Você já parou para pensar quanto tempo por dia você passa consumindo conteúdo inútil nas redes sociais? Cuidado, pois a sua mente pode estar apodrecendo. O consumo cada vez mais excessivo de conteúdos sem qualquer utilidade nos meios digitais podem representar uma bomba para o seu cérebro. O termo brain rot” foi escolhido nesta segunda-feira (2 de dezembro) como a palavra do ano de 2024 no Oxford English Dictionary.
Todos os anos, o dicionário produzido por estudiosos da universidade britânica homônima, a Oxford University Press, escolhe a palavra que melhor representa o período. O termo diz respeito ao esgotamento mental em função do consumo excessivo de conteúdo superficial e pouco desafiador. Em tradução literal, significa podridão cerebral, resultado do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade e que impacta diretamente a saúde mental. Houve um aumento no uso da expressão de 230% entre 2023 e 2024 nas redes sociais.
O termo de 2024, segundo a própria publicação, significa “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente como resultado do consumo excessivo de material (principalmente conteúdos online) considerado trivial ou pouco desafiador”. Segundo a publicação, o sentimento não está restrito ao consumo de conteúdo online, embora na sociedade contemporânea apareça sobretudo no uso irrestrito das redes sociais.
De acordo com especialistas, esse tipo de deterioração é real e pode prejudicar o engajamento em atividades necessárias no dia a dia, como o trabalho ou os estudos. Para Ricardo Assmé, psiquiatra e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), a capacidade de uma pessoa agir, de uma pessoa analisar as coisas, de uma pessoa se socializar, ela vai se degradando, porque na inércia daquele comportamento vão se perdendo alguns hábitos e alguns aprendizados antigos dos comportamentos.
Então, você pode perceber, por exemplo, que crianças que começaram a estudar a partir de 2010, 2011, 2012, elas já têm um sistema de aprendizado onde tudo tem que ser mais rápido. A gente percebe pelos próprios alunos, parece que tudo tem que ser rápido, ele não pode abrir um livro mais pesado, porque aquele livro é extremamente desprazeroso. Hoje o prazer passa a ser momentâneo, passa a ser instantâneo. Então é essa mudança de prazer que os pesquisadores têm correlacionado com a mudança na liberação da dopamina”, afirma o especialista.
Segundo ele, numa tela rápida de um minuto, a dopamina é liberada em pulsos contínuos e ela se gasta muito rapidamente. “Ao contrário de um dia de trabalho ou de aprendizado, onde a dopamina vai se liberando com menos pulsos, ela vai sendo mais plana, mais gradativa, e mesmo assim o aprender é prazeroso, a construção do aprendizado é prazerosa. E por isso a gente vê pessoas hoje com preguiça de pensar”, compara.
“Brainrot”: como se desintoxicar do lixo mental
Se você passa boa parte do seu tempo consumindo conteúdos “fúteis” nas redes sociais, saiba que talvez você esteja sofrendo com uma condição chamada “Brainrot”. Esse termo, que significa algo parecido com “podridão cerebral”, surgiu pela primeira vez em 2007. E o que foi criado para ser uma brincadeira, acabou se tornando um distúrbio que virou tema de pesquisadores.
De acordo com a especialista em comportamento humano, Gisele Hedler, desde cedo, as crianças estão suscetíveis a sofrerem com o bombardeio das mídias sociais, e por isso é preciso adotar hábitos saudáveis e equilibrados para esquivar-se deste problema.
O “Brainrot” refere-se à ideia de que consumir grandes quantidades de conteúdo considerado “fútil” ou de baixa qualidade pode prejudicar a capacidade mental, resultando em uma espécie de “podridão cerebral”, comenta Hedler. “Isso pode incluir o consumo excessivo de redes sociais, programas de TV de baixa qualidade, fofocas, memes e outros tipos de entretenimento que não oferecem valor educacional ou cultural significativo”, afirma.
Esse tipo de consumo pode levar a uma diminuição da capacidade de concentração, pensamento crítico e criatividade. E torna-se ainda mais preocupante em uma sociedade onde crianças, cada vez mais novas, tem acesso ilimitado à internet na palma das mãos.
Dicas para monitor os filhos – e você mesmo – nas redes sociais
Por isso, a especialista em comportamento humano, explica que para se livrar do brainrot, é preciso adotar hábitos mais saudáveis e equilibrados no uso da mídia e claro, orienta aos pais que monitorem seus filhos no uso de dispositivos eletrônicos. Confira algumas dicas.
- Estabeleça limites de tempo
Gisele diz que o primeiro passo para fazer um detox de redes sociais, televisão e outros conteúdos considerados fúteis e estabelecer um limite de tempo. Ela sugere também utilizar aplicativos de monitoramento de tempo de tela para ajudar a manter esses limites.
- Priorize conteúdos de qualidade
“Substitua parte do tempo gasto com conteúdos fúteis por materiais mais enriquecedores, como livros, documentários, podcasts educativos e artigos de interesse. Além disso, escolha programas de TV e filmes que tenham valor cultural, educativo ou artístico”, pontua a especialista.
- Desenvolva novos hobbies
Encontre novas atividades que você goste e que possam substituir o tempo gasto em conteúdos de baixa qualidade, como esportes, arte, como dança, pintura, música, ou aprenda uma nova habilidade.
- Pratique mindfulness e meditação
Segundo Gisele, praticar mindfulness e meditação pode ajudar a melhorar a capacidade de concentração e reduzir o desejo por distrações fúteis. Existem aplicativos que podem ser úteis para começar essa trajetória de meditação.
- Crie um ambiente sem distrações
“Tente reduzir as distrações ao seu redor. Por exemplo, enquanto você trabalha ou estuda, deixe o celular em outro cômodo e desative notificações desnecessárias”.
- Tenha rotinas diárias
Por fim, Gisele orienta criar uma rotina diária que inclua tempo para trabalho, estudo, exercícios, socialização e relaxamento. “Planejar atividades específicas para evitar cair na tentação de consumir conteúdos fúteis por inércia é uma boa dica”, finaliza.
Adriana Satico Ferraz, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Belas Artes, também traz 5 dicas:
- Monitorar o tempo dedicado às redes sociais e sites de entretenimento oferece uma visão clara sobre os tipos de conteúdo consumidos. A análise da navegação é fundamental para gerenciar o tempo gasto em plataformas que disseminam informações triviais por meio de dispositivos móveis, como os aparelhos smartphones.
- É importante identificar padrões de repetição no conteúdo consumido, pois a constante exposição a temas superficiais, como memes ou vídeos virais, pode limitar o desenvolvimento de novas perspectivas e a aquisição de conhecimentos significativos, que favoreçam o crescimento intelectual.
- Avaliar criticamente a qualidade dos conteúdos consumidos é essencial para entender o potencial de aprendizado oferecido por eles. Nessa análise, é necessário ponderar se esses materiais contribuem para o aumento de conhecimento ou para o bem-estar, ou se são frequentemente percebidos como supérfluos.
- Com base nas metas pessoais e profissionais, é importante que a pessoa busque de forma proativa plataformas digitais que ofereçam conteúdos alinhados aos seus objetivos, como a aquisição de novas habilidades ou a construção de conexões com pessoas ou grupos compatíveis com as suas expectativas.
- O consumo de conteúdos audiovisuais curtos, como cortes de vídeos ou resumos de notícias, deve ser complementado com fontes que promovam um aprofundamento nos temas de interesse. Recomenda-se diversificar o acesso a materiais mais consistentes, como documentários, livros, artigos científicos e palestras de especialistas reconhecidos, tanto no campo acadêmico quanto profissional.
Com Assessorias