A leucemia, um tipo de câncer que afeta a medula óssea e compromete a produção de células sanguíneas saudáveis, atinge cerca de 12 mil pessoas por ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Para muitos pacientes, o transplante de medula óssea é a única possibilidade de cura — e depende diretamente da solidariedade de doadores voluntários. Muitas vezes, o transplante de medula é a única alternativa para interromper o avanço da doença.
Atualmente, o Brasil conta com mais de 5,9 milhões de doadores registrados no REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), o terceiro maior banco do mundo e o maior com financiamento exclusivamente público.
Apenas entre 2022 e novembro de 2024, o número de novos doadores cadastrados cresceu 8,4%, saltando de 119 mil para 129 mil. Já o número de coletas de medula para transplantes chegou a 431 em 2024 — também 8% acima do total realizado em 2022. Apesar disso, 650 pacientes aguardam na fila por um doador compatível que não seja parente. Por isso, ampliar o número de doadores cadastrados é uma missão urgente e contínua.
Segundo Pedro Costa Neto, coordenador médico do Hospital Rede Grand 3 Pituba, “o sucesso do transplante depende, em grande parte, da compatibilidade genética entre doador e receptor. Fora do núcleo familiar, essa compatibilidade ocorre, em média, em apenas 1 a cada 100 mil pessoas. Por isso, ampliar o número de doadores cadastrados é um desafio contínuo e essencial”.
Por isso, o Congresso Nacional será iluminado na cor vermelha na noite desta segunda-feira (15), em apoio ao Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, celebrado no terceiro sábado de setembro. A data homenageia os doadores e alerta para a urgência de pacientes que têm doenças que afetam a produção de células sanguíneas, como as leucemias, além de pessoas com aplasia de medula óssea e síndromes de imunodeficiência congênita.
Requisitos
Dr. Pedro reforça que a doação de medula é um procedimento seguro e, na maioria dos casos, simples. Cerca de 70% das doações são realizadas por aférese, um procedimento semelhante à doação de plaquetas, que não requer internação nem anestesia. É crucial desmistificar o medo em torno do procedimento, pois cada doador representa a possibilidade real de salvar uma vida”.
Para se tornar um doador, é necessário ter entre 18 e 35 anos, estar em bom estado de saúde, não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue e não ter tido doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune e comparecer a um hemocentro credenciado.
Para doar basta ir a um hemocentro, apresentar documento de identidade e preencher um formulário. Uma amostra de 5 ml de sangue será coletada para testes que avaliam a compatibilidade. Após a coleta de uma amostra de sangue, o perfil genético do doador é incluído no REDOME.
Se houver compatibilidade com um paciente, o doador fará testes adicionais. Caso seja encontrada compatibilidade com algum paciente, a pessoa é convocada para exames mais detalhados e, se estiver apta, realiza a doação.
Coleta
A coleta das células-tronco ocorre em centros de transplante ou hemocentros autorizados pelo Ministério da Saúde e pode ser feita de duas formas:
- Pela medula óssea, o procedimento ocorre em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral, e requer internação de 24 horas. As células são coletadas por punções no osso do quadril. O procedimento dura cerca de 90 minutos.
- Por aférese (separação dos componentes do sangue por centrifugação), a coleta é feita diretamente da corrente sanguínea e dura de 3 a 4 horas. O doador recebe uma medicação por 5 dias para estimular as células-tronco.
Doar medula é um ato de empatia que pode salvar vidas. Quanto maior o número de doadores cadastrados, maiores as chances de pacientes com leucemia encontrarem um caminho para a cura”, afirma o especialista.
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A leucemia, um tipo de câncer que afeta as células do sangue, é uma das principais causas de óbitos por neoplasias no Brasil, de acordo com pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A doença compromete a produção de glóbulos brancos na medula óssea, afetando diretamente o sistema imunológico. É na medula óssea que estão as células-tronco hematopoéticas, que geram glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.
A leucemia pode se apresentar de diferentes formas. As principais são: leucemia linfoide aguda (comum em crianças), leucemia linfoide crônica (frequente em idosos), leucemia mieloide aguda (mais comum em adultos) e leucemia mieloide crônica (também prevalente entre adultos).
