Cenas recentes da novela Vale Tudo, exibida pela TV Globo, mostraram o personagem Afonso Roitman, interpretado pelo atorHumberto Carrão, recebendo o diagnóstico de leucemia mieloide. Esse tipo de câncer afeta a medula óssea e o sangue pode causar sintomas repentinos, como cansaço e fadiga.

Para viver essa nova fase, o ator gravou uma cena em que seu personagem decide cortar o cabelo, como uma forma de enfrentar os efeitos colaterais da quimioterapia.  A inclusão desse enredo na trama, que não fazia parte da versão original da novela exibida em 1988, abre espaço para ampliar a discussão sobre a incidência desse tipo de câncer do sangue, a importância de reconhecer sinais precoces, os diferentes tipos da doença, seus sintomas e os avanços recentes no tratamento.

O tema, que impacta milhares de brasileiros todos os anos, é ainda mais relevante porque no dia 4 de setembro celebra-se o Dia Mundial da Leucemia, iniciativa que chama atenção para uma das doenças oncológicas mais desafiadoras no Brasil e no mundo.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados 11.540 novos casos de leucemia por ano no Brasil, no triênio 2023-2025, o que corresponde a um risco de 5,33 casos a cada 100 mil habitantes (6.250 em homens e 5.290 em mulheres). A doença ocupa a 10ª posição entre os tipos de câncer mais incidentes no país, excluídos os tumores de pele não melanoma.

Um levantamento baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) mostra que, entre 2018 e 2022, foram notificados 10.190 casos de leucemia mieloide nas capitais brasileiras.

Entenda os tipos de leucemia

Segundo a onco-hematologista do Hospital Sírio-Libanês, Sabrina Brant,leucemia mieloide é um tipo de câncer do sangue que tem origem na medula óssea. “A doença acontece quando os glóbulos brancos sofrem alguma mutação no seu material genético e passam a ser produzidos de forma anômala e excessiva pela medula óssea”, explica.

Existem dois tipos de leucemia mieloide, a Leucemia Mieloide Crônica (LMC), que normalmente apresenta uma evolução lenta no crescimento das células doentes, e a Leucemia Mieloide Aguda (LMA), que costuma se desenvolver de forma mais rápida e agressiva

Brant explica que na LMA, as mutações que atingem os glóbulos brancos resultam em blastos, células imaturas com características irregulares. “Muitas vezes, a doença acontece por causas desconhecidas e de forma aleatória, mas alguns fatores aumentam o risco, como histórico de radioterapia ou quimioterapia, exposição à radiação ou substâncias químicas (como benzeno), síndromes genéticas, doenças hematológicas prévias e idade avançada”, explica.

Como identificar sinais da doença?

Segundo a especialista, não há exames de rastreio específicos para garantir um diagnóstico precoce da LMA. O diagnóstico precoce depende da busca por atendimento médico diante de sintomas sugestivos, que podem surgir em poucos dias ou semanas antes da confirmação.

Os principais sintomas são:

  • cansaço extremo (decorrente a anemia);
  • sangramentos e manchas roxas (plaquetas baixas);
  • febre;
  • infecções recorrentes;
  • dores ósseas;
  • perda de peso.

Tratamento e prognóstico

De acordo com Sabrina, o tratamento da Leucemia Mieloide Aguda vem apresentando diversos avanços nos últimos anos e atualmente existem diversas estratégias terapêuticas para vários perfis de pacientes (jovens, idosos, com comorbidades mais graves).

Dentre as principais opções de tratamento há a quimioterapia padrão, terapias-alvo para tipos específicos de mutações, transplante de medula óssea em alguns casos, e estudos preliminares com células CAR-T e CAR-NK.

O prognóstico depende de fatores como idade, subtipo da LMA, mutações genéticas e condições clínicas do paciente. Em geral, pacientes jovens, sem comorbidades e com mutações menos complexas têm maiores chances de cura”, conclui a onco-hematologista.

