Um estudo da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) destaca que apenas uma entre duas mulheres com câncer de mama diagnosticado recebe tratamento no país. A conclusão foi tomada a partir de dados do DataSUS e considerando a Lei dos 60 Dias (Lei nº 12.732/2012), em vigor em todo o território nacional, que estabelece o período máximo de 60 dias para o início do tratamento de qualquer tipo de câncer, após a confirmação do diagnóstico.

O estudo inédito sobre o rastreamento do câncer de mama no Brasil na última década, realizado pela SBM, em conjunto com o Centro Avançado de Diagnóstico de Doenças da Mama (CORA) da Universidade Federal de Goiás,  revela que entre mulheres com 40 a 49 anos, faixa etária para a qual a SBM recomenda o início do rastreamento mamográfico, a média de exames realizados chegou a 22% em uma década. No mesmo período analisado, 54% dos casos diagnosticados são dos estágios III e IV, os mais avançados da doença.

O estudo “Disparidades no rastreamento do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS): Um alerta para a necessidade de mudança nas políticas públicas” também traz dados sobre mulheres de 50 a 69 anos, faixa que o Ministério da Saúde prioriza para a realização da mamografia. Neste grupo, 33% estão incluídas no rastreamento mamográfico, com 48% dos diagnósticos nos estágios III e IV. No grupo de mulheres com 70 anos ou mais, o total de mamografias realizadas chega a 10%, com 49% de casos avançados da doença.

O levantamento ganhou destaque na última reunião anual da ASCO (American Society of Clinical Oncology), encontro promovido por uma das mais respeitadas organizações médicas internacionais a orientar decisões no tratamento de pacientes com câncer em diversas partes do mundo, realizado em Chicago (Illinois, EUA), entre 30 de maio e 3 de junho.

Autor da pesquisa, juntamente com Aline Bandeira de Melo Rocha, Leonardo Soares e Nilceana Freitas, o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM, apresentou os resultados da investigação que apontam para a necessidade urgente de mudanças de estratégia por parte do Ministério da Saúde no rastreamento mamográfico e no tratamento da doença no País.

Os pesquisadores analisaram dados extraídos de bancos de dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS) no período de 2013 a 2022. O levantamento considerou ainda o rastreamento mamográfico por regiões do País. “Nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, observamos uma cobertura mais baixa, o que revela disparidades regionais a serem corrigidas”, enfatiza o mastologista.

Ruffo Freitas-Junior ressalta que, embora os dados reflitam a necessidade de aumentar a cobertura do rastreamento do câncer de mama para além da faixa etária de 50 a 69 anos, as políticas públicas do Ministério da Saúde não sofreram alterações na última década.

Mais que nunca, é preciso garantir o acesso equitativo ao diagnóstico precoce e ao tratamento oportuno, especialmente nas áreas menos favorecidas do Brasil”, conclui o especialista da Sociedade Brasileira de Mastologia.

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Lei dos 30 Dias para reduzir diagnóstico tardio

Tão importante quanto iniciar mais cedo o rastreamento da doença, considera fundamental fazer valer a Lei nº 13.896/2019, conhecida como Lei dos 30 Dias, em vigor em todo o território nacional, que preconiza o período máximo para o início do tratamento após a confirmação do diagnóstico de câncer de mama, o paciente não espere mais que um mês para ter a confirmação do diagnóstico, aumentando as chances de cura da doença.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, da mamografia alterada até a biópsia, o tempo de diagnóstico supera os 30 dias previstos pela Lei nº 13.896/2019. A região Norte lidera com uma espera de 56 dias, seguida por Nordeste (41), Centro-Oeste (39), Sul (35) e Sudeste (31). No Estado de São Paulo são 26 dias para diagnosticar a doença.

Os dados sobre tempo entre a biópsia e o início de tratamento são ainda mais alarmantes. No Norte, a espera é de 196 dias, com destaque também para o Centro-Oeste (182), Sul (177), Sudeste (176) e Nordeste (162). Especificamente no Estado de São Paulo, a morosidade chega a 164 dias.

Embora existam legislações específicas que favorecem o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, temos nos deparado com panoramas preocupantes em todo o País”, afirma o mastologista Carlos Ruiz, assessor especial da presidência da SBM.

Diante do aumento crescente dos casos de câncer de mama no Brasil, sobretudo em mulheres jovens, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) tem reforçado a necessidade de mudanças de estratégia por parte do Ministério da Saúde no rastreamento mamográfico e no tratamento do câncer de mama no país.

O câncer de mama pode levar dez anos para ter um centímetro. Mas pode dobrar de tamanho em seis meses”, ressalta Carlos Ruiz. “Isso tudo para dizer que uma vez diagnosticado, é preciso ter muita rapidez no tratamento, pois as chances de agravamento da doença aumentam dia após dia. Quanto mais grave, mais caro é o tratamento e menores são as chances de cura”, diz o assessor especial da SBM.

Agenda Positiva

Fórum reúne pacientes e ONGs para discutir tratamento humanizado

Nos dias 25 a 28 de junho, o Rio de Janeiro será palco do 27º Congresso Brasileiro de Mastologia e do Simpósio Internacional de Mastologia (SIM RIO), que reunirá grandes nomes da área para discutir os principais avanços e desafios no cuidado com a saúde das mamas.

Um destaque da programação no dia 28 é o Fórum “Pacientes e ONGs: Um Olhar para Todos”, organizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional RJ (SBM-RJ), que propõe um novo olhar sobre o cuidado em saúde mamária, com foco na escuta ativa, empatia e inclusão.

Pela primeira vez, o protagonismo será de pacientes e ONGs, com temas voltados para mulheres negras, pessoas trans, gestantes, idosas e cuidadores — ampliando o debate sobre as realidades enfrentadas no tratamento do câncer de mama no Brasil”, diz Maria Julia Calas, presidente da SBM-RJ e do Congresso, ao falar da importância para a humanização da mastologia e os impactos esperados na formação médica e em políticas públicas de saúde.

Com Assessorias

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