos simples e efetivos, outras requerem tratamentos mais específicos.

Este é o caso da leucemia, um tumor que afeta os glóbulos brancos do sangue e que representa o décimo tipo de câncer mais frequente na população brasileira, com cerca de 11 mil casos novos a cada ano, de acordo com previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Como outros cânceres, o tratamento da leucemia pode passar por medicamentos e quimioterapia ou radioterapia, mas dependendo do tipo, como no caso da leucemia aguda e da mieloide crônica, podem chegar à necessidade de um transplante de medula óssea (TMO). Esse transplante envolve a substituição da medula óssea doente por células-tronco saudáveis.

Neste procedimento, é realizada uma “destruição” da medula óssea doente por meio de quimioterapia e/ou radioterapia, seguida pela infusão das células-tronco saudáveis, que irão ocupar a medula óssea e restaurar a produção normal de células sanguíneas. Na maior parte dos casos, as novas células-tronco são fornecidas de um doador compatível – o que se chama de transplante alogênico.

O que muita gente não sabe é que células-tronco saudáveis também podem ser obtidas do próprio paciente (transplante autólogo), um procedimento médico em que elas são coletadas, congeladas e depois devolvidas ao corpo após um tratamento com altas doses de quimioterapia ou radioterapia. Este tratamento visa substituir células danificadas, restaurando a produção de células sanguíneas saudáveis.

Como funciona o transplante autólogo

  • Coleta de células-tronco: As células-tronco são retiradas do paciente, seja da medula óssea ou do sangue.
  • Congelamento: As células são armazenadas em nitrogénio líquido para serem usadas mais tarde.
  • Tratamento de “condicionamento”: O paciente recebe altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia para destruir as células cancerígenas.
  • Transfusão: As células-tronco congeladas são descongeladas e infundidas no paciente, como uma transfusão de sangue.
  • Enxerto: As células-tronco transplantadas viajam até a medula óssea e iniciam a produção de novas células sanguíneas saudáveis (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas).
Vantagens e desvantagens:
  • Sem rejeição: Por serem as próprias células do paciente, não há risco de rejeição pelo sistema imunitário.
  • Possibilidade de células cancerígenas: Células tumorais podem ser coletadas junto com as células-tronco e devolvidas ao corpo do paciente.
  • Recuperação do sistema imunitário: O sistema imunitário do paciente permanece o mesmo que antes do transplante, o que significa que as células cancerígenas que escaparam anteriormente podem voltar a atacar, pois o transplante não produz um efeito “enxerto contra o cancro”.

Dia Mundial do Doador de Medula Óssea: campanha incentiva novas doações

Método seguro para doador e receptor, o TMO é o tratamento para diversas doenças que afetam o sangue

transplante autólogo pode ser indicado para o tratamento de diversas doenças oncológicas que afetam o sangue, incluindo: Linfoma de Hodgkin e Linfoma não-Hodgkin, Mieloma Múltiplo, Leucemia Mieloide Aguda, Tumores de Células Germinativas, Neuroblastoma.

Porém, nas leucemias, o transplante alogênico é sempre o mais recomendado para o tratamento, o que sempre exigirá um doador compatível com o paciente. Por isso, a importância de se incentivar as doações de medula óssea.

Em 20 de setembro, celebra‑se o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, data ideal para reforçar a importância da doação voluntária. Apesar de o Brasil possuir hoje mais de 5,9 milhões de doadores cadastrados e mais de 125 mil novos doadores a cada ano, segundo o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), há ainda cerca de 2 mil pacientes à espera por um doador compatível.

Isso ocorre porque é mais difícil conseguir um doador compatível que não seja da própria família, cerca de um em cada 100 mil pessoas sem nenhum parentesco”, comenta Leandro Felipe Figueiredo Dalmazzo, vice-presidente médico do Grupo GSH. O médico reforça a importância do incentivo à doação de medulaóssea. “Quanto mais voluntários tivermos para essas doações, mais chance de encontrar um doador compatível para esses pacientes. 

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Saiba como é feita a doação de medula

Para quem deseja ser doador de medula, a orientação é procurar o hemocentro mais próximo e agendar uma visita. Uma pequena amostra de sangue será coletada para o exame de histocompatibilidade (HLA), que identifica as características genéticas do doador para cruzamento com os dados dos pacientes que estão cadastrados na fila de espera.

Uma vez incluído no Redome, quando houver um paciente compatível, o órgão de saúde entrará em contato para consultar a disponibilidade do voluntário e dar início à avaliação pré-doação. Em caso de compatibilidade, existem duas formas de doar células tronco. A escolha depende da doença do paciente e da vontade do doador.

A primeira é a coleta a partir do sangue, por punção simples em veias do braço, após a estimulação medicamentosa para a liberação dessas células da medula para o sangue. Esse medicamento pode acarretar dor no corpo e mal-estar leves, além de coriza. Tais efeitos desaparecem após a doação”, diz a hematologista do Hospital Brasília Andresa Melo.

A outra forma é a punção diretamente na medula óssea (osso do quadril). A doação ocorre em centro cirúrgico e o doador recebe medicamentos para não sentir desconforto e permanecer dormindo durante a coleta das células, que ocorre por meio de punções simples na região posterior do osso do quadril, sem necessidade de abordagem cirúrgica.

