O acidente vascular cerebral (AVC) que levou à morte o sambista Arlindo Cruz, de 66 anos, nesta última sexta-feira (8), é a principal causa de incapacidade no mundo e a segunda de mortalidade no Brasil. Tradicionalmente associado à terceira idade, o problema tem atingido com frequência cada vez maior pessoas entre 18 e 45 anos. A Rede Brasil AVC faz um alerta urgente: os jovens também estão em risco, e muitos não sabem disso.
O AVC em jovens tem sido uma realidade cada vez mais comum nas emergências brasileiras. É um fenômeno preocupante, pois estamos falando de uma faixa etária que, muitas vezes, se considera imune a esse tipo de problema”, afirma a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC e referência nacional no combate à doença.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de pessoas no mundo sofrem um AVC por ano — e aproximadamente 30% dos casos ocorrem em pessoas com menos de 45 anos. No Brasil, os dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que essa tendência também se repete: nos últimos cinco anos, houve um aumento de mais de 20% nos casos de AVC em adultos jovens.
Fatores de risco entre os jovens
O AVC em jovens tem consequências significativas. Além dos danos físicos e cognitivos, ele interfere diretamente na vida social e produtiva do paciente. “Uma pessoa de 30 anos que sofre um AVC pode ficar com sequelas que a impedem de trabalhar, estudar ou cuidar dos filhos. Isso impacta não apenas o indivíduo, mas toda a estrutura familiar e econômica ao seu redor”, ressalta a médica.
Entre as principais causas do AVC nessa faixa etária estão doenças cardíacas não diagnosticadas, uso de anticoncepcionais em combinação com tabagismo, histórico familiar, além de hipertensão, diabetes, colesterol alto e estilo de vida pouco saudável.
Hábitos como noites mal dormidas, estresse crônico, alimentação ultraprocessada, uso de drogas ilícitas e o excesso de álcool são gatilhos importantes para o desenvolvimento do AVC”, alerta Dra. Sheila.
A especialista pontua que o acesso ao tratamento de AVC para jovens apresenta desafios únicos que podem impactar significativamente sua recuperação e saúde a longo prazo. Isso porque eles frequentemente enfrentam atrasos para receber o cuidado apropriado devido a diagnósticos incorretos.
Os sintomas de AVC nessa população são frequentemente confundidos com outras doenças menos graves, como enxaquecas, intoxicação por substâncias ou fadiga geral. No mundo, esses pacientes frequentemente enfrentam atrasos significativos no diagnóstico devido à baixa suspeita entre os profissionais de saúde”, fala.
Prevenção é o melhor caminho
A Rede Brasil AVC reforça que mais de 80% dos AVCs podem ser evitados com mudanças de hábitos. Monitorar a pressão arterial, manter uma alimentação saudável, fazer atividade física regular, não fumar e evitar o uso de drogas e álcool em excesso são atitudes fundamentais.
O jovem precisa incorporar o autocuidado à sua rotina. Não é exagero fazer um check-up anual, medir a pressão com frequência e prestar atenção aos sinais do corpo. Isso pode salvar sua vida”, finaliza Dra. Sheila.
Cerca de 80% a 90% dos AVCs poderiam ser precavidos com uma rotina de vida saudável, atividades físicas e acompanhamento da pressão arterial desses pacientes. Ele ainda ressalta que é preciso quebrar o paradigma de que o AVC acomete apenas os idosos. A doença está cada vez mais recorrente nos jovens”.
O especialista é enfático ao afirmar que adotar uma rotina de vida saudável pode prevenir o AVC. Confira as dicas de prevenção:
- Evitar o uso de cigarros e álcool;
- Dieta com redução de sódio e gorduras;
- Adotar uma rotina com sono regular de no mínimo 8h por dia;
- Realizar atividades físicas regularmente, cerca de 30 minutos por dia já impacta em uma rotina saudável.
Casos aumentam no inverno
Existem dois tipos de AVC: o isquêmico, que ocorre quando falta sangue em alguma área do cérebro; e o hemorrágico, quando um vaso (do tipo artéria, raramente uma veia) rompe. “Durante um evento desse tipo, cerca de 1,9 milhões de neurônios morrem por minuto”, explica a neurologista.
No inverno, atual estação, há maior probabilidade de ocorrência de AVC, ligada à tentativa do corpo de manter uma temperatura corporal alta para lidar com o frio. Para isso, o organismo libera algumas substâncias, como as catecolaminas, que têm a função de comprimir o vaso sanguíneo.
Quando reduz o calibre do vaso, aumenta a pressão arterial e isso favorece o aparecimento de AVC. Outro mecanismo de aquecimento é a mudança na composição do sangue, que fica mais grosso e viscoso. Essas características facilitam a formação de coágulos, que servem como barreiras e entopem o vaso sanguíneo.
O AVC e seus sinais de alerta
Os sintomas de um AVC podem ser facilmente reconhecidos — e a rapidez na resposta faz toda a diferença: a cada minuto em que o AVC isquêmico não é tratado, por exemplo, a pessoa perde 1,9 milhão de neurônios. Entre os sinais estão dormência em um dos lados do corpo, dificuldade para falar, visão turva, perda de equilíbrio ou coordenação, dor de cabeça súbita e muito intensa, acompanhada ou não de náuseas e vômitos.
Entre os sinais de alerta mais comuns estão fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental, alteração da fala ou compreensão; alteração na visão, no equilíbrio, na coordenação, no andar, tontura e dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente. A identificação precoce dos sintomas de AVC e o tratamento médico imediato em um Centro de AVC intensifica consideravelmente a recuperação”, ressalta Sheila.
Por isso, atente-se aos sinais de um possível AVC. Caso identifique alguns desses sintomas, encaminhe o paciente imediatamente para o hospital mais próximo. Os principais sinais de alerta são perda de equilíbrio ou tontura, mudança repentina na visão em um ou nos dois olhos, dormência ou “queda” de um dos lados da face, fraqueza nos braços, dificuldade de fala ou fala arrastada e dor de cabeça repentina e intensa sem motivação aparente.
Para testar os sinais de alerta, os especialistas recomendam observar:
- SORRISO: Sorria e observe se um dos lados da boca ou do rosto está torto, caído ou nem mesmo reage a estímulos.
- ABRAÇO: Levante os dois braços como em um abraço. Veja se um dos braços está sem força, sem sensibilidade e não consegue se sustentar.
- MÚSICA: Repita uma frase simples como uma música. A fala está distorcida, enrolada ou atrapalhada? Não consegue falar ou é difícil entender o que se diz?
O mais importante: não perca tempo esperando por uma melhora espontânea, ligue urgente para o serviço móvel de emergência 192 e leve a pessoa para um pronto-socorro imediatamente e anuncie que tem uma suspeita de AVC. E lembre-se: apenas um desses sinais já é o suficiente.
O socorro ágil, imediato, evita o comprometimento mais grave que pode deixar sequelas permanentes, como redução de movimentos, perda de memória, prejuízo à fala e diminui drasticamente o risco de morte”, conclui a especialista.
Ao suspeitar que uma pessoa esteja tendo um AVC, peça para ela sorria e veja se um lado do rosto não mexe. Verifique também se a pessoa consegue elevar os dois braços como se fosse abraçar, ou se um membro não se move e se apresenta fala enrolada. Ao perceber algo errado, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU192) precisa ser imediatamente acionado.
Com Assessorias