Os sintomas costumam ser inespecíficos: cansaço excessivo, palidez, fraqueza, zumbidos, aparecimento de caroços (gânglios), além de manchas roxas e sangramentos nasais. febre frequente, perda de peso e sangramentos inexplicáveis. Os primeiros sinais da leucemia podem ser confundidos com condições comuns, o que dificulta um diagnóstico precoce. Por isso, é fundamental buscar orientação médica ao notar mudanças anormais na saúde.
É essencial que a informação correta chegue à população. Quando o câncer é detectado precocemente, as taxas de cura podem ultrapassar 80%. Por isso, é nosso dever reforçar a importância de um diagnóstico rápido”, ressalta Roberto Luiz da Silva, hematologista do IBCC Oncologia, hospital especializado no tratamento do câncer.
A importância do transplante de medula óssea
Em casos mais avançados de leucemia, o tratamento pode incluir o transplante de medula óssea, uma abordagem terapêutica cada vez mais eficaz. Também conhecido como Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH), o procedimento é utilizado para substituir a medula óssea doente por células saudáveis, o que permite a produção de novos glóbulos sanguíneos.
Especialistas destacam a importância do transplante como uma opção de tratamento para leucemia em casos mais graves, quando outros tratamentos não são suficientes. “Existem vários critérios, mas o principal é o paciente estar em boa saúde dos demais sistemas do corpo. O paciente que não tiver doenças descontroladas do coração, pulmão, fígado e demais órgãos, em geral, é candidato a receber um transplante de medula óssea”, comenta o Dr. Roberto.
Segundo o especialista, em pacientes que tenham condições neuro-psiquiátricas graves e que já tenham grandes limitações das atividades do dia a dia, a indicação do transplante deve ser individualizada. Não há um limite de idade para o transplante, mas em pacientes muito idosos e frágeis, o tratamento pode trazer mais efeitos adversos, sendo a indicação avaliada para cada caso.
Como avaliar a compatibilidade
O principal meio de compatibilidade é através de um conjunto de proteínas expressas nos glóbulos brancos chamado de sistema HLA (Antígeno Leucocitário Humano). Nesse sistema o candidato a doação de células tronco é classificado em relação ao receptor como HLA idêntico “fullmatch” (100% compatíveis) ou com “mismatches” (quando há algumas porções distintas do material genético entre o doador e o receptor) e em haploidênticos (pelo menos, 50% compatíveis).
Após ver a compatibilidade HLA, vemos se o paciente receptor tem anticorpos contra o sistema HLA do possível doador. Além disso, é observado a compatibilidade entre a tipagem sanguínea ABO. Porém, a discordância do tipo sanguíneo A, B, O e AB não limita a realização do transplante.
A discordância do tipo sanguíneo apenas implica em alguns cuidados no preparo do paciente receptor e da bolsa de células-tronco a ser dada. Conforme o tempo passa, a tipagem sanguínea do paciente vai se tornar a tipagem do doador”, explica Dr. Roberto.
Os principais riscos do transplante são o corpo do paciente rejeitar a medula óssea nova, ou até mesmo a medula do paciente não reconhecer os órgãos e tecidos do novo corpo (doença do enxerto contra hospedeiro ou GvHD).
Também existem as infecções bacterianas, virais e fúngicas que podem ocorrer, principalmente antes da nova medula “pegar” (período da aplasia pré-enxertia) e nos primeiros 100 dias pós-transplante. É válido ressaltar que todas essas complicações podem ser tratadas”, finaliza o hematologista.
Dicas de prevenção e detecção precoce
Embora não seja possível prevenir a leucemia diretamente, algumas medidas podem favorecer um diagnóstico precoce e aumentar as chances de cura:
Acompanhamento médico regular: consultas de rotina com médicos, como clínicos gerais ou hematologistas, são fundamentais para monitorar a saúde.
Exames de rotina: exames laboratoriais, como hemograma completo, podem indicar alterações importantes no sangue e devem ser feitos sempre que houver suspeita clínica ou sintomas persistentes.
Atenção a sinais de alerta: observar sintomas como palidez, febre prolongada, cansaço, perda de peso e manchas na pele pode ser decisivo para um diagnóstico precoce.
Com Assessorias