O câncer colorretal, que engloba tumores do intestino grosso e do reto, é o quarto tipo mais frequente no Brasil, atrás apenas dos cânceres de pele, de mama e de próstata. No Brasil, as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam aproximadamente 704 mil novos casos de câncer a cada ano entre 2023 e 2025.
Ao todo o país deve registrar o câncer de cólon e reto representa 6,5% dos casos. Ao todo, são registrados 44 mil casos anuais da doença, o que corresponde a uma incidência de 21,10 casos por 100 mil habitantes – 70% dos diagnósticos estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste.
Entre os tipos mais incidentes no país, segundo o Inca, estão:
- Câncer de pele não melanoma, em 31,3% dos casos.
- Câncer de mama feminina, em 10,5% dos casos, com previsão de 74 mil novos diagnósticos anuais.
- Câncer de próstata, 10,2% dos casos, com estimativa de 72 mil novos diagnósticos por ano.
- Câncer de cólon e reto, 6,5% dos casos.
- Câncer de pulmão, 4,6% dos casos.
- Câncer de estômago, 3,1% dos casos.
Esse tipo de neoplasia surge a partir da multiplicação desordenada das células do cólon e do reto, o que gera o surgimento de pólipos (pequenas massas que crescem na parede do intestino) que, por sua vez, podem evoluir para o câncer.
Na maioria dos casos, o câncer de intestino grosso apresenta um prognóstico positivo e pode ser tratado quando diagnosticado nos estágios iniciais. Mas, para isso, é importante conhecer os fatores de risco e estar atento aos sintomas para que as medidas de prevenção sejam efetivas”, explica Ricardo Guilherme Viebig, diretor técnico do Núcleo de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (MoDiNe) do hospital IGESP.
Assim como grande parte dos cânceres, o colorretal não tem uma causa definida, e os fatores genéticos são indicadores – ou seja, caso o indivíduo tenha histórico familiar, deve ficar atento às chances de desenvolver a doença. Além da alimentação, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a falta de atividades físicas, a obesidade e a falta de cuidado com a saúde bucal são fatores de risco que devem ser considerados.
Também há relação com outros problemas intestinais que o paciente pode ter apresentado, como pólipos e lesões na parede do intestino, ou doenças inflamatórias intestinais. Pessoas com esse histórico clínico têm mais chances de desenvolver esse câncer.
Sintomas se desenvolvem de forma silenciosa
Em grande parte dos casos, o câncer colorretal se desenvolve de forma silenciosa, sem que o paciente apresente quaisquer sinais no estágio inicial. Porém, quando surgem, os sintomas podem variar conforme o tamanho e a região afetada, alterando o funcionamento do intestino.
Alteração do hábito intestinal, sangue nas fezes e emagrecimento sem explicação, são sinais de alerta e devem ser relatados ao médico. Os pacientes podem perceber alteração da aparência das fezes, anemia, fadiga e cansaço, diarreia ou constipação, inchaço ou presença de massa no abdômen, cólica, dor ou desconforto abdominal e sensação de que as fezes não foram eliminadas mesmo após a evacuação.
No entanto, o primeiro sinal de câncer no reto costuma aparecer quando a doença já está em estágios mais avançados. Por isso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) recomenda a realização da colonoscopia para homens e mulheres a partir dos 50 anos. Em casos de histórico de câncer na família, a idade passa a ser os 40 anos.
Diagnóstico e tratamento
A maneira mais eficaz apontada como método de diagnóstico do câncer colorretal é a pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia. O médico do Hospital IGESP pontua que esses exames são capazes de identificar e remover os pólipos antes mesmo de se tornarem cancerígenos.
A colonoscopia é muito eficaz no combate e na prevenção, isso porque é capaz de identificar precocemente a incidência do câncer, o que é de extrema importância para a cura. Ela detecta e remove os pólipos sem precisar de cirurgia e, se houver tumores pequenos, também são removidos, muitas vezes, sem complicações”, explica.
O especialista ressalta que, quando realizada regularmente, a colonoscopia contribui significativamente para a redução da mortalidade. “Costumava-se indicar que a primeira colonoscopia fosse realizada assim que a pessoa completasse 55 anos. Mas, nos últimos anos, a incidência da doença em pessoas com idades de 20 a 39 vem crescendo entre 1 e 2,4%. Portanto, o ideal é que o exame seja realizado já a partir dos 45 anos”, alerta.
Quando o câncer é detectado em estágio inicial, tem grande chance de ser tratado com sucesso, confirmando a importância do rastreamento e detecção precoce”, completa.
Bons hábitos podem ajudar a prevenir a doença
O câncer não impacta apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional dos pacientes. A alta incidência do câncer colorretal e casos como o de Preta Gil chamam a atenção para a necessidade de conscientização sobre a doença. O Inca destaca que o seu desenvolvimento está diretamente ligado aos hábitos durante a vida.
Sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e obesidade são indicados entre os fatores que aumentam os riscos da doença, assim como o consumo excessivo de carne vermelha processada (mais de 500 gramas de carne cozida por semana), e processados, como bacon, salsicha, mortadela e presunto.
Especialistas reforçam que a adoção de hábitos saudáveis pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Manter uma alimentação balanceada e praticar atividade física diariamente ou na maior parte da semana pode ajudar na sua prevenção. O Inca recomenda optar por alimentos minimamente processados e in natura, como verduras, frutas, legumes, grãos e cereais integrais.
Dessa forma, a pessoa tem uma alimentação rica em fibras, que promove o bom funcionamento do intestino e ainda ajuda no controle do peso corporal. Não fumar e não se expor ao tabagismo também estão entre as recomendações.
Segundo Viebig, a alimentação saudável é uma excelente maneira de prevenção. “O consumo de alimentos ricos em fibras ajuda a cuidar da saúde intestinal e auxilia na manutenção da flora. Logo, uma dieta pobre em fibras, associada ao consumo excessivo de industrializados e carne vermelha, especialmente gordurosas, é considerada propulsora desse tipo de câncer”, ressalta.
Mitos e verdades sobre o câncer colorretal
O caso de Preta Gil ressalta a importância do diagnóstico precoce, essencial para aumentar as chances de cura e reforça a necessidade de hábitos saudáveis e exames preventivos. O oncologista clínico Gabriel Zanardo, da Oncomed-MT, esclarece os principais mitos e verdades sobre a doença:
Alimentação adequada pode ajudar a prevenir o câncer de intestino
Verdade. Uma alimentação saudável tem papel essencial na prevenção do câncer colorretal. O consumo de fibras, presentes em frutas, vegetais, cereais integrais e leguminosas, ajuda a regular o funcionamento intestinal e reduzir a exposição da mucosa do intestino a substâncias carcinogênicas. Além disso, é fundamental evitar alimentos ultraprocessados, embutidos e carnes processadas. A moderação no consumo de álcool e o não tabagismo também são fatores importantes para diminuir as chances de desenvolver o câncer de intestino.
O câncer de intestino pode ser hereditário
Verdade. Apenas 10% dos casos de câncer colorretal são de origem hereditária. Embora a maioria dos cânceres colorretais não tenha relação com fatores hereditários, algumas síndromes aumentam consideravelmente o risco da doença. Dentre elas, a Síndrome de Lynch é a mais conhecida, sendo associada a mutações genéticas que predispõem os pacientes ao desenvolvimento de câncer intestinal. Pessoas com histórico familiar de câncer colorretal devem procurar orientação médica para um acompanhamento mais rigoroso, que inclua rastreamento precoce e exames genéticos.
A colonoscopia é um exame muito doloroso
Mito. O exame é realizado sob sedação, garantindo que o paciente não sinta dor ou desconforto durante o procedimento. O máximo que pode ocorrer após a colonoscopia é um leve inchaço abdominal devido ao ar inserido para a visualização do intestino, mas essa sensação passa rapidamente. O exame é considerado seguro e essencial para a prevenção e diagnóstico precoce.
Fazer colonoscopia regularmente pode prevenir o câncer de intestino
Verdade. A colonoscopia é uma ferramenta fundamental na detecção precoce e na prevenção da doença. Durante o exame, é possível identificar pólipos intestinais – formações benignas que podem evoluir para câncer ao longo do tempo – e removê-los antes que se tornem malignos. A recomendação atual é que pessoas sem fatores de risco comecem a fazer a colonoscopia a partir dos 45 anos, a cada cinco anos.
O uso de aspirina pode ajudar a prevenir o câncer de intestino
Verdade, mas com ressalvas. Alguns estudos em fases iniciais indicam que o uso contínuo de aspirina em baixas doses pode ter um efeito protetor contra o câncer colorretal, especialmente para pessoas com predisposição genética. O medicamento age reduzindo inflamações, o que pode inibir as formações de pólipos. No entanto, seu uso indiscriminado não é recomendado e não pode ser utilizada com essa finalidade, pois a aspirina pode causar efeitos colaterais graves, como sangramentos gastrointestinais e perfuração do estômago. O uso da aspirina como estratégia de prevenção deve ser avaliado por um médico, que considerará os riscos e benefícios para cada paciente.
Apenas quem tem sintomas deve fazer exames preventivos
Mito. O câncer colorretal é uma doença silenciosa em suas fases iniciais, ou seja, pode não apresentar sintomas. Quando os sinais aparecem – como sangue nas fezes, alteração persistente do hábito intestinal (diarreia ou prisão de ventre), perda de peso sem explicação e dores abdominais, a doença pode estar mais avançada. Por isso, a realização de exames preventivos, como a colonoscopia, é essencial para o diagnóstico precoce do câncer. A recomendação é que todas as pessoas, mesmo sem sintomas, realizem o exame a cada 5 anos. Já aqueles que apresentarem sintomas persistentes devem fazer a colonoscopia, independentemente da idade.
Com Assessorias