Os riscos relacionados à doação são muito baixos, uma vez que antes desse procedimento o doador passa por avaliação médica detalhada a fim de verificar se está apto para doar. Após a doação, a medula do doador se recupera totalmente dentro de algumas semanas”, explica Andresa Melo.

Avaliação e acompanhamento do doador de medula

Grupo GSH atua em parceria com o Redome para acelerar transplantes de medula óssea

O Transplante de Medula Óssea (TMO) começa pela identificação de um doador compatível, que passa por vários testes para que, então, suas células-tronco hematopoiéticas sejam coletadas da medula óssea ou do sangue periférico.

O trabalho envolve desde a avaliação dos doadores de medula (que envolve todos os exames necessários) até a coleta da bolsa de célula, observando aos critérios estabelecidos pelo Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). De acordo com Leandro Felipe Figueiredo Dalmazzo, é preciso haver também um preparo específico e estruturado da instituição para dar o apoio necessário ao transplante.

No Grupo GSH, por exemplo, possuímos todo o suporte para realizar o planejamento conjunto com a equipe de transplantadores, realizando tanto o procedimento de coleta do material, quanto a avaliação e acompanhamento do doador alogênico de medula, além de um time instruído para manipular e preparar o produto colhido, seja para infusão ou criopreservação”, ressalta.

O Grupo GSH atende a diversos hospitais parceiros, pelo país, por meio de sua equipe médica e profissionais aptos para a realização do transplante de medula óssea e também disponibiliza os bancos de sangue da rede em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, para realizarem o processo de coleta.

Os cuidados com o paciente transplantado de medula

A hematologista do Hospital Brasília Andresa Melo explica que o objetivo do procedimento é substituir a medula doente por uma saudável. As células podem ser fornecidas por um doador (transplante alogênico) ou mesmo pelo próprio paciente (transplante autólogo). Após o procedimento, as células transplantadas começam a reconstituir a medula de forma a normalizar a produção de sangue.

Apesar dos baixos riscos, existem cuidados específicos para a realização de transplante de medula óssea. Após o transplante, o paciente deve permanecer internado por algumas semanas até que ocorra “a pega da medula”, momento em que a nova medula começa a funcionar e a produzir sangue normal no corpo do transplantado.

Ainda depois da alta, o paciente deve permanecer em rigoroso acompanhamento médico. Com o passar do tempo, os medicamentos imunossupressores poderão ser suspensos, permitindo que o paciente volte à sua rotina.

A recuperação da imunidade se inicia alguns meses após o transplante, mas pode ser mais lenta a depender da evolução do paciente. Por isso medidas como higienização frequente das mãos, uso máscara e prudência e cuidado com aglomerações são tão importantes”, diz a médica.

Transplante é esperança para pessoas que lutam contra a leucemia

Popularmente conhecida como “câncer no sangue”, a doença ocorre na formação das células sanguíneas, dificultando a capacidade do organismo de combater infecções

A leucemia é um câncer que ocorre na formação das células sanguíneas na medula óssea, mais especificamente os glóbulos brancos (responsáveis pela defesa do organismo), dificultando a capacidade do organismo de combater infecções.

A doença, que pode ser subdividida em pelo menos quatro grupos distintos, ocorre em todas as faixas etárias, sendo a leucemia linfoblástica aguda mais comum em crianças, e a mieloide aguda frequentemente diagnosticada em adultos na faixa etária entre 50 e 60 anos.

Pedro Neffá, Hematologista do Hospital São Luiz Itaim, alerta que os sintomas da doença podem ser inespecíficos e se confundir com situações do cotidiano.

Entre os principais sinais de alerta estão cansaço ao realizar pequenos esforços, palidez, presença de sangramentos, principalmente na gengiva ou nariz, surgimento de equimoses (manchas roxas espontâneas na pele), e infecções de repetição”, destaca o especialista.

Já os casos agudos apresentam diminuição dos glóbulos vermelhos (anemia) e das plaquetas. “Saber identificar os sinais de alerta e levar o paciente para avaliação com um especialista o quanto antes é essencial”, complementa Pedro.

Muitos pacientes com leucemia precisam realizar transfusões ao longo do tratamento, por isso, é essencial que todo adulto saudável seja doador! Você só precisa buscar um banco de sangue próximo à sua residência”, enfatiza o hematologista.

Diagnóstico começa com um simples hemograma

O primeiro passo para o diagnóstico da leucemia é realização de exames de sangue, principalmente o hemograma. “A confirmação é realizada a partir da punção da medula óssea, onde coletamos uma série de exames que nos ajudam a entender e classificar melhor a doença, para iniciarmos a conduta terapêutica adequada”, explica Neffá.

O tratamento envolve principalmente a quimioterapia, combinada com medicamentos orais e antibióticos. Em pacientes com maior risco de recidiva da doença, uma opção é o transplante de medula óssea, onde o doador pode ser um familiar ou membro do banco nacional.

“Nos últimos anos, vimos uma evolução nos tratamento, com a incorporação de uma série de medicamentos que proporcionaram uma redução dos efeitos colaterais e melhora do desfecho dos casos. Há também a nova terapia com células T quiméricas, conhecidas como Car-T Cells, aprovada para leucemia linfoblástica aguda, e que apresenta resultados promissores para pacientes mais jovens”, lembra o hematologista.

Com Assessorias

 

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