Por que essa pauta importa

  • A leucemia representa mais de 11 mil novos casos anuais no Brasil;
  • A Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) é o câncer infantil mais comum, mas também impacta adultos, que enfrentam barreiras adicionais no acesso ao tratamento;
  • A LLa merece atenção especial: de rápida progressão, é o tipo mais frequente em crianças, mas também acomete adultos, exigindo estratégias de tratamento diferenciadas
  • Terapias inovadoras têm transformado o manejo da LLA, ampliando a sobrevida e reduzindo efeitos colaterais;
  • O acesso no SUS avança, mas ainda há desafios para ampliar cobertura principalmente entre pacientes adultos

Leia mais

O cientista e a leucemia: ‘vamos vencer, um passo de cada vez’
Leucemia aguda ou crônica? Entenda as diferenças e como tratar
Tipo grave de leucemia nem sempre precisa de tratamento

Saiba mais sobre a doença

A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) entende que o olhar atento do público e de outros profissionais é essencial para esclarecer aspectos fundamentais sobre essa doença.

1. o que é leucemia mieloide?

A leucemia mieloide é uma denominação dada a um grupo de neoplasias malignas hematológicas (câncer) que se originam na medula óssea, local responsável pela produção de células sanguíneas, afetando a linhagem de células mielóides. Nesse quadro, as células precursoras (ou seja, em desenvolvimento) sofrem alterações genéticas, o que leva à produção descontrolada de glóbulos brancos, anormais e doentes, comprometendo a formação das células sanguíneas essenciais.

De maneira simplificada, existem dois principais tipos:

  • Leucemia Mieloide Crônica (LMC): forma mais indolente, com crescimento de células doentes mais próximas em desenvolvimento das células normais, menos agressiva.
  • Leucemia Mieloide Aguda (LMA): apresenta-se de forma agressiva e rica em sintomas, exigindo diagnóstico e tratamento imediatos.

2. Sintomas e sinais de alerta

Na trama, Afonso Roitman manifesta sintomas compatíveis com a LMA, como cansaço intenso, sangramentos nasais, dores nos ossos e desmaios. Os sinais comuns são:

  • Cansaço, palidez, febre e infecções
  • Manchas roxas e hematomas espontâneos, sangramentos
  • Tosse, febre, infecções
  • Dores ósseas, perda de peso

3. Diagnóstico e a importância do atendimento médico

O diagnóstico precisa ser feito por exames especializados e solicitados por médico especialista, que são:

  • Hemograma (que levanta suspeita).
    Avaliação da Medula Óssea: mielograma, imunofenotipagem, cariótipo e testes genéticos (NGS) para identificação do subtipo e mutações específicas. Esses exames são essenciais para direcionar o tratamento adequado.

4. Tratamento e esperança de cura

A LMA exige abordagem rápida e pode ser tratada com:

  • Quimioterapia intensiva.
  • Medicamentos-alvo personalizados conforme mutações genéticas.
  • Transplante de medula óssea para alguns casos

5. Impacto real e oportunidade educativa

A representação ficcional na novela pode ajudar a despertar atenção pública e estimular pessoas a buscar diagnóstico precocemente diante de sinais persistentes. Entretanto, é importante termos em mente que se trata de uma obra de ficção, em que muitos fatos e acontecimentos podem ser bem diferentes da realidade. A ABHH reforça que o diagnóstico em tempo é essencial e que, quanto mais cedo a investigação médica, maior a efetividade do tratamento.

6. O que fazer?

  • Procurar sempre antes avaliação médica ao notar sintomas como fadiga intensa, sangramentos inexplicáveis, infecções recorrentes
  • Lembrar que são condições raras, e que a maioria dos casos será de outras doenças mais simples, e não de leucemia
  • Exames simples como hemograma são o primeiro passo; em caso de suspeita, procure um hematologista
  • Incentivar a discussão com profissionais de outras especialidades sobre a possibilidade de exames avançados e planos de tratamento individualizados quando necessário.

Com Assessorias

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *